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Texto por Ricardo Lestre
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Rosenborg e Noruega, dois elementos indissociáveis. Falar de futebol norueguês é falar daquele que se autointitula de «clube mais bem-sucedido» do país. E o palmarés não engana: quase 30 títulos de campeão, 12 Taças e 3 Supertaças e mais jogos nas competições europeias do que qualquer outro homólogo. 

As origens, os tempos difíceis e a mudança

A 19 de maio de 1917, um grupo de jovens, oriundos do bairro de Rosenborg, Trondheim, decidiram criar um clube à imagem do grande Odd, de Skien, o mais forte da época

qQualquer montante que me ofereça, e, repito, qualquer um: nunca irei para a Noruega!
Bobby Robson
Durante 10 anos, tal como os restantes emblemas fundados no mesmo espaço temporal, o Sportsklubben Odd não disputou qualquer competição. O pedido para integrar os campeonatos regionais em 1920 foi negado pelas entidades competentes por receio de «escassez de jogadores» e clube ficou à deriva durante largos anos.

De geração em geração, a nova administração do Odd conseguiu com sucesso a inscrição nos campeonatos regionais no ano de 1927. Um ano mais tarde, o Odd passou a pertencer à Associação de Futebol da Noruega, mas viu-se obrigado a mudar de nome para o atual Rosenborg Ballklub.

Curiosidade ou não, o sucesso começou a aparecer. As subidas de divisão foram alcançadas com regularidade e já no escalão mais alto das divisões regionais foi conseguida a primeira presença na Taça. 

Os êxitos de talentos que viraram lendas

As camadas jovens do emblema de Trondheim sempre estiveram um passo à frente das demais e o êxito no início da década de 60’ está intrinsecamente ligado ao conjunto talentoso de jogadores que formaram parte do plantel.

@Rosenborg
Em 1960, o Rosenborg ultrapassou todas as etapas e chegou à final da Taça contra o clube cujo nome e cores foram adotados nos primórdios, o Odd. O caneco foi levantado e serviu como mote para a nova conquista, quatro anos mais tarde.

Em 1967, os bons resultados levaram a que, de forma quase natural, a primeira presença no mais alto escalão do futebol norueguês fosse atingida. E, na verdade, era impossível pedir uma melhor estreia.

Liderado dentro de campo pelos talentosos Harald Sunde e Nils Arne Eggen, uma das grandes figuras da história dos Troillongan, e pela irreverência de um jovem avançado de seu nome Odd Iversen, que desde cedo demonstrou uma enorme aptidão para o golo. Nesse mesmo ano, o Rosenborg sagrou-se campeão pela primeira vez, estabeleceu-se como uma das maiores forças a nível nacional e viveu as primeiras experiências europeias da história.

A recusa de Bobby Robson e a chegada de um revolucionário

O objetivo da direção era tornar o clube numa figura constante das competições europeias e o presidente recém-eleito optou por uma mudança radical.

Os dirigentes procuraram auxílio junto da Federação Inglesa de Futebol e consta que a mesma elaborou uma lista de potenciais candidatos. O presidente, Eldar Hanse, e o seu braço direito viajaram para Londres e deram início a uma série de entrevistas, sendo que uma delas acabou por praticamente por não avançar.

Antes de ser selecionador inglês, Bobby Robson rejeitou o convite do Rosenborg @Getty / Evening Standard
Um dos nomes dessa lista era o de um jovem Bobby Robson, então técnico do Ipswich Town, que rejeitou de forma veemente uma mudança para solo nórdico: «Qualquer montante que me ofereça, e, repito, qualquer um: nunca irei para a Noruega!», atirou aquele que viria a tornar-se, mais tarde, numa lenda do futebol. Mal os encarregados do Rosenborg sabiam o futuro…

Não aceitou Robson, veio um tal de George Frederick Curtis, em litígio com os americanos do San Diego Toros por salários em atraso. O passado como jogador e o bom trabalho realizado no continente americano aliciaram a direção do Rosenborg que não hesitou em escolher o novo timoneiro.

