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      Costinha: O Ministro

      Texto por Gaspar Castro
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      José Mourinho corre, junto à linha lateral, e salta de punho erguido a socar para longe os impossíveis. Estávamos no último minuto de um jogo em Old Trafford, os adeptos portistas por todo o lado saltavam das cadeiras, sofás, bancos, ao mesmo tempo que o Special One. O grande responsável por esse momento? Francisco José Rodrigues da Costa. Costinha, o Ministro.
       
      Costinha foi um caso atípico no futebol português: surgiu no Mónaco depois de vários anos na escuridão das divisões inferiores portuguesas, e foi já depois de ganhar algum nome lá fora e chegar à seleção nacional que regressou ao país de origem. Por cá, essa tal Liga dos Campeões de 2003/04 com a camisola do FC Porto fez com que a imagem do número 6 nas suas costas se tornasse imortal para os lados das Antas.

      Do quase nada até aos luxos monegascos

      Fã de moda, de estar a par do que se passa no mundo, de línguas estrangeiras, de bons carros. Um bon vivant que facilmente se embrenha na elite da sociedade e que no Mónaco até privava com o Príncipe Alberto, o grande responsável pela tal alcunha - fora dos relvados, o príncipe via-o sempre com os seus bons fatos, todo aperaltado, e decidiu tratá-lo por Ministro.

      Até poder alimentar esse vício do vestir bem e viver bem, Costinha teve de enfrentar duras batalhas. Nasceu no seio de uma família pobre em Lisboa, o pai era motorista, a mãe governanta numa quinta em que o pequeno Francisco cresceu, numa pequena casa anexa. Sem amigos por perto, divertia-se sozinho com uma bola e rapidamente percebeu que o futebol era a sua grande paixão. Estudava num colégio de freiras, o pai queria vê-lo fazer estudos universitários, mas o apelo da bola era demasiado forte.

      Costinha foi para o FC Porto depois de jogar no Mónaco @Getty / MIGUEL RIOPA
      Costinha não fechava os olhos ao restante mundo - sempre explorou, por exemplo, a especial apetência para as línguas -, mas assim que pôde alistou-se no Oriental e foi por ali, em Marvila, que fez todo o trajeto até ao futebol sénior. À terceira época a doer, mudou-se para a Madeira. Primeiro no Machico, depois no Nacional, já mostrava aquilo que viria a ser, embora a uma escala bem reduzida. O Nacional estava então na II Divisão B, longe dos holofotes. As boas prestações valeram o interesse do Leça, então do segundo escalão, mas o clube nortenho não teve dinheiro para pagar uma indemnização de alguns milhares de contos.

      Estávamos em 1997 e Costinha já tinha o apoio de um tal Jorge Mendes, decisivo para o que viria a ser a carreira do médio defensivo. Ambos meteram na cabeça que era a altura de descobrir no que o futuro de Costinha poderia dar e meteram-se num carro pela Europa fora. Pararam em Valência e essa paragem pareceu que seria decisiva: Costinha chegou a assinar contrato com o clube espanhol, mas foi-lhe proposto um empréstimo a outro clube e o médio não achou graça à ideia. Rescindiu, sem se ter estreado. A road trip continuou e parou no idílico Mónaco, onde a paisagem e os luxos agarraram a atenção do médio, que por sua vez agarrou a atenção do Mónaco (o clube).

      Após três dias à experiência, teve direito a um contrato de quatro temporadas. Começou aí o percurso ascendente que lhe trouxe a afirmação desportiva e a folga económica, além de o ter levado até à seleção nacional. Era visto como um exemplo no plantel monegasco, que tinha nomes como Fabien Barthez, misturava-se com as caras da alta sociedade, estava nas suas sete quintas. Ao mesmo tempo, soube manter a cabeça para singrar no futebol e logo na primeira época que lá passou marcou um golo à Juventus em plena meia-final da Liga dos Campeões, insuficiente para chegar à final. O Mónaco lá chegaria seis anos depois, mas curiosamente com Costinha do outro lado da barricada. Passou mais três épocas no clube, com um total de 122 jogos e seis golos, até decidir que era altura de mudar de ares.

