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    «É preciso varrer a porcaria da federação»... a frase e o contexto do falhanço Mundial

    Texto por Luís Rocha Rodrigues
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    Portugal em Itália. Seleção nacional contra a squadra azzurra em pleno Giuseppe Meazza. A 17 de novembro de 1993, Portugal jogava a derradeira e decisiva etapa para ainda conseguir marcar presença no Mundial nos EUA. Era uma vez a América, percebeu-se no fim. E o selecionador explodiu.

    Contextualizando... Com um lote de jovens talentos a despontar e com o rótulo de campeões do mundo de sub-20, em 1989 e 1991, a seleção procurava nova chegada a uma fase final, o que não acontecera em 1988, 1990 e 1992. Porém, a Itália, que já tinha ganho 1x3 nas Antas, só precisava do empate para ter sucesso e bilhete para solo americano.

    Por essa altura, já estava distante a fase de deslumbramento com Carlos Queiroz. O técnico era apreciado e a sua reputação estava em alta, mas as dificuldades internas na FPF impediam que o progresso fosse como o próprio idealizava.

    Contra Baresi, Maldini, Costacurta, Roberto Baggio, o próprio Roberto Mancini ou Casiraghi, treinados por Arrigo Sacchi, uma seleção que misturava (pouca) veterania de João Pinto ou Veloso com (muita) juventude, desde Baía a João Vieira Pinto, passando por Rui Costa ou Paulo Sousa, tentou vingar-se no Giuseppe Meazza, mas sem efeito.

    Balanceados no ataque, à procura do golo que mudasse a classificação, os portugueses sofreram ao minuto 83 por Dino Baggio, num lance onde passou em claro o fora de jogo do médio, que então jogava na Juventus.

    No final, Carlos Queiroz explodiu: «É preciso varrer a porcaria que há na federação portuguesa. Há muita coisa para mudar!», referiu, aos microfones da RTP, logo após o apito final, ainda no relvado.

    Uma frase que marcou o futebol português e que motivou um processo disciplinar que culminou na sua saída - não tardaria a ser aproveitado pelo Sporting de Sousa Cintra, que despediu Bobby Robson para ir buscar o técnico nascido em Moçambique.

    Um momento recordado numa entrevista ao jornal i em agosto de 2017, que pode ser lida aqui, e na qual destacamos o seguinte excerto:

    «Certo, a porcaria, vamos lá…

    Nunca diria a barbaridade que me saiu da boca depois do jogo de Milão. Mas também, nos tempos que correm, seria impossível ter o Esteves Martins com uma câmara e um microfone ao meu lado no banco a fazer-me perguntas comigo a ferver por dentro. Isto é curioso e tem um contexto. Por que é que me sai a palavra porcaria?

    Boa pergunta.

    Eu estava com o João Rodrigues no gabinete dele a receber o convite para o cargo de selecionador e a explicar-lhe que não iria aceitar porque não sentia ser a altura certa. Então ele levanta-se e diz – espere aí um bocadinho que volto já. Quando regressou à sala, declarou – fui falar com os jornalistas e garanti-lhes que você é o novo selecionador; agora, se quiser, vá lá dizer-lhes que não.

    E daí?

    Daí que  a situação que a Federação e a Seleção nacional viviam na altura da saída do Artur Jorge era muito complexa. Podia falar aqui de muitas coisas, mas o tempo também já tornou algumas desinteressantes. Mas eu passei por três presidentes na Federação. E isto numa fase de qualificação. As pessoas conseguem imaginar a instabilidade de gerir uma equipa numa situação com estes contornos? Era um filme medonho. Contratos de publicidade, jogadores dispostos a repetirem a situação de Saltillo, falta de equipamentos… E, mesmo assim, estivemos na luta pela qualificação até ao último minuto e  perdemos com um golo fora-de-jogo do Dino Baggio. Nesse momento estou junto ao banco, de pé, sofremos uma expulsão, fico convencido de que já não há nada a fazer, e viro-me para o Nelo Vingada e digo – se com todas as merdas que nós vivemos e viemos aqui com nove miúdos de 21 anos pôr os italianos aflitos, onde poderíamos ter chegado? Fim de jogo – chega o Esteves Martins. E eu expludo: enquanto não conseguirmos correr com toda a porcaria da Federação!... Mas isto não era nada de pessoal. Não me referia a ninguém. Eram os problemas, as chatices, os entraves. Mas uma barbaridade daquelas hoje era impossível!

    Voltaste à seleção uns anos mais tarde. Ainda havia porcaria para correr?

    Não! O tempo, entretanto passou. Havia outros problemas, outras questões. Em 2008, quando regresso à federação, estamos no início de uma fortíssima crise económica, havia problemas para resolver com os patrocinadores, mas era um outro mundo. Aí, pessoalmente, abriu-se outro caso: é que eu tinha estado fora de Portugal muitos anos. E, sobretudo, muitos anos a trabalhar em ambientes completamente diferentes. Vim encontrar um perfil de gestão completamente diferente daquele que é típico entre nós, muito mais afetivo.»

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    jogos históricos
    U Quarta, 17 Novembro 1993 - 00:00
    Stadio Giuseppe Meazza
    Ryszard Wojcik
    1-0
    Dino Baggio 83'
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    Estádio
    Stadio Giuseppe Meazza
    Lotação80018
    Medidas105x68
    Inauguração1925