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      Rangers FC

      Texto por Vasco Moreira
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      Considerado por muitos o clube escocês mais bem sucedido da história, o Rangers é, pelo menos, o clube com mais títulos de campeão nacional, num palmarés recheado onde não faltam glórias europeias. Uma história longa e rica - com muitos craques e treinadores míticos - de um clube diferente, com fortes ligações políticas, religiosas e sociais que alimentam até hoje uma das maiores rivalidades do futebol mundial.

      A fundação, os primeiros anos e o Old Firm

      O clube foi oficialmente fundado em 1873 – data da primeira assembleia geral anual -, mas foi em 1872 o encontro entre Peter McNeil, Moses McNeil, Peter Campbell e William McBeath que ditou o início do Glasgow Argyle, nome que foi alterado para Glasgow Rangers - inspirado no clube de râguebi inglês Swindon Rangers - numa das primeiras assembleias.

      O primeiro jogo, frente ao Callander FC, terminou 0x0, mas os primeiros anos não ficariam marcados por empates. Em 1876 a equipa já contava com o primeiro jogador internacional (Moses McNeil ao serviço da Escócia) e em 1890/91 - já depois de ter atingido a final da Taça em 1877 - o emblema participou e venceu (título partilhado com o Dumbarton) o primeiro campeonato escocês de futebol.

      Seguiu-se a primeira conquista na Taça da Escócia, em 1894, num do primeiros grandes duelos frente ao grande rival Celtic (3x1). Uma rivalidade com base nos ideais políticos e religiosos das duas equipas - os adeptos do Rangers foram desde sempre protestantes, lealistas no que toca a políticas relativas à Irlanda do Norte e socialistas, ao contrário dos adeptos católicos, republicanos e conservadores que apoiavam o Celtic - intitulada de Old Firm. A história referente ao nome tem várias versões, mas a mais reconhecida data a 1904, altura em que um jornal utilizou um cartoon satírico no qual se lia «Patronise The Old Firm: Rangers, Celtic Ltd», relativo ao duelo da final da Taça da Escócia.

      A glória ao comando de William Wilton e Bill Struh

      A primeira era de verdadeiro sucesso do Rangers chegou sob a batuta de William Wilton, que assumiu as rédeas do clube em maio de 1899, tornando-se no primeiro treinador do clube - até à data era secretário e só em 1899 é que o Rangers passou a ser reconhecido como um sociedade limitada. A equipa vinha de um título de campeão impressionante, no qual não perdeu qualquer jogo e o técnico não só deu seguimento ao trabalho como aumentou a batuta ao conquistar mais três títulos de campeão consecutivos, entregando o primeiro tetra ao clube.

      Os momentos de sucesso foram interrompidos pela primeira tragédia de Ibrox, que ditou a morte de 25 pessoas, sendo que mais de 500 ficaram feridas, depois de uma das bancadas do estádio colapsar durante o duelo internacional entre Escócia e Inglaterra.

      Uma das primeiras equipas do clube
      Wilton liderou o Rangers oficialmente durante pouco mais de 20 anos, durante os quais conquistou oito títulos de campeão nacional e uma Taça da Escócia, elevando o clube ao topo do futebol escocês. Infelizmente, a estadia do antigo jogador do clube teve um fim precoce com a morte de Wilton na sequência de um acidente de barco, em 1920, com 54 anos.

      William «Bill» Struth era o braço direito de Wilton desde 1914 e foi apontado como seu sucessor em 1920, no que seria o início de uma longa e extremamente bem sucedida parceria. Ao todo foram 34 anos ao leme dos protestantes, nos quais ergueu 18 campeonatos, 10 Taças da Escócia e duas Taças da Liga, tornando-se ainda no primeiro técnico a conquistar a dobradinha (campeonato e taça), em 1927/28.

      Scott Symon e os primeiros passos na Europa

      Bill Struh deixou o clube em 1954 e coube a Scott Symon, antigo atleta do clube, assumir o seu lugar. Symon deu continuidade ao excelente trabalho realizado por Struth. Com dois títulos nos dois primeiros anos como treinador principal, a segunda temporada ficou ainda marcada pela estreia nas competições europeias. 

      Foi na temporada de 1956/57 e apenas quatro anos depois da estreia, chegou a primeira final - depois da meia-final da Taça dos Campeões Europeus na época anterior. O duelo decisivo da Taça das Taças, no entanto, não sorriu aos escoceses, que perderam por 4x1 frente à Fiorentina. Os protestantes tiveram nova oportunidade de erguer o troféu em 1966/67, mas voltaram a perder, agora por 1x0 frente ao Bayern Munique, após prolongamento.