      Regresso pela porta grande

      Costinha mantinha o sonho de jogar na 1ª divisão portuguesa, não o tinha esquecido. Já se tinha tornado célebre em Portugal, por fim, ou não tivesse ele marcado um golo solitário contra a Roménia no Euro2000, por exemplo, e estado em campo durante todo o jogo contra a França, o célebre jogo da mão de Abel Xavier. E quanto chegou o convite do FC Porto, em 2001, o médio de então 26 anos viu a oportunidade para o concretizar. Voltou, instalou-se no norte do país pela primeira vez (ainda que desde muito cedo tenha sido presença frequente nos Arcos de Valdevez, terra de origem da mãe). 

      Costinha venceu a Taça UEFA em 2002/03 @Getty / Stu Forster
      Na Invicta, assumiu rapidamente o lugar no meio-campo defensivo da equipa treinada por Octávio Machado, ainda que a estreia não tenha corrido bem (foi expulso, contra o Sporting). Já andava perto de Deco no terreno, mas foi quando José Mourinho chegou que o meio-campo portista subiu para outro nível, Costinha incluído. 2002/03 trouxe-lhe o primeiro título nacional, a única Taça de Portugal e a Taça UEFA, conquistada em Sevilha. 2003/04 foi uma temporada como dificilmente poderia imaginar.

      Costinha celebra a conquista da Liga dos Campeões de 2003/04 @Getty / Mike Egerton - EMPICS
      O trinco já mostrava então uma apetência pouco frequente para marcar golos, ainda que essa não fosse a sua principal função (era nas tarefas defensivas que mais se destacava e que mais lhe exigiam). Marcar fora de casa, porém, parecia ser uma especialidade, e quando Benni McCarthy bateu um livre que Tim Howard defendeu o médio apareceu no sítio certo para lançar o FC Porto para os quartos-de-final da Liga dos Campeões que veio a conquistar. Estar ali, no sítio certo, no momento certo, fez daquele momento o mais marcante da carreira do médio defensivo, um ponto nevrálgico do losango que tanto ajudou o FC Porto a ser campeão europeu. Uns meses depois, venceu ainda a Taça Intercontinental, na última época pelos dragões.

      Perto da glória na seleção

      Costinha após ser expulso na Batalha de Nuremberga @Getty / EMPICS Sport - EMPICS
      Como outros ilustres portugueses, Costinha ficou-se pelas portas da glória nas grandes competições de seleções. Já tinha ido até às meias-finais do Euro2000, foi titular indiscutível no grupo que foi até à final do Euro2004 e chorou a derrota contra a Grécia. A última grande competição foi o Mundial2006, em que foi expulso num dos jogos - a célebre Batalha de Nuremberga contra a Holanda - mas esteve em campo durante um total de cinco. O 4º lugar foi já um belo prémio de compensação para os lusos.

      A nível de clubes, depois dessa Liga dos Campeões conquistada em Gelsenkirchen o médio não conseguiu replicar o sucesso ou dar um salto convincente para um patamar acima, talvez pela escolha que tomou: em 2005, rumou a um Dínamo Moscovo que abria os cordões à bolsa para ser candidato a troféus na Rússia. Costinha foi encher os bolsos, acabou por não estar por lá muito tempo.

      Costinha ao serviço do Atlético Madrid @Getty / Phil Cole
      A época de 2006/07, quando o Ministro já tinha os seus 32 anos, permitiu-lhe ainda conseguir algo com que muitos sonham: jogar na Liga espanhola, num clube como o Atlético Madrid. Foi apenas uma época a jogar por lá com consistência antes de ser dispensado pelo clube e ir passar os últimos anos da carreira na Atalanta, onde quase não jogou, primeiro por problemas físicos e depois por opção do clube, com quem andou durante longos períodos em discussões sobre uma eventual rescisão. Foi por lá que acabou por pendurar as botas.

      Costinha virou então treinador, além de ter já sido diretor desportivo, e já comandou quatro equipas portuguesas, com destaque para o título da Segunda Liga em 2018 no comando do Nacional da Madeira.

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