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    Fabio Capello: Il Duro

    Texto por Mário Rui Mateus
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    Em San Canzian d’Isonzo (Gorizia), no dia 18 de junho de 1948 nasceu Fabio Capello filho de Guerrino e Evelina Capello. Desde cedo que a maior parte da sua vida estava destinada a ser passada dentro das quatro linhas. O seu pai e o seu tio Mario Tortul jogavam futebol e foi com naturalidade que começou a enveredar por esse caminho.

    Jogou como médio e passou pela SPAL, onde conseguiu uma subida à Série A (1964/65), Roma, Juventus e Milan (veio a treinar as últimas três). Venceu uma Taça da Itália pelos romanos (1968/69) e pelos milaneses (1976/77), três campeonatos pela formação de Turim (1971/72, 1972/73 e 1974/75) e um pelos rossoneri (1978/79).

    Construção de uma identidade

    Depois de abandonar os relvados, Fabio Capello tornou-se treinador e Sílvio Berlusconi abriu as portas ao então inexperiente técnico, dando-lhe o comando dos juniores do Milan, em 1982/83. Il Cavaliere também apostou na sua formação e enviou-o para Coverciano, centro técnico da Federação Italiana de Futebol. Aí começaram a crescer as raízes de uma identidade única: Capello escreveu um artigo intitulado ‘O Sistema de Marcação À Zona’ (1984) … estava lançada a semente.

    Entusiasta das belas artes (possui uma coleção de arte avaliada em mais de 11 milhões de euros), o timoneiro de 71 anos é fã do pintor expressionista Wassily Kandinsky. Tal como esta corrente artística, um novo olhar sobre a arte, que juntou vários artistas e tendências, pensamentos e níveis intelectuais, também Capello buscou uma nova e fresca essência futebolística.

    Construiu uma identidade assente no pragmatismo, na versatilidade e consciência tática adaptada aos seus jogadores, na gestão da equipa e no desenvolvimento de jovens. Apesar dos títulos conquistados, também foi criticado por jogadores e ‘experts’ futebolísticos devido à sua rigidez e mentalidade defensiva, que lhe valeu a alcunha de Il Duro.

    Da Academia até à glória da Champions

    Após uma passagem bem sucedida pelas camadas jovens milanesas, onde orientou nomes como Paolo Maldini e Alessandro Costacurta, foi chamado ao comando interino em 1986/87, substituindo Nils Liedholm (de quem era adjunto) nas últimas quatro jornadas. Acumulou uma vitória, dois empates e uma derrota, garantindo aqualificação para a Taça UEFA. Contudo, na época posterior, Arrigo Sacchi foi o escolhido para assumir a equipa principal nos rossoneri, obrigando Capello a sair de cena.

    Em junho de 1991, após um período de ‘banho-maria’, Berlusconi chamou Fabio Capello para comandar as suas tropas, uma opção polémica, já que os adeptos o consideravam-no um ‘fantoche’ do Presidente. Taticamente, o novo técnico herdou o 4x4x2 do antecessor, mas no onze inicial substituiu Carlo Ancelotti pelo jovem Demetrio Albertini, dando mais consistência ao miolo. Resultado: campeão 1991/92 sem sem derrotas.

    Nas temporadas seguintes, com Marco van Basten, Gianluigi Lentini, Ruud Gullit, Jean-Pierre Papin e Frank Rijkaard, Capello aproveitou para se tornar num dos pioneiros a promover a rotatividade do plantel. Utilizou Rijkaard e Albertini como médios mais recuados, dando liberdade aos seus laterais para subirem. A este tampão do meio-campo, juntava-se, na retaguarda, um verdadeiro quarteto fantástico composto por Mauro Tassotti, Franco Baresi, Alessandro Costacurta e Paolo Maldini.

    Tudo somado (ou subtraído, neste caso) resultou em apenas 15 golos sofridos na Liga e dois na Champions, na época 1993/94. Sob a batuta de Capello, o Milan esteve 58 jogos sem perder no campeonato (maio de 1991 e março de 1993) e Sebastiano Rossi esteve 929 minutos consecutivos sem sofrer golos (recorde batido por Gianluigi Buffon em 2015/16).

    Foi ainda nesta temporada que treinador italiano conquistou a sua única Liga dos Campeões e logo com um 4x0 frente ao 'Dream Team', Barcelona de Johan Cruyff, que contava com Romário, Pep Guardiola, Hristo Stoichkov, Ronald Koeman e José Mari Bakero e Guilhermo Amor. Na histórica final de Atenas, apesar desta constelação de estrelas, o cinismo e sangue frio italiano levaram a melhor, castigando as falhas defensivas dos blaugrana.