Odd Iversen e Harald Sunde, lendas do Rosenborg @Rosenborg
Curtis chegou, viu e venceu. Adepto do 4x4x2 tradicional, o britânico, adepto de um futebol de organização, causou um excelente impacto inicial. Colocou o terceiro título de campeão no museu do clube e mostrou uma faceta afastada do ‘futebol de ataque’, algo desconhecida na época.

Com o passar dos anos, e a saída de jogadores de peso como Harald Sunde e Odd Iversen, o Rosenborg passou a viver na corda bamba. A contestação a Curtis subiu de tom pelo facto da equipa marcar pouco e defender muito e o antigo futebolista Nils Arne Eggen assumiu o leme, tendo mudado por completo a forma de jogar com uma proposta mais atrativa. Com isso, em 1971, o Rosenborg fez a dobradinha, mas, numa fase posterior, caiu a pique, tanto que desceu de divisão depois de uma época paupérrima.

Arne – terceira passagem – e Odd Iversen – retirou-se depois de se sagrar o artilheiro do campeonato pela quarta vez - regressaram e trataram de colocar o Rosenborg de novo na primeira divisão.

1985 ou o início de uma incrível hegemonia

O ano de 1985, o do quarto campeonato, foi um ponto de viragem. A partir dessa conquista, com Nils Arne - confesso admirador de Curtis - ao leme, o Rosenborg deu início a uma hegemonia sem precedentes.

Vitória em San Siro terminou com a aventura do AC Milan na Champions @Getty / Matthew Ashton - EMPICS
A saúde financeira, a profissionalização total e a proposta ousada e de ataque fizeram com que nos anos ‘90 não existisse outra força capaz de travar o poderio dos homens de Trondheim. 

Terminaram, por isso, 14 anos de seca. No total, mesmo com a criação da Norwegian Premier League, o palmarés engordou com 13 campeonatos, quase todos consecutivos, e cinco Taças.

Nils Arne retirou-se em 2002 (voltou mais tarde num momento delicado) e deixou um legado ao alcance de poucos, mas, acima de tudo, mudou a imagem internacional do clube que passou a ser um verdadeiro osso duro de roer nas provas europeias – entre 1995 e 2007, o Rosenborg esteve por 11 ocasiões na fase de grupos da Liga dos Campeões, sendo oito delas consecutivas que constituíram um recorde batido pelo Manchester United em 2004.

Nils Arne, o responsável pela hegemonia do Rosenborg @Getty / Liam McBurney - PA Images
Só por duas vezes conseguiu o acesso às eliminatórias seguintes, mas para a memória ficou a vitória, em pleno San Siro, sobre o poderoso AC Milan, em 1996/97, que carimbou a passagem noruega no segundo lugar do grupo, atrás do FC Porto.

Mesmo com o adeus de uma lenda, o rótulo de campeão permaneceu, já com o seu substituto, Åge Hareide, no comando. O futebol não era espetacular, mas cínico e eficaz.

Novo século, sinónimo de alegrias e dissabores

Nem tudo foi um mar de rosas e o Rosenborg viveu períodos delicados com o passar do tempo. Treinadores entraram e saíram sem grande impacto e, à exceção de um outro ano bem-sucedido, o clube passou a conviver com o maior sucesso dos rivais.

@Rosenborg
A realidade viria, no entanto, a sofrer uma volta de 180 graus. Kåre Ingebrigsten, um homem da casa, assumiu o comando técnico numa fase delicada de 2014 e de interino passou a permanente.

O conhecimento adquirido como jogador e a forma como conseguiu extrair o máximo do plantel fez com os tempos dourados voltassem. O tetracampeonato conquistado em 2018 espelhou na perfeição a influência de Ingebrigsten, ele que acendeu, novamente, a veia hegemónica de uma das maiores forças nórdicas do panorama futebolístico.

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