Em miúdo, nas ruas de Cascais, Paulo Ferreira (ou Paulinho para os amigos) decidiu ser futebolista. Só muito depois disso passou a ser lateral-direito, e foi nessa posição que atingiu o topo da Europa. Duas Ligas dos Campeões, uma Taça UEFA, uma Liga Europa, títulos nacionais em Portugal e Inglaterra... uma carreira recheada de troféus.
Ao longo de 16 temporadas como profissional, divididas entre Portugal e Inglaterra de 1998 a 2013, Paulo Ferreira deixou sempre a imagem da técnica acima da média (em particular para um lateral), de um futebol limpo (ver cartões foi sempre coisa rara) e de uma dedicação em campo e fora dele que o fez ser admirado no Estádio do Dragão e em Stamford Bridge até aos dias de hoje.
O salto seguinte, ainda em criança, foi para o Cascais, onde a técnica apurada sempre fez a diferença, mesmo a jogar em pelados. Jogou a 10, a extremo, em todo o lado em que pudesse desequilibrar o adversário, e depressa se viu que o Paulinho não andava ali a brincar. Por lá passou vários anos até que o treinador José Santos fez questão de o levar para os juniores do Estoril Praia, o clube em que se viria a tornar profissional de futebol. Nos canarinhos até ponta-de-lança foi, mas foi no meio-campo que conquistou o direito a ser profissional. A estreia no futebol a doer foi num jogo isolado no fim de 1997/98, a época seguinte chegou já aos 15 jogos pela equipa principal do Estoril, que andava pela Segunda Liga.
A temporada 1999/00 foi mais um marco na carreira de Paulo Ferreira, pelos passos em frente que deu mas também por uma inesperada pausa: a jogar na posição 8, era já habitual titular no Estoril e começou a ser chamado às seleções jovens de Portugal... mas foi também nesta época que foi chamado à tropa. Seis meses a cumprir serviço militar quebraram a evolução, mas nem isso impediu o Paulinho de continuar a subir a pulso e de chegar ao Vitória FC pela mão de Rui Águas.
Tinha o experiente Fernando Mendes no lado oposto da defesa, destacava-se no lado direito e ajudou a equipa de Setúbal a subir de volta à Primeira Liga. No verão chegou uma chamada do Sporting ao Bonfim, mas os leões não se entenderam com os sadinos a respeito de dinheiro e o salto para um dos grandes ficou em águas de bacalhau... até um ano depois, altura em que o FC Porto pagou dois milhões de euros por um jovem lateral-direito que se destacava pelo Vitória FC no primeiro escalão. Malas feitas e estrada fora rumo à Invicta, onde chegava também um tal José Mourinho.
A missão não era fácil: Paulo Ferreira ia para substituir Ibarra, concorrendo por um lugar no onze com o bem experiente Carlos Secretário. Só que o estágio de pré-época nesse verão de 2002 deu-lhe logo o lugar à direita que nunca mais largou nos dois anos em que foi dragão, apesar da juventude. Plenamente integrado num grupo liderado por jogadores como Jorge Costa ou Vítor Baía, foi sempre a primeira opção de Mourinho naquela posição, e percebia-se bem porquê: trabalho defensivo limpo e pleno entendimento com Capucho no flanco direito, numa época em que os dragões conquistaram com brilhantismo a Liga, a Taça de Portugal e, acima de tudo, a Taça UEFA. E na prova europeia Paulo Ferreira até fez de 6 na segunda mão da meia-final (contra a Lazio em Roma) e em grande parte da final de Sevilha com o Celtic, por ausências forçadas de Costinha.
E que boa conta dava Paulo Ferreira do recado... incontestado na posição ao longo de mais um campeonato nacional dominado pelo FC Porto, foi ainda fulcral na caminhada até Gelsenkirchen. Ainda receou falhar a final quando desmaiou num treino antes do encontro com o Mónaco (Ricardo Fernandes não se conteve a bater um livre e acertou-lhe em cheio no peito, deixando-o K.O.), mas foi mesmo ao jogo decisivo e disse presente: anulou o perigoso Jérôme Rothen e até foi dos pés dele que saiu a bolo que resultaria no golo inaugural, o de Carlos Alberto, a abrir caminho para o triunfo inequívoco por 3x0.
Dois anos de Invicta chegavam ao fim com a cereja no topo do bolo e Paulo Ferreira teve direito a uma transferência milionária para o Chelsea (custou 20 milhões de euros), acompanhando José Mourinho e Ricardo Carvalho até Londres. E de lá não mais quis sair...
A conquista europeia e a transferência gorda tinham dado a Paulo Ferreira um estatuto inequívoco no futebol nacional e Luiz Felipe Scolari não tinha hipótese que não chamá-lo para o Euro2004, a primeira grande prova de Paulo Ferreira na seleção nacional. Deu-lhe até a titularidade no jogo de estreia com a Grécia, mas o dia no Dragão correu tão mal que o selecionador decidiu apostar em Miguel nos jogos seguintes, só chamando Paulo Ferreira de volta quando o jogador do Benfica saiu lesionado na final da Luz, contra o mesmo adversário (e com o mesmo desfecho). A nível de seleção nacional, Paulo Ferreira esteve ainda no Mundial2006 (voltou a ser suplente de Miguel) foi titular em quatro jogos do Euro2008 (no lado esquerdo da defesa) e foi chamado ao Mundial2010, no qual fez apenas um jogo.
Também no Chelsea não teve sempre direito a titularidade, e em Stamford Bridge teve um trajeto quase sempre decrescente em termos de utilização, mas do primeiro ao último jogo Paulo Ferreira demonstrou o profissionalismo e dedicação ao clube com que conquistou os adeptos blues. Também lá ganhou tudo, desde a Premier League até à Liga dos Campeões e Liga Europa, e foi lá que mais tempo passou enquanto futebolista profissional, num total de nove temporadas.
Paulo Ferreira perdia protagonismo na equipa principal e os anos iam passando, mas o lateral não só se mantinha no plantel como até renovava contrato e continuava a ser admirado pelos adeptos: porquê? Pela dedicação, por nunca protestar, mesmo nas muitas vezes em que perdeu o lugar (até para médios como Lassana Diarra ou Essien). Passadas as tais nove temporadas como jogador dos blues, Paulo Ferreira anunciou a reforma, mas o Chelsea quis mantê-lo nos quadros e encarregou-o de acompanhar os jogadores emprestados pelo clube londrino. Uma nova fase, na mesma casa que o acolheu durante tantos anos.