    Depois do tricampeonato (1991/92, 1992/93 e 1993/94), três Supertaças italianas (1992, 1993 e 1994) e uma Supertaça europeia (1994), Capello voltou a ser campeão em 1995/96. Nessa equipa, que também tinha Paulo Futre, jogavam no ataque homens como, George Weah, Roberto Baggio ou Paolo Di Canio, protegidos por Marcel Desailly, central adaptado a trinco, uma ‘invenção’ de Il Duro.

    Campeão no Santiago Bernabéu e regresso (menos feliz) a Milão

    Após completar meio século de vida, em 1996/97, o italiano ruma ao Real Madrid, onde jogava Carlos Secretário, para a sua primeira experiência fora de ‘casa’. Construiu uma equipa baseada numa defesa coesa, liderada por Fernando Hierro e com processos de construção simples: explorava a velocidade do lateral Roberto Carlos, através de bolas longas, e a magia do trio ofensivo formado por Davor Suker, Pedrag Mijatovic e Raúl González.

    Apesar de ter vencido a Liga Espanhola, foi criticado por imprensa e adeptos, quer pelo seu estilo defensivo, quer por encostar o jovem Raúl ao lado esquerdo do ataque. Voltou a Milão na época seguinte (1997/98), num passo que se revelou desastroso: zero títulos conquistados e o 10º lugar na Série A, a 30 pontos da campeã Juventus. Foi demitido.

    @Getty /

    Scudetto em Roma, mudança polémica e dois títulos revogados

    Depois de um ano sabático, Capello assumiu o comando da AS Roma (1999/00). Após umaépoca atípica, Fabio Capello contratou os argentinos Walter Samuel e Gabriel Batistutae encaixou o capitão Francesco Totti de forma perfeita no seu ‘agressivo’ 3x4x1x2. Apesar do arranque turbulento (viaturas dos jogadores atacadas e pedidos de demissão), Capello resistiu e sagrou-se campeão, em 2000/01, 18 anos depois do último título dos giallorossi, e também venceu a Supertaça italiana em 2001.

    Depressa foi apontado como sucessor de Sir Alex Ferguson no Manchester United, mas o escocês adiou a reforma e o timoneiro italiano acabou por rumar à Juventus, cuja relação com os proprietários, a família Moggi, era tensa (o técnico criticava as suas relações com os agentes futebolísticos). Na vecchia signora venceu dois scudettos (2004/05 e 2005/06), posteriormente retirados depois do Calciopoli, que conduziu à saída do técnico.

    Novo regresso a Madrid e novo título

    De regresso ao Santiago Barnabéu, em 2006/07, a sua missão era trazer o cetro de volta para a capital espanhola e que fugia aos merengues desde 2002/03. Don Fabio, como era conhecido por nuestros hermanos, lidou com os 'galáticos' e teve relações difíceis com David Beckham, Ronaldo e Antonio Cassano. Fez jus às suas capacidades de gerir balneários e egos e venceu La Liga, mas acabou por sair, mais uma vez, dos blancos devido ao seu estilo pragmático, que não agradava à afición madridista.

    Seleção inglesa, russa e despedida na Superliga chinesa

    Aos 61 anos, Fabio Capello encerrou temporariamente o capítulo dos clubes e abraçou uma nova aventura, desta feita ao nível de Seleções. O então selecionador era desejado pela sua pátria, mas acabou por ingressar na Seleção inglesa, naquele que, à partida, seria seu último trabalho no mundo do futebol. Após os Três Leões terem falhado o Euro 2008, tinham a ilusão de fazer uma boa campanha no Mundial de 2010. No entanto, a Inglaterra acabou por cair nos oitavos de final, aos pés da Argentina.

    Após o falhanço no Mundial, conseguiu garantir a presença no Euro 2012, mas saiu alguns meses antes do início prova, novamente, adivinhe-se… devido ao seu «rigoroso regime militar» e também ao seu «ridículo» e «ultrapassado» 4x4x2, como apelidou a imprensa britânica, com Steven Gerrard encostado ao lado esquerdo.

    No verão de 2012, Il Duro adiou a reforma e abraçou o (muito bem pago) projeto da Seleção russa. Apurou os russos para o Mundial de 2014 (à frente de Portugal), onde ficou pela fase de grupos, mas acabou por sair a meio da qualificação para o Euro 2016, após uma derrota caseira com a Áustria.

    Em junho de 2017, Fabio Capello assinou, com os chineses do Jiangsu Suning, o seu último contrato enquanto treinador. Terminou no 12º lugar da Superliga Chinesa e, em março deste ano, colocou um ponto final na sua curta ligação com o Jiangsu Suning e na sua longa ligação… com o futebol, sem nunca ter orientado a squadra azzurra.

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    Fabio Capello (ITA)
    Fabio Capello (ITA)

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