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    Heysel: o coração da Europa

    Texto por João Pedro Silveira
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    Entre os palcos mais famosos do futebol europeu conta-se o Estádio Rei Balduíno em Bruxelas, historicamente conhecido como Heysel, que além de ter sido o palco de jogos memoráveis, foi também o palco de uma terrível tragédia que durante décadas assombrou o futebol europeu.

    De Laken a Heysel

    Heysel é uma zona da cidade de Bruxelas, situada na parte norte da urbe, no subúrbio de Laeken. O nome deriva da palavra neerlandesa «heizel» que significa «colina» ou «pasto escasso». O planalto de Heysel é hoje em dia sobranceiro à capital belga, mas durante séculos ficava muito distante da cidade.
     
    Ali perto corria o Heyselbeek, um afluente do Molenbeek, e nessa zona inóspita e pantanosa começaram a surgir pequenas quintas que ajudaram a domar a natureza, numa zona que então era conhecida como Laeken.
     
    O topónimo Heysel já vem registado no mapa de Huvenne em 1848 e em documentos oficiais de 1857. Em 1869 já existe uma rua do Heysel e existe uma escola com esse nome. 
     
    Aos poucos o termo Heysel foi progressivamente se impondo à designação Laeken e assim seria especialmente a partir do começo do século XX.
     
    O Centenário

    Em 1926, o estado belga cedeu ao município de Bruxelas um conjunto de terrenos no planalto de Heysel, terrenos esses pertença da coroa que ficavam próximos das propriedades reais de Laeken.
     
    Surgiu então a ideia de construir um novo parque de exposições para substituir o velhinho e já exíguo Parc du Cinquantenaire. Em 1930 a Bélgica iria comemorar o centenário da sua independência e os novos terrenos adquiridos no planalto de Heysel eram o local óbvio para a construção do novo parque de exposições e de um estádio internacional, digno da capital belga.
     
    Seria em 1929 que se iniciavam as construções daquele que viria a ser conhecido como estádio do Centenário, que foi inaugurado a 23 de agosto de 1930 pelo Príncipe Leopoldo, por ocasião do Campeonato Mundial de Ciclismo de Pista.
     

    Aquando da inauguração, o Stade du Centenaire, também conhecido como o Stade du Jubilé, tinha uma lotação de 70 mil espetadores.

    Em 1935, o planalto do Heysel foi o palco da Exposição Universal e ##Internacional de Bruxelas. Com a colonização como tema, para comemorar os 50 anos do estabelecimento do Estado Livre do Congo, a Exposição de 1935 contou com a organização do arquiteto belga Joseph Van Neck, e a contribuição de nomes sonantes como os artistas belgas René Magritte e Paul Delvaux e o arquiteto francês Le Corbusier. Enquanto decorria a exposição o estádio seria palco de atividades desportivas e culturais, como desfiles ou demonstrações de ginástica.

    Durante os anos que se seguiram até ao começo da Segunda Guerra Mundial, o estádio continuou a ser utilizado em jogos de futebol e outras atividades desportivas.

    O Heysel do pós-guerra

    Com o fim do conflito o estádio perde a sua pista de ciclismo e muda nome, passando a chamar-se Stade du Heysel. Durante décadas seria utilizado em jogos dos diabos vermelhos (1), finais da Taça da Bélgica e diversos jogos de equipas locais.

    @Getty / Claudio Villa
    A partir da segunda metade da década de 50 a UEFA passou a organizar competições europeias de clubes e o estádio na capital belga tornou-se num palco privilegiado das grandes finais.

    Em 1958, ano em que Bruxelas recebeu a Expo e apresentou ao mundo o Atomium, a capital presenciou a terceira vitória do Real Madrid na Taça dos Campeões Europeus. Seis anos depois, foi a vez de Sporting e MTK de Budapeste se encontrarem na final da Taça dos Vencedores das Taças. O jogo terminaria com um empate a três bolas, obrigando a um desempate em Bruxelas, que o Sporting venceria graças ao canto direto de Morais

    Seguiu-se nova vitória do Real Madrid (a sexta) na Taça dos Campeões, desta feita em 1966, sobre os jugoslavos do Partizan de Belgrado.

    Em 1974 o Heysel não foi tão simpático para a outra equipa de Madrid, com o Atlético a cair no desempate com o Bayern

    Na Taça das Taças, o Heysel voltaria a ser palco de duas finais na década de 70, com vitórias do Anderlecht sobre o West Ham (4x2) e do Valencia sobre o Arsenal.
     
    A Tragédia do Heysel
     
    A 29 de Maio de 1985 o futebol europeu viveu a sua hora mais triste. Momentos antes de começar a final da Taça dos Campeões Europeus entre a Juventus e o Liverpool, os adeptos ingleses avançaram sobre os adeptos italianos que em pânico tentaram fugir, espezinhando dezenas que se encontravam encurralados contra as grades. Um número incontável de feridos e 38 vítimas mortais mancharam com sangue a mais importante prova do calendário europeu de clubes.
     
    Inexplicavelmente a UEFA não suspendeu o jogo que se disputou momentos depois, com os italianos a vencerem por 1x0.
     
    O Desastre do Heysel transformou para sempre o futebol europeu. Os clubes ingleses foram suspensos das provas europeias e os estádios sofreram alterações profundas nos anos que se seguiram.
     
    O Heysel seria profundamente remodelado, apresentando nova cara no começo dos anos 90. Em 1993 o estádio seria batizado como Roi Baudoin - Rei Balduíno - pois o antigo nome estava por demais associado à tragédia.
     
    No dia 23 de agosto de 1995, 65 anos volvidos da inauguração do Estádio do Centenário, a família real belga assistiu ao Bélgica x Alemanha, o jogo de inauguração depois da remodelação, que ficou orçada em 37 milhões de euros, ao câmbio atual.
     
    @Getty / Ben Radford
    Em 1996 o estádio voltaria a ser palco de uma final europeia, quando o PSG se impôs aos austríacos do Rapid de Viena por 1x0.
     
    Um ano mais tarde terminaram as obras que permitiram que o estádio recebesse as cinco estrelas da UEFA, o que permitiu receber o jogo de abertura do Euro 2000 entre a Bélgica e a Suécia (2x1).
     
    Durante o torneio, o Rei Balduíno seria o palco dos três jogos da equipa da casa, que contudo seria eliminada depois das derrotas com a Itália e a Turquia.
     
    Nos quartos de final a Itália eliminou a Roménia, mas seria o jogo da meia-final entre a França e Portugal que ficou na memória dos adeptos de futebol, com a França a vencer Portugal com o golo de ouro de Zinedine Zidane, na conversão de uma grande penalidade que castigou a mão de Abel Xavier.
     
    Terminada a competição o recinto perdeu as cinco estrelas e passou a fazer parte da categoria «4 estrelas», baixando para as «3 estrelas» em 2006.
     
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    (1) alcunha por que é conhecida a seleção nacional belga.
     

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    Equipa
    Estádio
    Stade Roi Baudouin
    Lotação50122
    Medidas106x66
    Inauguração1930