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Wolfsburg

Texto por João Pedro Silveira
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Verein für Leibesübungen Wolfsburg e. V., conhecido entre nós como VfL Wolfsburgo é uma das forças emergentes do futebol alemão no novo milénio.

A sua história ainda é curta, se tomarmos como comparação os seus principais adversários na Bundesliga. Contudo, os últimos vinte anos foram de um crescimento desportivo sustentado dos "lobos" da Baixa Saxónia, ao ponto de se cimentar entre os principais clubes germânicos na segunda década do novo século.

Durante anos, o Wolfsburg era um mero clube fabril dos operários da Volkswagen. A ligação dos "lobos verdes" ao gigante da indústria automóvel é umbilical e remonta aos anos 30....

As origens: o carro do povo

A história do Wolfsburg remonta ao período nazi e a um período de profunda transformação política e económica da Alemanha durante o III Reich. Os nazis tinham subido ao poder em 1933 e ansiavam mudar por completo a organização social e económica do país. Adolf Hitler sonhava com uma Alemanha tecnologicamente avançada e economicamente poderosa. 

A indústria automóvel alemã era incipiente, produzindo carros de luxo em detrimento do grande público, ao contrário do que acontecera nos EUA com a Ford e o seu emblemático modelo T que generalizara o uso do automóvel.

Em meados da década só um em cada cinquenta alemães tinha carro, Hitler queria mudar isso e lançou o projeto de se construir um carro por menos de mil marcos. Nascia o sonho do "carro do povo", com o governo nacional socialista a fazer pressão sobre os grandes barões da indústria germânica, com o intuito de produzir esse automóvel. Ao mesmo tempo o estado lançava uma rede de autobahns (autoestradas) por todo o país que necessitava com urgência um grande número de carros.

Por toda a Alemanha surgiam slogans como «Fünf Mark die Woche musst du sparen, willst du im eigenen Wagen fahren» (1) que incentivavam o comum trabalhador alemão à poupança.

Todavia, a falta de investimento privado obrigou o governo nazi a tomar as rédeas do plano e a investir fortemente. Um dos grandes investimentos seria a construção de uma cidade na Baixa Saxónia para albergar a fábrica e ser a casa dos milhares de trabalhadores necessários. 

A 1 de julho de 1938 nascia a Stadt des KdF-Wagens bei Fallersleben (Cidade do Carro KdF (2) em Fallersleben) mas pouco mais de um ano depois, com o ínicio da Segunda Guerra Mundial, o complexo industrial deixaria a produção automóvel em detrimento do esforço de guerra alemão. 

Lobos

O primeiro clube afiliado com a fábrica seria o BSG Volkswagenwerk Stadt des KdF-Wagen, equipa dos operários e dos seus familiares. Esta equipa começaria a disputar a primeira divisão da Gauliga Osthannover em 1943/44 e participaria na edição seguinte, que seria interrompida quando a região foi ocupada pelos aliados.

As autoridades inglesas interromperam as competições desportivas na região e a cidade seria rebatizada com o nome de um famoso castelo que se locava na região: Wolfsburgo.

A Cidade dos Lobos não deixava de ser uma escolha curiosa, tendo em vista que Hitler era conhecido nos círculos mais próximos como Wolf (pt: Lobo) e tinha o seu famoso Quartel General da Frente Oriental no Wolfsschanze, em português A Toca do Lobo

Um clube operário 

Já terminado o conflito, a 12 de setembro, o clube renascia pela mão do treinador Bernd Elberskirch com o nome de VSK Wolfsburg. O treinador também foi responsável pelas novas cores do clube ao oferecer à equipa dez camisolas verdes que tinha em casa. Os calções brancos seriam doados pelos adeptos que reuniram lençóis brancos, que as mães e mulheres dos jogadores coseram para se tornarem numa peça de equipamento. 

A Alemanha do pós-guerra era um mar de ruínas. A vida no que fora o III Reich era de uma luta pela sobrevivência diária. Em dezembro o clube esteve quase a acabar, quando com a exceção de um jogador, todos os restantes abandonaram a equipa para jogar no novo 1. FC Wolfsburg. Josef Meyer, o resistente, juntou-se ao amigo Willi Hilbert para trazer novos jogadores para o clube. 

Seria este novo grupo que estaria na refundação da equipa como Verein für Leibesübungen (VfL) Wolfsburg, com VfL a significar em português Clube para Exercícios

Em 1946 o Wolfsburg recebeu o todo-poderoso Schalke 04 num amigável no estádio pertença da Volkswagen, nova denominação da empresa depois do fim da guerra. 
 