      Além das duas finais da Taças da Taças e das meias na Taça dos Campeões Europeus, Symon levou ainda a equipa a dois quartos-de-final da prova milionária e manteve o enorme sucesso interno, com seis títulos de campeão, cinco Taças da Escócia e quatro Taças da Liga, festejando ainda o primeiro triplete da história do clube, em 1963/64.

      O desastre e Ibrox e sucesso europeu

      A era de Symon chegou ao fim em 1967/68, depois da eliminação da Taça aos pés do modesto Berwick Rangers, comandado pelo treinador-jogador Jock Wallace, e de três anos em que o título de campeão nacional fugiu - apesar da segunda final europeia no ano anterior.

      Ainda em 67/68, David White, adjunto ao longo dos últimos cinco meses, assumiu o cargo de treinador principal. No entanto, o melhor que White conseguiu foi atingir as meias-finais da Taça das Cidades com Feiras em 1968/69 e foi afastado do cargo durante a temporada de 1969/70, sem qualquer título conquistado.

      O seu substituto foi William Waddell, mas o início ficou marcado pelos piores motivos, ainda que sem qualquer responsabilidade do novo técnico. A 2 de janeiro de 1971, o Rangers perdia frente ao Celtic por 0x1 a poucos minutos do final de mais um dérbi da Old Firm, mas o empate chegou em cima dos 90’ e com ele uma das maiores tragédias da história do futebol. Os adeptos que já abandonavam tropeçaram num adepto que terá caído com o filho e gerou um amontoar de pessoas do qual resultaram 66 mortos e mais de 200 feridos.

      Apesar da página negra na história do futebol e do clube, o Rangers emergiu da melhor forma da situação. Nessa mesma temporada o clube regressou aos títulos com a conquista da Taça da Liga e no ano seguinte, a turma de Waddell voltou a destacar-se na Europa e atingiu nova final da Taça das Taças.

      A caminhada começou com uma eliminatória bem sucedida frente ao Rennes (1x2), à qual se seguiu um grande duelo frente ao Sporting, na 2ª ronda da prova. Depois do 3x2 na Escócia, os portugueses igualaram o resultado em Alvalade e obrigaram a prolongamento, mas os escoceses passariam graças aos golos fora depois de um 4x3. Seguiram-se Torino (1x2) e Bayern Munique (1x3), antes do duelo decisivo, frente ao Dínamo Moscovo.

      Na grande final, o Rangers já vencia por 2x0 ao intervalo, graças a tentos de Colin Stein e Willie Johnston, sendo que Willie viria mesmo a consumar o bis, estabelecendo o resultado em 3x0. Até final, o Dínamo ainda reduziu para 3x2, mas o título já não fugiu ao Rangers. Depois da conquista, Waddell assumiu o cargo de diretor desportivo e Jock Wallace - esse mesmo que eliminou o Rangers de Symon como treinador-jogador - foi o escolhido para o substituir como treinador principal.

      O regresso aos títulos pelas mãos de um antigo carrasco

      A estátua de John Greig perdura
      O antigo carrasco do Rangers de Symon provou ser a escolha certa com a conquista da Taça da Escócia em 1972/73 e ainda mais com o regresso aos títulos de campeão em 1974/75, 11 anos depois do último troféu de campeão nacional, pondo fim ao domínio do Celtic, naquela que foi a última edição da antiga Primeira Divisão escocesa. De resto, Wallace tomou-lhe o gosto de venceu o triplete em 1975/76 - primeira edição da Premier League escocesa - e 1977-78. Apesar do sucesso, a ligação entre Wallace e o Rangers terminou em 1978 depois de um desentendimento com Willie Waddell e outros membros da direção do clube.

      Desta feita, Waddell apostou no então capitão de equipa John Greig para assumir a liderança do clube, mas Greig não conseguiu repetir o sucesso atingido enquanto jogador. Em cinco temporadas, o antigo defesa não conseguiu qualquer título de campeão e acabou por deixar o clube, apesar das duas Taças da Escócia e Taças da Liga arrecadadas.

      Após a saída de Greig, Waddell tentou Alex Ferguson, na altura treinador do Aberdeen, e Jim McLean, do Dundee United, mas ambos rejeitaram as abordagens e a escolha recaiu em…Jock Wallece. Mas se Greig foi incapaz de replicar o sucesso de jogador enquanto técnico, Wallece foi incapaz de repetir os feitos passados e deixou o clube apenas três temporadas depois de assumir o cargo. Nesses três anos o Rangers terminou duas vezes em 4º lugar e uma em 5º, mas conquistou duas Taças da Liga.

