Os 15 clubes (G15) que participam na Primeira Divisão, para além dos ditos «três grandes», reuniram-se hoje numa unidade hoteleira no Porto a fim de concertarem posições em defesa do futebol português.
Este encontro - inédito em Portugal - passou praticamente despercebido nos meios de comunicação social desportivos, o que por si só reflete o que vai mal no futebol português.
É absolutamente lamentável que uma reunião de 15 clubes da Primeira Divisão não seja assunto de capa dos jornais desportivos de hoje (com exceção de uma minúscula referência do jornal “O Jogo”), preferindo estes dar destaque a especulações de transferências e ao lixo comunicacional dos «três grandes».
O mesmo é replicável pelos inúmeros programas televisivos de futebol que apenas contribuem para destruir o nosso futebol e que desvalorizaram por completo um tema que deveria dominar a atualidade desportiva nacional.
Felizmente existem ainda algumas exceções à regra, como o zerozero, onde é dada mais atenção a todos os restantes clubes, como prova este espaço de opinião.
A perda de valor da Liga Portugal deveria ser a principal preocupação atual do futebol português, ao contrário dos e-mails, dos vouchers, dos «re-apitos dourados», entre outros.
A Liga Portuguesa desceu já para o 8º posto do ranking das ligas europeias com direitos televisivos mais rentáveis:
Para se entender melhor a gravidade desta situação basta referir que os direitos televisivos portugueses representam já cerca de 1/3 dos direitos televisivos da Liga Turca (Turkish Super League), que são inferiores aos da 2ª Divisão Inglesa (English Football League), ou que Ligas como a Belga, a Dinamarquesa ou a Norueguesa têm já receitas muito idênticas às nossas.
É impossível os clubes portugueses manterem ou aumentarem os seus níveis de competitividade internacional enquanto continuarem a ser ultrapassados na captação de receitas televisivas por outros países.
É evidente que esta nossa debilidade económica, disfarçada com recurso a uma formação de qualidade ou a um «super agente» capaz de fazer negócios extraordinários, não se trata de uma solução viável a médio/longo prazo.
São vários os motivos que levaram o campeonato português a atrasar-se face à pluralidade dos campeonatos europeus, mas o principal prende-se com a falta de competitividade que resulta do desequilíbrio orçamental ímpar em Portugal.
Sejamos absolutamente claros: a principal fonte de receitas dos clubes em Portugal são os direitos televisivos e, pese embora não restem quaisquer dúvidas de que a centralização dos direitos televisivos conduza necessariamente a um incremento das receitas globais, assim como das receitas individuais, a verdade é que os «três grandes» preferem destruir o valor da indústria do futebol português a arriscarem-se a perder a imensa hegemonia de títulos que têm.
Os «três grandes» podem ser grandes em dimensão e em palmarés, mas têm sido muito «pequenos» na defesa do futebol português e no nível da intervenção pública dos seus dirigentes.
Inglaterra, Espanha, França, Alemanha, Itália, Bélgica, Suécia, Bulgária, Dinamarca, Polónia, Suíça, Noruega, Roménia, Grécia, Rússia, República Checa e Turquia.
Que têm estes países em comum? Todos já têm os seus direitos televisivos centralizados.
Este é o principal motivo que levou 15 clubes a «crescerem» e a substituírem os ditos «grandes» na defesa dos interesses do futebol português, porque com eles já sabemos que não podemos contar.
A Revolução do futebol português começou hoje.
P.S.: Para além da centralização dos direitos televisivos, seria interessante ver os clubes discutirem os seguintes pontos:
- O fim dos empréstimos entre clubes da primeira liga;
- A criação de mecanismos de solidariedade económica («efeito parachuting»);
- A criação de uma plataforma centralizada de venda online de merchandising e bilhética comum a todos os clubes;
- Calendarização;
- Formato das competições, em especial da Taça da Liga, que parece não servir o propósito inicial da redistribuição de receitas, mas sim apenas para reforçar o palmarés dos «grandes»;
- Preço dos bilhetes;
- Segurança e Claques;
- Disciplina.