Rosenborg e Noruega, dois elementos indissociáveis. Falar de futebol norueguês é falar daquele que se autointitula de «clube mais bem-sucedido» do país. E o palmarés não engana: quase 30 títulos de campeão, 12 Taças e 3 Supertaças e mais jogos nas competições europeias do que qualquer outro homólogo.
As origens, os tempos difíceis e a mudança
A 19 de maio de 1917, um grupo de jovens, oriundos do bairro de Rosenborg, Trondheim, decidiram criar um clube à imagem do grande Odd, de Skien, o mais forte da época
De geração em geração, a nova administração do Odd conseguiu com sucesso a inscrição nos campeonatos regionais no ano de 1927. Um ano mais tarde, o Odd passou a pertencer à Associação de Futebol da Noruega, mas viu-se obrigado a mudar de nome para o atual Rosenborg Ballklub.
Curiosidade ou não, o sucesso começou a aparecer. As subidas de divisão foram alcançadas com regularidade e já no escalão mais alto das divisões regionais foi conseguida a primeira presença na Taça.
Os êxitos de talentos que viraram lendas
As camadas jovens do emblema de Trondheim sempre estiveram um passo à frente das demais e o êxito no início da década de 60’ está intrinsecamente ligado ao conjunto talentoso de jogadores que formaram parte do plantel.
Em 1967, os bons resultados levaram a que, de forma quase natural, a primeira presença no mais alto escalão do futebol norueguês fosse atingida. E, na verdade, era impossível pedir uma melhor estreia.
Liderado dentro de campo pelos talentosos Harald Sunde e Nils Arne Eggen, uma das grandes figuras da história dos Troillongan, e pela irreverência de um jovem avançado de seu nome Odd Iversen, que desde cedo demonstrou uma enorme aptidão para o golo. Nesse mesmo ano, o Rosenborg sagrou-se campeão pela primeira vez, estabeleceu-se como uma das maiores forças a nível nacional e viveu as primeiras experiências europeias da história.
A recusa de Bobby Robson e a chegada de um revolucionário
O objetivo da direção era tornar o clube numa figura constante das competições europeias e o presidente recém-eleito optou por uma mudança radical.
Os dirigentes procuraram auxílio junto da Federação Inglesa de Futebol e consta que a mesma elaborou uma lista de potenciais candidatos. O presidente, Eldar Hanse, e o seu braço direito viajaram para Londres e deram início a uma série de entrevistas, sendo que uma delas acabou por praticamente por não avançar.
Não aceitou Robson, veio um tal de George Frederick Curtis, em litígio com os americanos do San Diego Toros por salários em atraso. O passado como jogador e o bom trabalho realizado no continente americano aliciaram a direção do Rosenborg que não hesitou em escolher o novo timoneiro.
Com o passar dos anos, e a saída de jogadores de peso como Harald Sunde e Odd Iversen, o Rosenborg passou a viver na corda bamba. A contestação a Curtis subiu de tom pelo facto da equipa marcar pouco e defender muito e o antigo futebolista Nils Arne Eggen assumiu o leme, tendo mudado por completo a forma de jogar com uma proposta mais atrativa. Com isso, em 1971, o Rosenborg fez a dobradinha, mas, numa fase posterior, caiu a pique, tanto que desceu de divisão depois de uma época paupérrima.
Arne – terceira passagem – e Odd Iversen – retirou-se depois de se sagrar o artilheiro do campeonato pela quarta vez - regressaram e trataram de colocar o Rosenborg de novo na primeira divisão.
1985 ou o início de uma incrível hegemonia
O ano de 1985, o do quarto campeonato, foi um ponto de viragem. A partir dessa conquista, com Nils Arne - confesso admirador de Curtis - ao leme, o Rosenborg deu início a uma hegemonia sem precedentes.
Terminaram, por isso, 14 anos de seca. No total, mesmo com a criação da Norwegian Premier League, o palmarés engordou com 13 campeonatos, quase todos consecutivos, e cinco Taças.
Nils Arne retirou-se em 2002 (voltou mais tarde num momento delicado) e deixou um legado ao alcance de poucos, mas, acima de tudo, mudou a imagem internacional do clube que passou a ser um verdadeiro osso duro de roer nas provas europeias – entre 1995 e 2007, o Rosenborg esteve por 11 ocasiões na fase de grupos da Liga dos Campeões, sendo oito delas consecutivas que constituíram um recorde batido pelo Manchester United em 2004.
Mesmo com o adeus de uma lenda, o rótulo de campeão permaneceu, já com o seu substituto, Åge Hareide, no comando. O futebol não era espetacular, mas cínico e eficaz.
Novo século, sinónimo de alegrias e dissabores
Nem tudo foi um mar de rosas e o Rosenborg viveu períodos delicados com o passar do tempo. Treinadores entraram e saíram sem grande impacto e, à exceção de um outro ano bem-sucedido, o clube passou a conviver com o maior sucesso dos rivais.
O conhecimento adquirido como jogador e a forma como conseguiu extrair o máximo do plantel fez com os tempos dourados voltassem. O tetracampeonato conquistado em 2018 espelhou na perfeição a influência de Ingebrigsten, ele que acendeu, novamente, a veia hegemónica de uma das maiores forças nórdicas do panorama futebolístico.