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    Poente B2
    José Pedro Fernandes
    2018/02/18
    E1
    Poente B2 é o olhar de José Pedro Fernandes sobre o desporto, o futebol e os media. Uma perspectiva a partir da pedreira, com um espectro vermelho e branco, sem amarras ou pressupostos de isenção, mas tendo como linha orientadora a honestidade intelectual.
    Há jogos de futebol e jogos futebol, há dérbis e dérbis e depois há o Braga – Guimarães, o dérbi dos dérbis. E se há jogos que eu não gosto de perder durante toda a época são os dois entre o Braga e o Guimarães. Intensos, imprevisíveis e com uma carga emocional superior a qualquer um outro jogo. São pois, à luz da gíria futebolística, jogos impróprios para cardíacos.
     
    O jogo de hoje, em Guimarães, não foge à regra, é um dos dois jogos da época. Para nós, Bracarenses e Braguistas, o encontro de hoje reveste-se da maior importância. Vimos de uma jornada europeia que nos correu mal, muito mal até e o “Vitória” está na máxima força, pois vem de duas vitórias consecutivas em casa e, ao contrário do Braga, “folgou” nesta jornada europeia. Por outro lado, nós só estamos 17 pontos à frente do “Vitória” na tabela classificativa, correndo o risco de, em caso de derrota na “cidade berço”, ficarmos apenas com 14 pontos de avanço sobre o nosso rival, um drama.
     
    Certo é que o jogo de hoje é o jogo grande da jornada e logo, quando o relógio bater as 20.15h, estarei com os olhos postos numa qualquer televisão a seguir as incidências do jogo e, à distância, a vibrar pelo meu clube, o melhor clube!
     
    E por falar em dérbi e no dérbi dos dérbis, não fiquei indiferente à crónica “Dérbi milenar”, de Luís Cirilo Carvalho, que pode ser lida aqui no zerozero. Devo dizer que não conheço Luís C. Carvalho, mas, sendo ele adepto de um clube que não um dos “três grandes”, merece-me todo o respeito e admiração pois, apesar das nossas divergências clubísticas, partilhamos das mesmas dores de sermos 100% de um clube “não grande” e isso faz de nós adeptos de exceção.
     
    No que respeita à crónica supra citada, a mesma divide-se em duas partes, a sensata, a qual eu corroboro, e a parte cómica/equivocada, quando, imbuído da “clubite”, derrama algumas trapalhadas que normalmente a comunicação social ajuda a propagar enquanto verdades universais.
     
    Afirmar-se, à desgarrada, que as pessoas de Guimarães são só do “Vitória” e os de Braga são “biclubistas” é uma fabulação digna de um livro de estórias infantis. O facto de, por razões académicas e profissionais, há muitos anos viver fora de Braga, tem-me permitido conhecer e travar amizade com diversas pessoas vimaranenses. E dessas pessoas que conheci/conheço, que não são tão poucas quanto isso, e do qual sou Amigo de muitas delas, apenas conheci um que era apenas e só do Vitória de Guimarães. Acrescento que este meu Amigo Vitoriano é das pessoas com quem mais gosto de falar sobre futebol e normalmente falamos, cordeal e interessadamente, dos e sobre os nossos clubes. Todos os outros, Amigos e conhecidos, são adeptos de um dos três “grandes”, apesar de, naturalmente, apoiarem também o clube da sua terra natal.  Por outro lado, ser de Braga não é sinónimo nem imperativo ser “biclubista”. Quem me conhece sabe muito bem que sendo de Braga sou só Braga e, como eu, milhares na capital de distrito. Não sei se somos mais ou menos do que os de Guimarães, mas isso pouco importa, e se um estudo sobre esse assunto fosse concretizado, naturalmente os maus comportamentos dos adeptos não contariam para caraterizá-lo como aquele que tem os melhores aficionados.
     
