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    Gusztáv Sebes: pai do futebol socialista

    Texto por João Pedro Silveira
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    O jogador

    Gusztáv Sebes, Sebes Gusztáv na ordenação húngara, nasceu a 22 de janeiro de 1906 em Budapeste, parte do Império Austro-Húngaro, e foi batizado como Gusztáv Scharenpeck (nome de família). Filho de um sapateiro judeu, Gusztáv viveu algumas dificuldades.
     
    Desde pequeno que se apaixonou por futebol a que se dedicava com afinco, jogando com amigos e vizinhos. Começou a jogar futebol num clube local, o Müszaki Dolgózok, mais tarde passando pelo Vasas.
     
    Ainda jovem começou a conviver com a política, seduzido pelo marxismo, assume-se como socialista e torna-se num destacado membro de um sindicato em Budapeste, papel que cumpriria também em França, para onde emigrou, arranjando trabalho na fábrica da Renault em Billancourt, a norte de Paris, onde trabalhou quatro anos. Enquanto trabalhava, jogou também no clube da empresa, o Club Olympique de Bilancourt, antes havia jogado no Sauvages Nomades durante uma época
     
    Regressou então para a sua Hungria natal onde jogou no MTK Hungária de Budapeste, mais tarde sob a denominação Hungária. Sagrou-se campeão nacional em 1929 no MTK, e em 1936 e 1937 já debaixo da denominação Hungária, sob a qual já havia vencido a Taça da Hungria em 1932. No fim da Segunda Guerra Mundial ainda jogou uma época, contava então 39 anos, mas rapidamente abraçou a carreira de treinador.
     
    O treinador

    Com fim da Primeira Guerra Mundial a Hungria separara-se da Áustria e abandonara o Império. Até 1946 a Hungria foi um reino, tendo alinhado ao lado da Alemanha Nazi na Segunda Guerra Mundial. Com a derrota e a ocupação soviética, seria proclamada a República a 1 de fevereiro de 1946. A República Popular seria proclamada a 20 de Agosto de 1949.
     
    Gusztáv Sebes há muito que era um simpatizante comunista, quando da chegada dos soviéticos, por fim podia expressar abertamente o seu socialismo e em pouco tempo, pôde fazer valer as suas credenciais políticas no futebol húngaro.
     
    Politicamente instruído, socialista de velha guarda e devoto apaixonado pelo jogo, Sebes era o homem certo para introduzir os ideais políticos do novo regime comunista no mundo do futebol.
     
    Sebes juntou-se a Bala Mandik e Gabor Kompoti-Kleber para formar um triunvirato que liderou a seleção magiar de futebol, antes de ser nomeado Ministro do Desporto e supremo responsável pelo futebol húngaro.
     
    Sebes era um estudioso do desporto, inspirado por Hugo Meisl e a sua maravilhosa Wunderteam e pela Itália bicampeã mundial de Vittorio Pozzo, mas também por Jimmy Hogan e pelo seu compatriota Marton Bukovi, que tinham adaptado as táticas inglesas muito em voga às idiossincrasias do futebol continental, como o WM que Herbert Chapman imortalizara no Arsenal e que Bukovi adaptou, numa nova abordagem que estaria na génese do 4-2-4 com que o Brasil se sagraria pela primeira vez campeão mundial, em 1958, na Suécia.
     
    Revolução magiar
     
    O governo de Budapeste tinha "nacionalizado" o futebol nacional, mexendo na estrutura dos clubes que passaram a ser geridos por administradores nomeados pelo governo.
     
    Diversos setores do estado, de sindicatos ou associações de trabalhadores, assim como as forças armadas tomaram conta de diversos clubes, como o MTK que passou a ser controlado pela Államvédelmi Hatóság ou ÁVH (Autoridade de Proteção do Estado), enquanto por exemplto o Kispest AC (Honved) ficou debaixo da autoridade do Ministério da Defesa. 
     
