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    História da Edição

    África do Sul 2010: Si se puede!

    Texto por João Pedro Silveira
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    Em 2010 finalmente o Campeonato do Mundo chegou a África. Um sonho antigo, de décadas, tornou-se realidade a 15 de maio de 2004, quando a candidatura sul-africana bateu a marroquina e a egípcia.

    A nação de Nelson Mandela tomou em mãos a tarefa hercúlea de ser o primeiro país africano a receber a «maior festa do Mundo».

    Dez estádios em nove cidades de Polokwane no norte à Cidade do Cabo no extremo sul do continente. 32 anos decorridos desde o mundial argentino, o Campeonato do Mundo voltava ao hemisfério sul, provocando preocupações nas comitivas do hemisfério norte, especialmente as europeias, preocupadas com as mudanças de clima. 

    Europeias começam a tremer

    Depois da anfitriã e o México empatarem a uma bola na estreia, as equipas europeias pareciam entrar a dormir na prova. A França empata a zero com o Uruguai, a Grécia perde com a Coreia do Sul (0x2) e a Inglaterra cede um empate com os Estados Unidos a uma bola. 

    Só a 13 de junho é que a primeira seleção europeia venceu, a Eslovénia, batendo a Argélia por 1x0. Ainda nesse dia, a Alemanha goleou a Austrália por 4x0.

    Holandeses e argentinos venceram respetivamente Dinamarca e Nigéria, enquanto o Brasil bateu a Coreia do Norte com um curto 2x1. No mesmo grupo de brasileiros e coreanos, Portugal empatou a zero com a Costa do Marfim de Drogba.

    A Itália, campeã em título, empatava com o Paraguai, enquanto a Espanha, campeã europeia, era surpreendida pela Suíça na estreia (0x1) em Durban. A Europa parecia não arrancar...

    Segunda ronda: de surpresa em surpresa

    A segunda jornada aprofundou a crise dos «grandes». No Grupo A a França perdia por 0x2 com o México e graças à vitória Uruguaia por 3x0 sobre a África do Sul ficava a fazer contas para um não empate na última jornada entre uruguaios e mexicanos.

    No grupo C, nova surpresa, com a Inglaterra a empatar a zero com a Argélia, enquanto americanos e eslovenos empatavam a duas bolas. 

    No grupo D a Alemanha foi a cliente que se seguiu na rota das surpresas. Um golo solitário de Jovanovic deu aos sérvios uma vitória que deixou a Alemanha preocupada para a última jornada, obrigada a vencer o Gana para terminar em primeiro lugar no grupo.

    Enquanto a Holanda passava pelo Japão no grupo E, a Itália era surpreendida pela quase amadora Nova Zelândia que obrigava os campeões do Mundo a um segundo empate em dois jogos.

    Brasil (3x0 à Costa do Marfim) e Portugal (7x0 à Coreia do Norte) deram um passo gigante para a qualificação, enquanto as vitórias de Chile e Espanha no grupo H, baralhavam as contas para a última volta.

    Ciao Itália

    A França seria a primeira ex-campeã do Mundo a cair, derrotada pela África do Sul no último jogo (1x2). Os bleus sairam da prova sem honra nem glória, vencidos dentro e fora do campo, com conflitos internos, insultos e supostas agressões ao treinador. 

    A vizinha Itália seguiria os passos da França, ao perder por 2x3 com a Eslováquia no último jogo do grupo. A Itália estava fora e não podia defender a coroa conquistada quatro anos antes.

    A última jornada confirmou as qualificações de ingleses, alemães e espanhóis, que recuperam dos insucessos iniciais, acompanhados respetivamente por norte-americanos, ganeses e chilenos.

    Brasil e Portugal empataram a zero e garantiram ambos a qualificação. Por sua vez a Holanda e a Argentina passaram para os oitavos só com vitórias, acompanhados pelos asiáticos Japão e Coreia do Sul.

    A debacle europeia

    Aos oitavos de final chegaram somente seis europeus, nunca tinham passado tão poucas seleções europeias para a segunda fase desde que fora instituído os oitavos de final no mundial de 1986.

    Para piorar as contas europeias, as seis seleções do «Velho Continente» jogaram entre si três jogos dos oitavos, garantindo que só três chegassem aos quartos de final.

