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    Manchester United

    Texto por João Pedro Silveira
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    Começando na indústria passando pela poesia e pela pintura que a imortalizaram, terminando no «Madchester» - o som distintivo das suas bandas pop rock, a cidade de Manchester é orgulhosa da sua história e da sua identidade.

    Cidade motor da revolução industrial do século XIX, onde a deplorável condição dos seus trabalhadores seria objeto de estudo de Friederich Engels – que viveu na cidade - e Karl Marx, a cidade de Manchester que viu nascer ícones da cultura pop como os The Smiths, Joy Division ou Stone Roses, tem no Manchester United o seu mais famoso e conquistador símbolo.
     
    Newton Heath LYR
     
    Fundado em 1878 com o nome de Newton Heath L&YR Football Club, formado por operários e ferroviários da Lancashire and Yorkshire Railway (LYR) no bairro de Newton Heath em Machester,  o clube participou pela primeira vez na Liga Inglesa de Futebol em 1892. Por essa altura tinha já se tornado independente da LYR e passou a denominar-se apenas Newton Heath FC.
     
    Em janeiro de 1902, com uma dívida que ascendia a 2,670 libras - equivalente a 210 mil libras ao câmbio de 2012 - o clube viu-se confrontado com uma declaração de insolvência. O Capitão Harry Stafford, conseguiu reunir quatro investidores locais, incluindo um John Henry Davies, que com uma contribuição de 500 libras cada um, garantiram a continuação do clube, que a 26 de Abril de 1902 mudou o nome oficial da coletividade. Nascia o Manchester United.
     
    Os pioneiros: Davies e Mangnall
     
    Os pioneiros do Manchester United
    Davies, um empresário ligado ao negócio da Cerveja, tornou-se presidente do clube, e foi responsável pela alteração do equipamento de verde e dourado, para o hoje em dia clássico, camisola vermelha e calção branco.
     
    Com Ernest Mangnall como Manager nesses primeiros anos dos red devils, o clube acabou por ascender à primeira divisão em 1906, que venceria em 1908, naquele que foi o primeiro título de campeão do colosso inglês.
     
    Alguns dos heróis dessa conquista tinham sido recrutados ao vizinho Manchester City, que estava suspenso por ter ultrapassado o limite máximo do tecto salarial imposto pela liga inglesa, dando inicio a histórica rivalidade entre os dois clubes mancunianos.
     
    Um ano depois, o clube mudava-se de armas e bagagens para Old Trafford, a sua casa, o mítico estádio que com o tempo ficaria conhecido como o «Teatro dos Sonhos».
     
    Em 1911 o United conquistaria o seu segundo campeonato, antes de ver Mangnall partir para o vizinho City, na primeira vingança dos citizens sobre os red devils.
     
    Jack Chapman, o primeiro escocês
     
    O clube entraria então numa fase de lento declínio que culminaria com a primeira despromoção em 1922, o que levou a contratação do escocês Jack Chapman, o primeiro «não-inglês» a comandar o leme dos red devils, antecipando a longa tradição entre o clube e os treinadores escoceses, que seria sinónimo de sucesso.
     
    Voltando à primeira divisão em 1925, voltaria a ser despromovido em 1931, um ano antes, do clube se unir ao Manchester City, para impedir - com sucesso! - a ascensão do Manchester Central à I Liga, com o propósito de impedir que a cidade se dividisse em três clubes.
     
    Os anos 30 trariam a continuação das subidas e descidas do clube, que se encontrava na primeira divisão quando o campeonato foi interrompido pela II Guerra Mundial em 1939.
     
    A era de Busby
     
    Matt Busby, lendário treinador do Manchester United entre 1945 e 1971
    Findo o conflito, foi um ex-combatente e antiga estrela do rival City, que chegou a Old Trafford para mudar a história do clube. O seu nome, Matt Busby, seria no futuro um sinónimo da glória do Manchester United.
     
    Logo na primeira época à frente da equipa, Busby conduz os seus jogadores ao vice-campeonato (o primeiro de quatro num espaço de cinco anos), para na época seguinte liderar o clube na conquista da sua segunda FA Cup, 39 anos passados da conquista da primeira.
     
    Em 1952 conquista a Liga após um longo jejum de 41 anos. Quatro anos depois, nova conquista, com uma equipa com uma média de 22 anos que assombrou a Inglaterra marcando 106 golo numa época – novo recorde – e passou à história como os Busby Babes [Os bebés de Busby], iniciando uma era que prometia ser dourada na história do clube.
     
    Participantes na primeira edição da Taça dos Campeões Europeus, esmagaram pelo caminho o Anderlecht com 10x0, antes de caírem nas meias-finais às mãos do futuro vencedor Real Madrid de Di Stéfano.
     
    O desastre de Munique
     
    Na época seguinte, no regresso a casa depois de terem eliminado o Estrela Vermelha de Belgrado nos quartos-de-final da Taça dos Campeões, o avião que transportava a equipa, treinadores e jogadores, juntamente com jornalistas, sofreu um brutal acidente quando tentava levantar voo depois de uma paragem no aeroporto de Munique, na Alemanha.
     
