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      Raymond Goethals: le Sorcier

      Texto por João Pedro Silveira
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      Raymond Goethals, nasceu em Forest, na Bélgica, a 7 de outubro de 1921. Ao longo da sua longa carreira, destaca-se a conquista da Liga dos Campeões Europeus em 1993, ao serviço do Marseille.

      Conhecido no mundo da bola como "le Sorcier" (o Mago), "Raymond-la-science" (nome porque era também conhecido o famoso anarquista belga Raymond Callemin), ou "le magicien" ("o Mágico"), Goethals foi um dos grandes mestres da tática, referência incontornável do futebol belga, com uma carreira de renome que o fez treinar clubes na Bélgica e França, mas também no Brasil e Portugal

      A forma desbocada como se referia às arbitragens, aos seus jogadores ou aos adversários fazia a delícia dos jornalistas. A forma desleixada como se enganava na pronunciação dos nomes dos jogadores estrangeiros das suas equipas, o seu cerrado sotaque de Bruxelas, o cigarro constantemente acesso que lhe valia a alcunha de "a Chaminé", a sua gabardina a fazer lembrar o famoso detetive televisivo Columbo, tudo ajudava a transformar Goethals numa figura icónica do futebol belga...
       
      O jogador
       
      Raymond Goethals começou a jogar futebol nos escalões de formação defendendo a baliza do Daring Club de Bruxelas, clube que representou como sénior entre 1940 e 1947.

      Jogou depois uma época no Racing de Bruxelas, antes de passar quatro anos RFC Hannutois. Penduraria as luvas em 1957, depois de ainda ter jogado cinco anos no AS Renaisiènne.
       
      Primeiros anos no banco

      Começou a carreira de treinador ao serviço do Hannutois, onde ficou apenas uma época, passando depois por uma experiência igualmente com a duração de um ano no Waremmien. 
       
      Em 1959 assinou pelo Sint-Truiden onde permaneceu sete anos, que despertaram a atenção do selecionador nacional belga, Constant Van der Stock, que o convidou para ser treinador de campo em 1966. 
       
      Após dois anos de parceria com Van der Stock, juntou o cargo de selecionador ao de treinador dos «diabos vermelhos» que guiou ao terceiro lugar no Euro 72.
       
      Anderlecht
       
      Quatro anos depois, Raymond Goethals abandonou o comando técnico da seleção, falhando a qualificação para a fase final do Euro 76 que se disputou na Jugoslávia, regressando ao futebol de clubes. Assinou contrato com o Anderlecht, crónico campeão do futebol belga.

      Logo na primeira época chegou à final da Taça das Taças, que o clube de Bruxelas perdeu para os alemães do Hamburger SV. Na época seguinte o Anderlecht voltou à final, tendo conquistado o troféu, após bater o Austria de Viena num jogo emocionante.
       
      Acusação de corrupção

      Partiu então para França, onde orientou o Bordeaux, antes de atravessar o Atlântico para uma experiência de um ano em São Paulo. Regressou à Bélgica para orientar o Standard Liège, onde conquista o bicampeonato (1981/82-1982/83). Em 1982 conduz os le rouches à final da Taça das Taças, perdida para o FC Barcelona em pleno Camp Nou.
       
      Dois anos depois rebentou o escândalo, com Goethals a ser acusado de ter comprado os jogadores do Waterschei para que não lesionassem nenhum jogador do Standard, dias antes da final contra o Barcelona. O escândalo obrigou Goethals a demitir-se e procurar emprego fora da Bélgica. Surgiu então a possibilidade de treinar em Portugal, o Vitória de Guimarães, mas a relação com os «conquistadores» seria curta, com Goethals a regressar a casa para treinar o Racing Jet de Bruxelas, sem deixar marca em terras lusas.
       
      Regressou então ao Anderlecht, onde venceu uma taça, voltando de seguida a Bordéus, para segunda passagem pelos «girondinos», que conduziu ao segundo lugar na Ligue 1.
       
      Quase a completar 70 anos aceitou o repto de Bernard Tapie e assinou pelo Olympique Marseille, a grande potência emergente do futebol europeu que conduziu ao tricampeonato francês.
       
      Na primeira época conseguiu finalmente levar o L'OM à sua primeira final europeia, sonho que o clube já algum tempo acalentava, e que um ano antes, se perdera em Lisboa, numa derrota polémica com o Benfica.
       
      Glória em Marselha
       
      Em Bari, em um dos estádios que tinha sido um dos palcos do Itália 90, Marseille e Estrela Vermelha de Belgrado disputaram uma final muito equilibrada, numa batalha tática entre Goethals e Petrovic, que se arrastou até ao fim do prolongamento, sem vencedor declarado.
       
      No desempate através da marca de grandes penalidades, os jugoslavos foram mais fortes e levaram a taça. Na época seguinte, Goethals levou o Marseille ao tetracampeonato, mas falhou na Taça dos Campeões, sendo eliminado pelo Sparta de Praga.
       
      Só à terceira é que Goethals conduziu o Marseille à tão ambicionada vitória na Liga dos Campeões, derrotando o Milan de Fabio Capello na final de Munique, tornando-se no primeiro treinador a vencer uma competição europeia ao serviço de um clube francês.
       
      No final da época surgiram acusações que o Marseille havia corrompido jogadores do Valenciennes, perdendo assim o título conquistado no campo, seria o pentacampeonato, e o terceiro consecutivo sob a orientação do treinador belga.
       
      O Marseille foi despromovido à Ligue 2 e Tapie castigado, mas Goethals já havia abandonado o clube, com a sensação de dever cumprido, após ter finalmente conquistado a tão ambicionada «orelhuda».
       
      A sua ligação com Tapie não era fácil. Um dia pela manhã o presidente desabafou que gostava que a equipa jogasse um futebol mais bonito, ao que Raymond respondeu prontamente:
       
      «Presidente, se não está contente, apanho o comboio das nove e meia». 
       
      As polémicas
       
      Ao longo da sua carreira Raymond Goethals alimentou diversas polémicas além das que teve com Bernard Tapie. A acusação de corrupção ao serviço do Standard pairou como uma sombra, tal como o seu período em Marselha, onde ao lado de Tapie, dominou o futebol francês e conquistou finalmente a Europa.
       
      Um dos mais célebres "desencontros" da sua carreira foi com Èric Cantona, que o acusou mais tarde de ser «um palhaço e um corrupto». Mas não só de desencontros e polémicas era a feita a "personagem pública" de Goethals.
       
      O homem que respirava futebol, que mesmo em férias pensava em futebol desde o minuto que se levantava ao minuto em que adormecia à noite, era conhecido pelos laços de amizade que criava com os seus jogadores, que o consideravam «un mec fabuleux», e pelas suas extraordinárias gaffes, como quando alertou a seleção belga para o perigo da seleção francesa, em particular aquele médio, um tal de «Tzigane»... 
       
      Faleceu a 6 de dezembro de 2004, vítima de doença prolongada. Um ano depois da sua morte era votado como o 38.º belga mais importante da história, no programa televisivo, «De Grooste Belg», em português «Os grandes belgas».

       
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