    Um dos momentos mais hilariantes da crónica é a referência, encapotada, ao facto do Braga jogar num estádio pertença da autarquia de Braga. Este argumento é aquele que, há falta de vitórias do seu clube, mais vezes os “comentaristas” vimaranenses gostam de fazer em notícias sobre o SC Braga. É notória a “dor de cotovelo” de ver que a autarquia de Braga reconhece o interesse da cidade em possuir uma infraestrutura desportiva como é o Estádio Municipal e que a mesma esteja cedida a um clube que, ano após ano, leva e eleva o nome da cidade, e da região, no mundo. Por fim, aceito que Luís C. Carvalho não trocasse as estórias do seu “Vitória” pela história do meu Braga. Faz todo o sentido que alguém 100% de um clube, maior ou mais pequeno, não troque o pouco que tem, pelo muito que outros possam ter. Nisso estamos em sintonia. Agora olhar para o palmarés do “Vitória”, compará-lo com o do Braga e sugerir que é mais rico do que o dos vizinhos da capital de distrito é cómico, verdadeiramente hilariante.
     
    É certo que o “Vitória” tem mais presenças na “primeira divisão” do que o Braga e uma supertaça que nós ainda não temos, mas de resto fica-se por aí. Em Guimarães só há uma Taça de Portugal para amostra. No museu do Braga moram duas.... NOSSAS! No mesmo museu está também exposta uma Taça da Liga, algo a que o Guimarães nunca lhe tomou o peso. E se os nossos vizinhos alcançaram por três vezes o terceiro lugar no campeonato nacional da primeira divisão, nós ficamos uma vez em terceiro e uma vez em segundo, tendo na época de 2009/2010 disputado o título nacional até à última jornada.
     
    Já fora de portas, o Guimarães apenas “cheirou” jogar as “Champions League”, mas foi, invariavelmente, eliminado. Nós “só” lá estivemos por duas vezes. Já realizamos 116 jogos europeus e o “Vitória” fica-se pelas... 64 partidas. No que concerne a títulos europeus, são quatro os clubes portugueses que se podem gabar de tamanha façanha e o “Vitória” não é um deles. Ao Benfica, Sporting e Porto, juntou-se, em 2008, o Braga, conquistando a Taça Intertoto. Também só quatro clubes Portugueses lograram chegar a uma final de uma competição europeia e, invariavelmente, o “Vitória” não é um deles. O Braga jogou a final da Liga Europa em 2011 com o também português FC Porto. O Guimarães, o melhor que conseguiu foi chegar aos quartos de final.
     
    Assim, apraz-me afirmar que os motivos que levam o Sr. Luís C. Carvalho a não trocar a história dos Guimarães pela história do Braga, alicerçam-se mais na emoção do que na razão e eu, como adepto de um clube adversário, que também é denominado de “pequeno”, compreendo-o perfeitamente. A verdade é que a grandiosidade do Braga também se faz por ter por vizinho e (principal) rival um grande clube que reside em Guimarães, o Vitória Sport Clube.
     
    Para o jogo de hoje, desejo uma excelente prestação das três equipas envolvidas, um jogo sem casos e mais do que isso, um jogo sem confusões entre adeptos, dentro e fora do recinto desportivo. Apesar de se tratar do dérbi do dérbis e de ambicionar ardentemente, com sempre, a vitória do meu Braga, o jogo de hoje é, apenas e só, mais um jogo de futebol.


    Comentários

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    motivo:
    DI
    Derby
    2018-02-21 12h09m por diogoriba
    Normalmente há os inteligentes, os espertos e os designados por burros. Respeito os inteligentes e os tais burros, mas com espertos nunca me dei bem. E ás vezes nem sei se sou inteligente ou burro mas esperto nunca! Um texto de alguém que abre aspas para certas palavras é um texto de alguém que sofre de algum complexo de inferioridade. Um texto que fala de temos isto é aquilo, já fomos aqui e ali. . . Revela pequenez seja ela do lado do Senhor Fernandes, seja do lado do senhor Cirilo. D...ler comentário completo »

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