      A dupla Souness-Smith e as nove consecutivas

      Graeme Souness foi o substituto escolhido, assumindo o papel de treinador-jogador. O técnico escolheu Walter Smith como adjunto e apostou na contratação de jogadores conceituados, com a chegada dos internacionais ingleses Terry Butcher, Chris Woods e Trevor Steven - o técnico viria ainda a contratar Mo Johnston, o primeiro católico a vestir a camisola dos Gers em mais de 70 anos, nunca clara mudança de política. A aposta correu da melhor forma possível, com o Rangers a regressar ao título de campeão logo na sua primeira temporada (1886/87), na qual conquistou ainda uma Taça da Liga.

      No ano seguinte, Souness não foi capaz de repetir a proeza, apesar de ter atingido os quartos-de-final da Taça dos Campeões Europeus, mas a temporada ficaria marcada pela chegada de David Murray, empresário de sucesso que se tornou no novo dono do clube. A dupla Souness-Murray combinou para dois títulos imediatos, naquele que seria também o primeiro de nove troféus consecutivos de campeão nacional.

      O recorde pertencia ao Celtic e foi igualado pelo Rangers, que dominou o final dos anos 80 e a década de 90. No entanto, Souness só conquistou os primeiro três dos nove, isto porque deixou os protestantes para treinar o Liverpool em abril de 1991. Walter Smith, até aí o braço direito de Souness, foi quem assumiu o leme da equipa e não podia ter corrido melhor. O técnico consumou o recorde e foi campeão nas seis temporadas completas em que liderou o emblema escocês, festejando ainda três Taças da Escócia e três Taças da Liga.

      Do Rangers laranja, passando por McLeish, até um regresso especial

      Souness, o primeiro treinador-jogador em Glasgow
      Walter Smith deixou o clube durante a temporada de 1997 e a direção escolheu Dick Advocaat como o novo homem do leme, na tentativa de trazer o apaixonante futebol holandês até Glasgow. O técnico apostou numa autêntica revolução, com a saída de 15 jogadores e a contratação de elementos da sua confiança e o sucesso foi quase imediato, com a equipa a festejar o triplete na primeira temporada completa do holandês (1998/99).

      Anos de sucesso, durante os quais o clube contou com jogadores como Brian Laudrup, Gennaro Gattuso, Giovanni van Bronckhorst, Andrei Kanchelskis ou um jovem Barry Fergunson, entre muitos outros. 

      Advocaat viu a sua estadia chegar ao fim depois de uma temporada (2000/01) na qual o grande rival Celtic conquistou o triplete e o Rangers não ultrapassou a fase de grupos da Liga dos Campeões, apesar do forte investimento. Chegou então a vez de Alex McLeish, que conquistou as duas Taças na época de estreia (2001/02) e o triplete na época seguinte.

      A escolha de McLeish foi interpretada por muitos adeptos como uma travão no investimento por parte da direção, mas o técnico provou ser a escolha certa. O escocês, que voltou a ser campeão em 2004/05 continuaria a treinar o clube até 2006/07, ano em que direção apostou em Paul Le Guen. No entanto, o francês tentou e falhou a missão de devolver a glória ao clube, não durando sequer até ao fim da temporada.

      David Murray optou então por seguir um plano antigo e extremamente bem sucedido no passado: Walter Smith. A primeira época completa (2007/08) não trouxe tão desejado título de campeão de volta, mas trouxe duas Taças e a chegada à final da Liga Europa. Mais uma vez, os escoceses ultrapassaram o Sporting - desta feita nos quartos de final (2x0) -, mas não foram capazes de bater o Zenit - curiosamente liderados por Dick Advocaat - na grande final (2x0).

      Smith conquistou o tricampeonato entre 2007/08 e 2010/11 - Pedro Mendes fez parte do plantel de 2008/09 e 2009/10, ano em abandonou o clube. Seguiu-se Ally McCoist - antigo adjunto de Smith e glória do clube -, mas a época não correu da melhor forma. Ainda assim, esse seria o menor dos problemas do Rangers nos meses seguintes.

      A insolvência e a despromoção ao terceiro escalão

      Apesar do sucesso dentro dos relvados, David Murray viu-se obrigado a vender a sua parte do clube (85,3%) por apenas uma libra à Waventower Limited, empresa liderada por David Whyte, devido a problemas financeiros com origem na crise económica mundial e na política restrita dos bancos escoceses, que exigiram o pagamento dos empréstimos que o clube havia feito nos últimos anos, bem como das acusações de fuga aos impostos - dívida na ordem dos 60 milhões de euros.

      A liderança de David Whyte, no entanto, esteve longe de ser famosa e começou logo com um conjunto de contratações falhadas por dificuldades inesperadas, que levantaram dúvidas em relação ao poderio financeiro do novo dono do clube e contribuíram decisivamente para o falhanço de McCoist na sua primeira temporada.

