placardpt
    Inglaterra 1966

    Inglaterra 1966: A coroa para a casa do futebol

    Texto por João Pedro Silveira
    l0
    E0

    Cool Britannia 

    1966, o Futebol chegava finalmente a casa. A Inglaterra vivia uma era de expansão, tanto a nível económico como cultural. Era o tempo da Swinging London, meca da cultura Pop.

    As ruas da capital inglesa enchiam-se de adolescentes de cabelos compridos e de jovens vestindo a revolucionária mini-saia. Foi nesse ano que John Lennon afirmou que “Os Beatles eram mais conhecidos que Jesus Cristo” para horror das hierarquias do Vaticano e da direita evangélica americana.

    Eram tempos de Sexo, Drogas e Rock and Roll, e o movimento dos hippies, pela paz e contra a guerra estava ao virar da esquina.

    Mas não só a Inglaterra, o mundo inteiro dançava ao som da música dos Fab Four, mas também dos Rolling Stones, dos Beach Boys, Bob Dylan, entre outros.

    Habitués e estreantes

    Num ambiente de cosmopolitismo e modernidade chegar o tempo de a Inglaterra abrir os braços e receber o mundo para o grande evento que finalmente se realizava na pátria que tinha inventado o futebol.

    Seria também o primeiro campeonato mundial a ter honra de gravações televisivas a cores, se bem que o mundo visse os jogos a preto-e-branco, tendo de esperar quatro anos para ver a bola rolar sobre os verdes relvados do México.

    Entre os ausentes destacavam-se os suecos, os checos e os jugoslavos. Já relativamente aos estreantes, saudava-se a chegada da Coreia do Norte e de Portugal, ao convívio das grandes equipas.

    A selecção nacional estreava-se assim nos grandes palcos, escudada pelas vitórias do Benfica na Taça dos Campeões (61 e 62) e do Sporting na Taça das Taças (64). Os Magriços, como ficaram conhecidos, assentavam do meio campo para frente na fantástica equipa do Benfica (Coluna, Simões, Torres, José Augusto e Eusébio) e na sólida defesa dos leões de onde se destacava o moçambicano Hilário.

    Mas apesar dos excelentes valores Portugal não partiu para Inglaterra com grandes ambições, imbuído que estava no espírito salazarista de “pequeninos mas orgulhosos”.

    O Brasil, bicampeão mundial era o grande candidato, mas a Inglaterra a jogar em casa não escondia o objectivo de ser campeã mundial.

    Dos outros candidatos, destacavam-se os alemães e os italianos e a sempre forte selecção da U.R.S.S.

    Grupo a grupo

    O Mundial começou com um pobre e aborrecido Inglaterra - Uruguai (0-0). Enquanto no outro jogo do grupo, franceses e mexicanos empatavam a uma bola.

    A Inglaterra venceria este grupo 1, sem dificuldades depois de vencer a França e o México pelo mesmo resultado (2-0). Já o Uruguai ao vencer a França (2-1) garantiu a segunda vaga para a fase final.

    No Grupo 2 a Alemanha entrou em campo disposta a garantir a qualificação sem dificuldades e esmagou os helvéticos (5-0). No segundo jogo, um empate (0-0) com a Argentina abriu o caminho para qualificação, que foi carimbada com uma vitória sobre a Espanha (2-1).   Os alvicelestes foram segundos, vencendo espanhóis (2-1) e suíços (2-0).

    O Brasil entrou na prova vencendo os búlgaros por duas bolas a zero no jogo inaugural do grupo 3. Tudo apontava que Portugal e Hungria iriam discutir o segundo lugar.

    No jogo da estreia de Portugal em campeonatos do mundo, com Eusébio a ficar em branco, os Magriços venceram por 3-1. Na segunda jornada os lusos bateram os búlgaros por 3-0, enquanto a Hungria com Albert em grande plano causava a grande surpresa e vencia o Brasil por 3-1.

    Na última ronda, no jogo do tudo ou nada, o Brasil perdeu por 3-1, numa tarde mágica da selecção nacional, onde Eusébio e companheiros arrasaram os bicampeões mundiais. Enquanto a estrela Pelé foi eclipsada pelas marcações serradas e violentas de Morais (Sporting) e do belenense Vicente.