Lento crescimento
 
Durante anos o clube cresceu lenta, mas paulatinamente, conquistando diversos campeonatos regionais inferiores até finalmente subir à Oberliga Nord em 1954, onde se manteria com grandes dificuldades até à despromoção em 1959. 
 
Quando a Bundesliga nasceu em 1963 o VfL jogava na Regionalliga Nord (2.º escalão), passando a atuar na Verbandsliga Niedersachsen (3.º escalão) no ano seguinte.

Desde meados da década seguinte até ao começo dos anos 90 os Die Wölfe jogaram no terceiro escalão, na Amateur Oberliga Nord. Duas vitórias na edição de 1991 e 1992 valeram a promoção à 2. Bundesliga, permitindo ao VfL voltar a competir num campeonato de âmbito nacional. No ano de estreia no segundo escalão conseguiu a manutenção com alguma dificuldade. 
 
Contra a expectativa geral o Wolfsburg manteve-se no segundo escalão do futebol germânico e em 1995 causou grande surpresa quando avançou pela primeira vez até à final da Taça da Alemanha que perderia naturalmente para o Borussia Mönchengladbach (0x3) do primeiro escalão.
 
Clube de topo
 
Em 1997 os verde-e-brancos chegaram pela primeira vez ao pódio, conseguindo um histórico segundo lugar garantindo pela primeira vez a promoção à Bundesliga
 
No ano de estreia entre os grandes o Wolfsburg conseguiu um 14.º lugar, exatamente a mesma posição que conseguira na estreia no segundo escalão.  Na segunda época o clube manteve-se na luta pela Champions até à última jornada, onde seguia num extraordinário 4.º lugar, mas uma pesada goleada em Duisburgo (6x1) acabou com o sonho e os lobos tiveram que se contentar com a qualificação para a Taça UEFA.
 
Durante os anos seguintes o Wolfsburg manteve-se como um clube de meio da tabela, disputando regularmente a Taça Intertoto. Os dois 15.º lugar consecutivos em 2006 e 2007, com o VfL a conseguir a salvação in extremis, provocaram uma pequena transformação no clube.
 
Felix Magath saíra de Munique sem sucesso e os lobos receberam-no de braços abertos. Em Wolfsburgo começou a montar uma equipa que fez furor. Quinto classificado na época seguinte, Magath reuniu a equipa em volta das suas estrelas: o brasileiro Grafite e o bósnio Dzeko. 
 
Numa prova atípica o Wolfsburgo manteve-se na primeira parte da tabela enquanto a liderança esteve na maior parte do tempo nas mãos do Hoffenheim e mais tarde do Hertha de Berlim.
 
A nove jornadas do fim os verdes chegaram ao primeiro lugar e nunca mais abandonaram a posição, terminando a Bundesliga com uma épica vitória sobre o Werder Bremen que garantiu o primeiro título do seu historial, com mais dois pontos que o segundo classificado, o Bayern de Munique.
 
Novos sonhos
 
Na Liga dos campeões o clube não conseguiu passar da primeira fase sendo repescado para a Taça UEFA onde chegou aos quartos-de-final, eliminado pelos ingleses do Fulham.
 
Felix Magath abandonara o clube depois do título e o seu sucessor Armin Veh não aqueceu o lugar saindo na pausa de Inverno. Steve McLaren chegaria na época seguinte mas o Wolfsburg depois de falhar a defesa do título com um 8.º lugar, conseguiu novamente a manutenção in extremis com novo 15.º lugar.
 
O susto fez os dirigentes voltarem a chamar Magath, mas o segundo consulado do treinador alemão não correu tão bem como o primeiro e acabou por ser despedido na segunda época, após falhar os objetivos do clube. 
 
 
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(1) «Tens de poupar cinco marcos por semana se queres conduzir o teu próprio carro».
(2) KdF - Kraft durch Freude - Força pela Alegria - era uma organização política da Alemanha Nazi com o objetivo de organizar, controlar e sincronizar as atividades de lazer da população. Criada em 1933, a KdF fazia parte da Deutsche Arbeiterfront (DAF, em português: Frente Alemã de Trabalho), uma organização que reunia empregados e empregadores alemães. O principal objetivo das atividades da KdF era aumentar o desempenho e a produtividade dos trabalhadores. Culturalmente a KdF propagandeou a Volksgemeinschaft (termo nazista, em português - literalmente: comunidade do povo), o patriotismo e a imagem de um povo alemão educativo e pacífico no exterior. Entre as mais reconhecidas medidas e políticas implementadas pela KdF contam-se o plano de férias para todos os alemães, o que a tornou na maior operadora de viagens do mundo e o projecto do carro do povo. 
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