    Relógio em Old Trafford marca a data da tragédia de Munique
    O desastre aéreo de Munique, no dia 6 de fevereiro de 1958, reclamou a vida de 23 pessoas, entre elas estavam oito jogadores do clube: Geoff Bent, Roger Byrne, Eddie Colman, Duncan Edwards, Mark Jones, David Pegg, Tommy Taylor e Billy Whelan.
     
    Entre os sobreviventes encontravam-se o treinador Matt Busby e o jovem Bobby Charlton, jogador à volta do qual, o treinador reconstruiria a equipa nos anos que se seguiram.
     
    A geração dourada dos anos 60
     
    A Charlton se juntariam jogadores como Denis Law e Pat Crecarand, e claro, o inconfundível e genial George Best. Os títulos voltariam em 1965 e 1967, mas a consagração chegaria em 1968, em Wembley, com uma vitória de 4x1 sobre o Benfica na final da Taça dos Campeões Europeus.
     
    Bobby Charlton contra o Benfica.
    Na época seguinte Busby abandonaria o clube, mas os maus resultados obrigaram o velho timoneiro a voltar mais uma época em 1970-71. Com o fim da geração de Charlton, Law e Best, o Manchester United acabou por ser despromovido em 1974, recuperando o lugar entre os grandes logo na primeira tentativa.
     
    O declínio pós-Busby e o reinado de Ferguson
     
    Anos complicados, apenas amenizados pelas três Taças de Inglaterra conquistadas, levaram o clube a contratar o técnico escocês Alex Ferguson, que levara o Aberdeen a conquistar uma Taça das Taças, além de três campeonatos da Escócia numa liga desde sempre polarizada por Celtic e Rangers.
     
    Quando Ferguson chegou o Man. United tinha sete ligas nas vitrinas do seu museu, bem distante das 16 do glorioso e rival Liverpool. Em 2011, 25 anos depois de se tornar manager dos mancunianos o United tornava-se o clube inglês com mais campeonatos conquistados (19), ultrapassando a cifra do Liverpool.
     
    Mas os primeiros anos foram difíceis, com o clube a continuar a longa travessia do deserto. Em 1989 conquistou a FA CUP, o seu primeiro troféu enquanto treinador dos red devils, seguiu-se a Taça das Taças no ano seguinte, conquistada contra o FC Barcelona.
     
    O fim do jejum: os Fergie Boys
     
    David Beckham, um dos heróis da vitória sobre o Bayern por 2x1 na final da Champions em 1999 no Nou Camp de ##Barcelona.
    Em 1992-93 o clube conquistava a Premier League iniciando um longo período de domínio no futebol inglês. Reunindo uma equipa que começava na segurança inconfundível de Peter Schmeichel, passando pela experiência de Mark Hughes, Paul Ince ou a classe de Kanchelskis e a genialidade única de Éric Cantona, o Manchester United lançou uma geração de jovens talentosos que ficou conhecida como os Fergie Boys: o galês Ryan Giggs, Paul Scholes, os irmãos Neville, Nicky Butt e o mediático David Beckham.
     
    Sucesso atrás de sucesso, liderada pela raça de Roy Keane mas já sem Kanchelskis e Cantona, a equipa que se viu reforçada com o poder de fogo de Teddy Sheringham, Dwight Yorke, Andy Cole e Ole Gunnar Solskajer, atingiu a glória quando conquistou a Liga dos Campeões, numa final épica em Nou Camp contra o Bayern, com uma reviravolta histórica conseguida nos três minutos extra concedidos por Pierluigi Collina.
     
    A época que ficaria conhecida como a do treble, terminaria com a consagração mundial ao vencer o Palmeiras na final da Taça ##Intercontinental. 
     
    Beckham, CR7 e Rooney: Man United global

    Os anos 2000 consagraram o Manchester United como um campeão crónico da Premier League e uma marca global com jogadores que se tornaram estrelas planetárias como David Bekcham ou Cristiano Ronaldo.
     

    Em maio de 2005, a família Glazer adquiriu grande parte das ações do clube, passando a controlar o clube perante o protesto de muitos fãs, alguns deles acabariam por sair para fundar o FC United of Manchester.

    O clube tinha dificuldades na Europa e a nível interno, onde um reforçado e novo rico Chelsea, controlado pelo russo Roman Abramovich e treinado por José Mourinho, «roubava» a liderança do futebol britânico aos red devils.

    Após duas épocas de domínio do Special One, Fergie chamou a si a vitória, conquistando mais um troféu para o museu de Old Trafford.

    Ryan Giggs entretanto superava o recorde de Charlton no número de jogos com a camisola do clube, enquanto Wayne Rooney e Cristiano Ronaldo (CR7) escreviam novas páginas brilhantes no clube, como a vitória de 7x1 sobre a Roma na Champions.

    Cristiano Ronaldo festeja a conquista de mais uma Premier League.
    O CR7 ganhava a bota de ouro com os seus 31 golos apontados, e conquistaria a Bola de Ouro da FIFA de 2008, no ano em que o Manchester conquistou a sua terceira Taça de Campeões Europeus, batendo os rivais do Chelsea na final de Moscovo. No ano seguinte, em Roma, veio a primeira derrota numa final da Champions culpa do Barcelona de Messi (0x2).