      Whyte falhou claramente as promessas de resolver as dívidas relativas a impostos e aos empréstimos aos bancos, o que obrigou o clube a declarar falência e originou a entrada de uma administração judicial, a 13 de fevereiro de 2012. Primeiro com 10 pontos retirados pela federação, o clube ainda sonhou com a salvação aquando da compra do controlo percentual do clube por parte de Charles Green, as 13 de maio. O novo dono tentou o acordo com o HMRC através de um acordo voluntário na tentativa de sair da administração, mas este foi rejeitado no dia 12 de junho, o que fez com que o Rangers entrasse em liquidação poucos dias depois. 

      Os negócios, bem como os bens do clube foram então adquiridos pela Sevco Scotland Ltd, um consórcio liderado por Green, que foi renomeado de Rangers Football Club Ltd, a 4 de julho de 2012. No entanto, os restantes dez emblemas da Premier League escocesa rejeitaram a hipótese de transferir os direitos de participação do Rangers para esta nova empresa e o clube foi mesmo obrigado a começar do zero, na 4ª divisão - todos os jogadores tiveram oportunidade de sair uma vez que os contratos eram com a empresa antiga.

      O regresso e a curta ´Era Gerrard`

      Ally McCoist liderou então os escoceses à conquista consecutiva dos títulos das quarta e terceira divisões escocesas. O segundo escalão foi uma tarefa mais complicado e o falhanço ditou mesmo a saída de McCoist, sendo que o regresso só foi consumado na época seguinte, pelas mãos de Mark Warburton.

      De resto, Warburton foi o técnico encarregue de comandar o clube na época de regresso, mas a estadia não foi longa e Pedro Caixinha foi o escolhido para o substituir. O primeiro treinador português do clube trouxe com ele Bruno Alves, Candeias, Dálcio e Fábio Cardoso no início da temporada seguinte, mas tanto Caixinha como quase todas as suas contratações só duraram um ano depois de falharem a conquista de qualquer título, tendo ainda sido eliminados pelo Motherwell na Taça da Liga e pelo modesto Progès, do Luxemburgo, da primeira ronda de qualificação da Liga Europa.

      @Rangers Football Club
      Seguiu-se então a aposta em Steven Gerrard, antigo capitão de Liverpool e Inglaterra, para além de um dos melhores médios da história do futebol. O novo técnico assinou um contrato de quatro anos e revolucionou grande parte do plantel, com várias contratações a chegaram do seu antigo clube, por empréstimo ou em definitivo.

      As melhorias no relvado foram claras. Ainda assim, a direção que se focou em dar estabilidade e condições ao jovem técnico para guiar o Rangers de volta aos caminhos da glória. O entusiasmo dos adeptos voltou a níveis antigos, alimentado pela energia do futebol atacante de Gerrard, que prometeu voltar a colocar o Rangers no topo do futebol escocês... e cumpriu!

      Na primeira termporada do treinador inglês, o Rangers conseguiu passar uma fase de grupos da Liga Europa para disputar competições europeias na segunda metade da temporada pela primeira vez em 10 anos. Em dezembro bateram o Celtic, também pela primeira vez em 10 anos, mas essa temporada seria interrompida prematuramente devido ao impacto da Covid-19.

      Foi no ano seguinte, 2020/21, que o Rangers se sagrou campeão da Escócia. Como tudo o resto, pela primeira vez em 10 anos! O feito, já importante por si só, foi engrandecido por uma histórica campanha invencível que terminaria com um recorde de 102 pontos conquistados.

      O reinado de Steven Gerrard foi, dessa forma, visto como um sucesso. Só não foi perfeito para os adeptos por ter sido demasiado curto, uma vez que o técnico abandonaria o clube durante a temporada seguinte para assumir o comando técnico do Aston Villa na Premier League.

      Para o seu lugar chegou Giovanni van Bronckhorst, ex-internacional neerlandês e jogador do clube escocês, que assumiu o posto em novembro de 2021. Sob o seu comando, a equipa continuou a remar no sentido certo e chegou à final da Liga Europa, já num ano de 2022 em que se celebravam 150 anos de história. Tombaram nas grandes penalidades, perante o Eintracht Frankfurt.

      Seguiu-se um muito aguardado regresso à Liga dos Campeões, mas este não correu nada bem. Os escoceses perderam os seis jogos e terminaram co uma diferença de golos de -20, alcançando, assim, o pior registo da história da competição. Seguiu-se Beale, treinador que também não conseguiu inverter o mau rumo dos resultados.

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