    O decretar do serviço militar obrigatório permitiu ao Kispest ter o mais alargado campo de recrutamento do país. Sebes ficou atento desde a primeira hora a estes dois clubes, que se tornaram na base da sua seleção. 
     
    Um dos pilares do sistema de Sebes era chamar o maior número possível de jogadores do mesmo clube, para facilitar o entendimento e a química entre eles.
     
    Mas mais que a organização do futebol no país, a visão socialista de Sebes mudou a própria abordagem tática do futebol húngaro. Nasceu então o "Futebol Socialista", baseado no princípio da igualdade entre todos os jogadores da equipa, com cada um deles a ter iguais responsabilidades defensivas como ofensivas, com todos os jogadores a poderem jogar em todas as posições do campo, antecipando em 20 anos o "Futebol Total" de Rinus Michels. 
     
    Estas alterações acabaram com a rigidez da formação das equipas, a partir da revolução de Sebes, um jogador deixava de estar preso a uma posição, acabando a limitação de avançar ou recuar para uma área que não era sua.
     
    Esta alteração permitiu que alas trocassem de posição com interiores, que avançados e médios, e médios e defesas trocassem de papéis sempre que necessário.
     
    Nos Jogos Olímpicos de 1952, a equipa húngara surgiu em toda a sua força, vencendo a medalha de ouro e batendo toda a concorrência. O resto do Mundo conhecia a nova potência do futebol mundial, nascia o mito dos magos magiares.
     
    O Mundo nunca vira nada igual, aquele 4-2-4, que evoluíra do MM de Bukovi apanhou toda a oposição desprevenida, com jogadores perdidos no campo sem saber a quem marcar.

    Quase campeão do Mundo
     
    Sebes sentia que a sua "máquina" estava afinada e aceitou o desafio dos "inventores do jogo" e levou a sua Equipa d'Ouro a Londres para enfrentar a Inglaterra.
     
    Em Wembley, a Hungria deu espetáculo e venceu claramente por 3x6. Caía por terra a superioridade inglesa, que meses depois visitou Budapeste e perdeu por 7x1. O futebol inglês estava a anos-luz do futebol dos magos magiares.
     
    A equipa de Sebes estava repleta de grandes jogadores como Ferenc Puskás, Zoltán Czibor, Sándor Kocsis, Nándor Hidegkuti, József Boszik, László Budai e Gyula Grosics, conseguindo uma histórica invencibilidade de 32 jogos que culminou na final do Campeonato do Mundo de 1954. Contra todos os prognósticos e depois de estar a vencer por 2x0, a Hungria perdeu a final e viu a Taça Jules Rimet "fugir" para a Alemanha Ocidental.
     
    Depois da final, a Hungria começou uma nova sequência de 18 jogos, que terminou numa derrota em Bruxelas, com a Bélgica, a 3 de junho de 1956. Sebes seria demitido, sendo para o seu lugar chamado Bukovi, que conduziu os magos magiares numa histórica vitória em Moscovo sobre a URSS. 
     
    Meses depois, em outubro, uma revolução rebentou em Budapeste, o regime comunista foi posto em causa e a maior parte dos jogadores da seleção húngara encontrava-se no estrangeiro, ao serviço do Honved, num jogo da Taça dos Campeões Europeus.
     
    A esmagadora maioria deles não regressou a casa, no começo do mês de Novembro a União Soviética invadiu a Hungria e terminou com o novo governo surgido da revolução. O regime endureceu e todo o desvio da ortodoxia comunista foi severamente punido.
     
    Sebes voltaria a assumir temporariamente o controlo da equipa, mas em 1957 abandonou definitivamente a seleção. Treinou ainda um pequeno clube local em 1968 e deixou o futebol para sempre. Acabaria por falecer em Budapeste, a 30 de janeiro de 1986, precisamente uns meses antes da Hungria participar pela última vez na fase final de um Campeonato do Mundo. 
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    Fotografias(2)

    Gusztáv Sebes
    Gusztav Sebes (HUN)

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