    Alemanha x Inglaterra, Portugal x Espanha e Eslováquia x Holanda eram os jogos em questão. Se a vitória da Holanda sobre os eslovacos era esperada (2x1), a goleada alemã sobre a Inglaterra (4x1) entrou diretamente para lista dos «clássicos» dos mundiais, com muita polémica à mistura, e um golo mal anulado a Frank Lampard, que seria o 2-2.

    Já no duelo ibérico imperou a tática, com a vitória a sorrir aos espanhóis graças ao golo de David Villa.

    A América do Sul, por sua vez, estava em grande com a qualificação de quatro equipas para os quartos de final. Uruguai e Paraguai eliminaram os asiáticos (Japão e Coreia do Sul), enquanto a Argentina repetiu 2006 e voltou a eliminar o México nos oitavos.

    Por último o Brasil, que com classe ultrapassou o Chile (3x0) tal como fizera em 1998.

    O Crime Compensa

    [Leia o texto: Uruguai x Gana: A mão de Deus do século XXI]

    Ultrapassada a República da Coreia nos oitavos, os uruguaios tiveram que enfrentar o Gana nos «quartos». O embate entre a Celeste e os magos africanos perdurará na memória como um dos grandes clássicos da história dos mundiais. Ao golo de Muntari na primeira parte, Forlán empatou na segunda parte. Suaréz salvou a equipa, defendendo a bola com a mão no último minuto do prolongamento.

    O árbitro português Olegário Benquerença marcou a grande penalidade e expulsou o avançado uruguaio, mas a Asamoah falhou a conversão e o jogo teve de ser decidido nas grandes penalidades. «O crime compensa» terão pensado muitos dos que assistiam ao desempate através da marcação de grandes penalidades, quando El Loco Abreu qualificou os charruas com uma Panenka

    Europa muda a sorte

    A Alemanha parecia embalar para o título, chegando à estaca quatro pela terceira vez na prova. Depois de ter despachado a Inglaterra (4x1), despachou a Argentina de Maradona com igual dose (4x0), lançando o pânico na concorrência.

    A 2 de julho em Port Elizabeth, mais um clássico do futebol mundial: Brasil x Holanda. Que já se haviam encontrado a jogos a eliminar em 1974, 1994 e 1998.

    Nessa tarde de sol, o Brasil entrou melhor com um golo de Robinho. Já no segundo tempo Sneijder bisou (53´ e 68´) e a expulsão de Filipe Melo cinco minutos depois deitou por terra a recuperação brasileira. 

    A 3 de julho no Ellis Park em Joanesburgo, Espanha e Paraguai jogavam pela última vaga nas meias-finais. O jogo equilibrado, atingiu o zénite quando Óscar Cardoso desperdiçou uma grande penalidade que dava a vantagem aos sul americanos. Pouco depois David Villa marcou o único golo da partida e a Espanha chegou pela primeira vez às meias-finais da prova, pois em 1950, ao contrário das outras edições, tinha-se disputado uma poule final.

    Nas meias-finais, tudo começa com um espetacular embate entre uruguaios e holandeses. A Laranja Mecânica venceu por 3x2, voltando a uma final, 32 anos depois.

    No dia seguinte, em Durban, a Espanha repetiu Viena onde dois anos antes batera a Alemanha na final do Euro por 1x0. Se na capital austríaca o golo fora autoria de Torres, na cidade onde Fernando Pessoa viveu, a vitória chegou com uma cabeçada do defesa central do Barcelona, Carles Puyol.

    Si se puede!

    Este era o mote e canto que guiou os espanhóis desde a derrota no primeiro jogo contra a Suíça, até ao jogo decisivo no Soccer City em Joanesburgo. «Si se puede!» uma versão espanhola do «Yes we can» de Barack Obama, era ouvido em todos os estádios em que a Espanha jogava, por todas as cidades do país vizinho e fazia capa de jornais e abria telejornais.

    No majestático palco da final, dois históricos do futebol mundial sabiam que iriam colocar as mãos na «copa» pela primeira vez na sua história. Depois de Uruguai, Itália, Alemanha, Brasil, Inglaterra, Argentina e França, haveria um novo campeão do Mundo, o «oitavo eleito».

    A Espanha escreveu história ao ser o primeiro campeão a vencer a prova sem ter vencido o primeiro jogo. A partida ficou marcada pela dureza excessiva dos holandeses e pelas oportunidades perdidas por Robben, que na cara de Casillas não soube ultrapassá-lo.

    No prolongamento, Iniesta não perdoou e a Espanha conquistou a Taça, deixando para a Holanda o triste recorde de ter disputado três finais e ter sofrido três derrotas...

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