Estamos naquela altura do ano em que as emoções estão ao rubro e os nervos à flor da pele: chegámos à reta final do campeonato e está tudo em aberto. Foram cerca de 10 meses intensos, com jogos disputados até ao limite, com muita luta e muito suor, na procura do sucesso desportivo. Neste período pudemos igualmente observar encontros (demasiado) desnivelados, onde a diferença abismal de orçamentos prevaleceu na grande maioria das vezes; foram poucos (exceções até) os desafios que trouxeram alguma competitividade à Primeira Liga. E para agravar o panorama, a desconfiança dos adeptos nos jogos entre grandes e pequenos é garantida e real, havendo apenas duas hipóteses possíveis, sempre que estas equipas se defrontam: ou comem a relva ou abrem as pernas. Será da típica mentalidade portuguesa?
Os verdadeiros adeptos das equipas pequenas sabem o que quero dizer, pois estes apoiam e vibram com o seu clube perante qualquer adversário. O verdadeiro adepto, num dia de jogo com um grande, sabe que a ansiedade e o nervosismo são naturalmente maiores, os holofotes do panorama futebolístico estão no máximo e a probabilidade de sucesso é deveras reduzida, mas caso seja alcançado, a alegria e satisfação são indescritíveis. O peito enche-se de orgulho perante tal feito. Seja contra quem for. Enfim, só vocês pequenos percebem e sentem o que aqui tento expressar. Infelizmente, também é nesses dias que alguns ditos adeptos mudam subitamente de camisola...
Estamos naquela altura do ano em que os adeptos com dois amores, os denominados biclubistas, afinal só têm um, e mostram quem realmente apoiam. E esse será sempre o clube candidato ao título, pois, de acordo com os mesmos, os “outros não necessitam tanto dos pontos”. Esta explicação, ou tentativa de justificação, não faz sentido algum. Então só 3 clubes é que precisam de pontos? Os restantes não têm também objetivos traçados? Como é possível que uma pessoa que se diz adepta de um clube consiga, de um dia para outro, estar contra essa mesma equipa para poder estar do lado do grande? Como é possível celebrar um golo contra a sua equipa? Como é possível?
Infelizmente, em Portugal, é algo normal. Talvez porque apoiar um grande é sinónimo de vitórias e títulos. É simplesmente mais fácil. Estando há alguns anos no continente, quer na faculdade quer no trabalho, as perguntas são sempre as mesmas, e o espanto é grande quando percebem que tenho um só clube: o Marítimo. Várias são as pessoas que insistem em saber qual dos 3 grandes apoio… esta é a mentalidade portuguesa.
Há um vídeo muito conhecido de um adepto a trocar literalmente de camisola, depois de ver uma das suas equipas a perder com a outra. Foi na África do Sul, mas podia ser em Portugal. Um camaleão, portanto.
Estamos naquela altura do ano onde o Marítimo será o centro das atenções ao defrontar FC Porto e Sporting, nos Barreiros. Já consigo imaginar a pressão e o foco que estes jogos terão, assim como imagino, ou melhor, tenho a certeza, que os biclubistas aparecerão mais fortes que nunca a apoiar o mais forte: “Neste jogo sou do grande pois podemos ser campeões”. Não sou vidente, mas sei que frases semelhantes a esta serão proferidas nestes jogos decisivos.
É nestas alturas que se veem os verdadeiros, aqueles que gostam e amam realmente um só clube. Aqueles que não se deixam influenciar pela maioria. Aqueles que vibram com todos os golos e pontinhos conquistados. Aqueles que sofrem ao ver o futebol (mal) praticado pelos jogadores. Aqueles que sabem no início do campeonato que nada irão conquistar e que apenas farão 30 ou 40 pontos. Aqueles que estão nas divisões inferiores e apoiam o seu clube até ao último minuto.