    Mas não só a eliminação do Brasil foi surpresa na primeira fase do mundial inglês. O último grupo do mundial reservava uma surpresa maior…

    Num grupo em que os soviéticos venceram todos os jogos, a disputa pelo segundo lugar ficou entre a Itália e a Coreia do Norte que já tinha surpreendido tudo e todos ao empatar com o Chile (1-1).

    No jogo decisivo o empate bastava aos transalpinos, mas a surpresa aconteceu e os coreanos venceram por um golo solitário, que valeu a maior humilhação do futebol italiano. Ainda hoje, em Itália, uma derrota escandalosa é conhecida por uma Coreia.

    Quartos-de-final

    Chegaram então os quartos de final, onde num jogo disputadíssimo e equilibrado os ingleses venceram os argentinos (1-0), que tiveram na violência o seu “jogo” mais forte. Já os alemães bateram o Uruguai sem dificuldades, por quatro bolas a zero.

    Num dérbi de leste, os soviéticos superiorizaram-se aos húngaros por 2-1. Mas o jogo mais espectacular do mundial foi o Portugal vs Coreia do Norte.

    As equipas surpresa da competição, que logo no ano da estreia tinham deixado pelo caminho os dois bicampeões do mundo (Brasil e Itália) entraram em campo dispostas a fazer história e a qualificarem-se para as meias-finais. Os portugueses eram favoritos, mas cedo se apanharam a perder e aos 25 minutos o score já ía em 0-3.

    Mas Eusébio pegou na bola e Portugal reagiu, e ao intervalo já tinha reduzido para 2-3. Na segunda parte, a Pantera Negra completou o “Poker” e marcou 4 golos no total, numa histórica vitória por 5-3.

    Domínio europeu

    Estavam então encontradas as quatro equipas que iam discutir o título de campeão mundial. Desde 1934 que nunca mais tinha acontecido só equipas europeias chegarem as Meias-finais. Aliás, tal feito só voltaria a repetir-se no mundial espanhol de 1982 e em 2006 na Alemanha.

    Alemães e soviéticos abriram as hostilidades. A Alemanha de Beckenbauer levou a melhor sobre a U.R.S.S. de Lev Yashin (2-1) enquanto na outra meia-final, no histórico Estádio de Wembley, a Inglaterra superiorizou-se a um cansado Portugal, com uma vitória justa e indiscutível (2-1). Dois rivais, velhos adversários de outras lides, encontravam-se agora no campo relvado de Wembley. Inglaterra e Alemanha era a final por muitos aguardada.

    Entrou ou não entrou?

    E assim chegou-se ao grande dia, onde num Wembley repleto e com a Rainha Isabel II na tribuna de honra, os velhos rivais pela primeira vez se enfrentavam no jogo decisivo. A final entrou para a história como uma das melhores de todos os tempos. A Alemanha Ocidental tomou a liderança com um golo de Haller (12’), mas Hurst marcaria o golo do empate aos 18’. A Inglaterra começou a dominar o jogo, mas a ver o tempo passar e só a doze minutos do fim é que Peters colocou os ingleses em vantagem, contudo, mesmo ao cair do pano Weber marcou o 2-2.

    Aos 10’ do tempo extra, aconteceu um dos golos mais famosos da história dos mundiais: Geoff Hurst rematou cruzado, Tilkowski não conseguiu tocar na bola, esta bate na barra e cai sobre a linha de golo segundo a opinião dos alemães, ou entra totalmente dentro da baliza, como clamam os ingleses?

    O árbitro suíço Gottfried Dienst não tem dúvidas e aponta para o meio do relvado. É golo da Inglaterra! Os protestos alemães sobem de tom, enquanto os ingleses correm pelo relvado em festejos.

    O jogo finalmente é retomado com a indignação germânica. Já na segunda parte, no último minuto da partida, Hurst faz um hattrick e sela a vitória inglesa.

    A Inglaterra, a pátria do futebol era finalmente campeã mundial, e apesar de um golo que ainda ninguém em consciência, pode afirmar se foi ou não golo, foi uma justa vencedora. A Portugal coube a honra de ser a surpresa da competição, saindo com um honroso 3º lugar na estreia, prometendo grandes feitos futuros, que só se repetiriam quarenta anos depois…

    Comentários

    Gostaria de comentar? Basta registar-se!
    motivo:
    EAinda não foram registados comentários...