    Meses depois, o português era vendido para os espanhóis do Real de Madrid pela estratosférica soma de 94 milhões de euros, um novo recorde mundial. O clube contudo não acusou a perda, com uma equipa recheada de estrelas e novos valores provenientes de todos os continentes, o Manchester United continuou a dominar o panorama inglês superiorizando-se aos demais, enquanto via a rivalidade com o vizinho City renascer depois dos citizens terem sido adquiridos por um milionário Xeque das Arábias.

    Mais de cem anos depois de nascer por intermédio dos humildes ferroviários de Newton Heath, o Manchester United cresceu para se tornar no clube com mais adeptos em todo mundo. Considerado anualmente como um exemplo de boa gestão e uma máquina de fazer estrelas, o United é o simbolo por excelência da grandeza centenária do futebol «Made in England».

    As lágrimas no adeus de Fergie… e o desastre

    @Getty / Alex Livesey
    O fim da época 2012/13, na qual os red devils conquistaram o 20º título de campeão, ficou marcado pelo término da relação entre Sir Alex Ferguson e Manchester United. Foram 27 anos recheados de êxitos, desilusões e muitos, muitos troféus. O adeus de uma lenda.

    Aconselhada pelo escocês, a direção optou por trazer um compatriota. David Moyes, que despontava no Everton, mereceu um voto de confiança e assumiu o leme numa das fases mais delicadas da história do clube que acabou por cair no abismo. Literalmente.

    A passagem de Moyes acabou por se revelar desastrosa. O United, que nunca havia ficado abaixo dos três primeiros lugares, terminou num horrível sétimo posto e o britânico acabou despedido antes da temporada acabar, sendo que Ryan Giggs assumiu o leme nos últimos jogos. E o que dizer das derrotas humilhantes frente a Manchester City e Liverpool

    Na temporada seguinte, entrou Louis van Gaal. A reputação do holandês fala por si e chegou-se a pensar que o United poderia entrar nos eixos novamente. A verdade é que com van Gaal, os red devils só conseguiram uma FA Cup, 12ª da história.

    Mesmo com as contratações avultadas – 80 milhões por Martial à cabeça -, a equipa nunca praticou um futebol positivo e acabou por ficar sempre afastada das três primeiras posições da tabela. Para além disso, as prestações do United na competição europeia foram quase sempre desastrosas.

    Hi, Special One! Bye, Special One!

    Alguns meses depois de ter sido despedido fruto da passagem menos feliz pelo Chelsea, a 26 de maio de 2016, José Mourinho foi escolhido da direção para dar um novo rumo ao clube. O impacto do Special One fez-se sentir no imediato: chegaram Pogba, por mais de 100 milhões de euros, Mkhitaryan, Zlatan Ibrahimovic, Eri Bailly, entre outros.

    Na primeira época, apesar de um desapontante sexto lugar na Premier League, o Manchester United conquistou três títulos: Supertaça, Taça da Liga e Liga Europa. O ano com melhores memórias do português.

    Na época seguinte, o United conseguiu terminar no segundo posto – não impediu o domínio do rival City –, acabou eliminado de forma desapontante nos oitavos da Liga dos Campeões aos pés do Sevilha, perdeu a Supertaça da Europa e a final da Taça de Inglaterra. As críticas ao futebol praticado pela equipa subiram imenso de tom face às pobres exibições e falta de títulos. José Mourinho estava, por isso, numa cadeira cada vez mais quente.

    Em 2018/19 a temporada começou aos soluços e juntando a isso a falta de vitórias, o futebol paupérrimo e os problemas no balneário – sobretudo com Pogba – a corda rompeu. A 18 de dezembro de 2018 deu-se a rotura total, dias após a derrota frente ao Liverpool, e entrou Ole Gunnar Solskjær, antiga glória, como solução de emergência.

    Longe dos tempos áureos e o regresso de uma estrela

    Com o técnico norueguês à frente da equipa, os red devils não conseguiram propriamente melhorar e viveram num clima de grande instabilidade exibicional. 6º lugar na Premier League e nenhum título conquistado em 2018/19, 3º lugar no campeonato inglês e nenhum título, novamente, na época seguinte - embora tenham chegado às meias finais da Liga Europa em 2019/20 - e, finalmente, 2º lugar na Premier League 2020/21, na mesma época em que perderam na final da Liga Europa, para o Villarreal (1x1), nas grandes penalidades.

    Parecia estar a haver uma certa evolução, embora ainda longe de ser o suficiente para discutir realmente pelo título, mas a meio da época 2021/22, Solskjaer, que contava com o regresso de Cristiano Ronaldo a Old Trafford, não resistiu a uma dura série de resultados menos positivos e acabou por ser também ele despedido. Para o seu lugar, o Manchester United foi buscar o alemão Ralf Rangnick, para servir de treinador até ao verão de 2022, altura em que seria eleito um técnico para algo mais duradouro.

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    Lotação75643
    Medidas105x68m
    Inauguração1910