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      O meu mundo aos quadrados
      José Pedro Pais
      2017/11/21
      "O meu mundo aos quadrados” é uma coluna de opinião que pretende fugir ao império comunicacional dos três grandes, sob a perspetiva de um adepto do futebol pela positiva, profissional e transparente, que por acaso é boavisteiro.

      Os 15 clubes (G15) que participam na Primeira Divisão, para além dos ditos «três grandes», reuniram-se hoje numa unidade hoteleira no Porto a fim de concertarem posições em defesa do futebol português.

      Este encontro - inédito em Portugal - passou praticamente despercebido nos meios de comunicação social desportivos, o que por si só reflete o que vai mal no futebol português.

      É absolutamente lamentável que uma reunião de 15 clubes da Primeira Divisão não seja assunto de capa dos jornais desportivos de hoje (com exceção de uma minúscula referência do jornal  “O Jogo”), preferindo estes dar destaque a especulações de transferências e ao lixo comunicacional dos «três grandes».

      O mesmo é replicável pelos inúmeros programas televisivos de futebol que apenas contribuem para destruir o nosso futebol e que desvalorizaram por completo um tema que deveria dominar a atualidade desportiva nacional.

      Felizmente existem ainda algumas exceções à regra, como o zerozero, onde é dada mais atenção a todos os restantes clubes, como prova este espaço de opinião.

      A perda de valor da Liga Portugal deveria ser a principal preocupação atual do futebol português, ao contrário dos e-mails, dos vouchers, dos «re-apitos dourados», entre outros.

      A Liga Portuguesa desceu já para o 8º posto do ranking das ligas europeias com direitos televisivos mais rentáveis:

      https://www.sportbusiness.com/tv-sports-markets/media-rights-value-top-european-football-leagues-2016-17

      Para se entender melhor a gravidade desta situação basta referir que os direitos televisivos portugueses representam já cerca de 1/3 dos direitos televisivos da Liga Turca (Turkish Super League), que são inferiores aos da 2ª Divisão Inglesa (English Football League), ou que Ligas como a Belga, a Dinamarquesa ou a Norueguesa têm já receitas muito idênticas às nossas.

      É impossível os clubes portugueses manterem ou aumentarem os seus níveis de competitividade internacional enquanto continuarem a ser ultrapassados na captação de receitas televisivas por outros países.

      É evidente que esta nossa debilidade económica, disfarçada com recurso a uma formação de qualidade ou a um «super agente» capaz de fazer negócios extraordinários, não se trata de uma solução viável a médio/longo prazo.

      São vários os motivos que levaram o campeonato português a atrasar-se face à pluralidade dos campeonatos europeus, mas o principal prende-se com a falta de competitividade que resulta do desequilíbrio orçamental ímpar em Portugal.

      Sejamos absolutamente claros: a principal fonte de receitas dos clubes em Portugal são os direitos televisivos e, pese embora não restem quaisquer dúvidas de que a centralização dos direitos televisivos conduza necessariamente a um incremento das receitas globais, assim como das receitas individuais, a verdade é que os «três grandes» preferem destruir o valor da indústria do futebol português a arriscarem-se a perder a imensa hegemonia de títulos que têm.

      Os «três grandes» podem ser grandes em dimensão e em palmarés, mas têm sido muito «pequenos» na defesa do futebol português e no nível da intervenção pública dos seus dirigentes.

      Inglaterra, Espanha, França, Alemanha, Itália, Bélgica, Suécia, Bulgária, Dinamarca, Polónia, Suíça, Noruega, Roménia, Grécia, Rússia, República Checa e Turquia.

      Que têm estes países em comum? Todos já têm os seus direitos televisivos centralizados.

      Este é o principal motivo que levou 15 clubes a «crescerem» e a substituírem os ditos «grandes» na defesa dos interesses do futebol português, porque com eles já sabemos que não podemos contar.

       

      A Revolução do futebol português começou hoje.

       

      P.S.: Para além da centralização dos direitos televisivos, seria interessante ver os clubes discutirem os seguintes pontos:

      - O fim dos empréstimos entre clubes da primeira liga;

      - A criação de mecanismos de solidariedade económica («efeito parachuting»);

      - A criação de uma plataforma centralizada de venda online de merchandising e bilhética comum a todos os clubes;

      - Calendarização;

      - Formato das competições, em especial da Taça da Liga, que parece não servir o propósito inicial da redistribuição de receitas, mas sim apenas para reforçar o palmarés dos «grandes»;

      - Preço dos bilhetes;

      - Segurança e Claques;

      - Disciplina.



      Comentários

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      motivo:
      CH
      Otimo
      2017-11-26 13h23m por Chilavert
      Mas esses 15 clubes não incidiram a conversa sobre o modelo competitivo nem sobre a diminuição do numero de equipas. . .
      O futebol portugues precisa de uma refundação de fio a pavio que vai desde protecçao da formação (a Uefa já tem a medida dos formados localmente e formados no clube), passando pelo modelo competitivo acabando na (in) competencia da gestão
      Direitos TV
      2017-11-24 13h17m por petitor
      Um clube começou a transmitir os jogos em casa, negociou com a nos sozinho e venhem criticar os 3 grandes???? Apos isso o Sporting e o porto apenas vieram defender os seus interesses. Enfim todos sabemos que desencadeou esse processo não facciosos. Eu defendo a centralização dos direitos televisivos e não aceito que um clube possa transmitir os seus próprios jogos, mas para o clube do regime tudo e permitido
      Mas há mais
      2017-11-23 14h59m por rickypaiva
      Os eucaliptos também atacam na formação, que é onde todos os vícios começam, acabem com as equipas de a a z e as gerações e escolas igualmente, estrangular para reinar e a quantidade versus qualidade destes campeonatos refletem no futuro selecoes fracas.
      + uma vez "100% de acordo"
      2017-11-23 11h08m por 1King
      "Aí se eles soubessem o poder que têm" já dizia um tipo qq da revolução francesa acerca dos pobres.
      Nota: n vale a pena argumentar com frigoríficos
      DR
      TUDO TEM O SEU PESO
      2017-11-22 11h52m por dragaopentacampeao

      "A perda de valor da Liga Portugal deveria ser a principal preocupação atual do futebol português, ao contrário dos e-mails, dos vouchers, dos «re-apitos dourados», entre outros. "

      Não seria mais correcto dizer que tudo isso devia ser motivo de preocupação? Então a transparência e a verdade desportiva não contribuem para o aumento do interesse e do valor da Liga Portuguesa? O futebol profissional português está refém das manobras de bastidores que tornam a competição n...ler comentário completo »
      IS
      Excelente artigo
      2017-11-22 08h58m por Isentoqb
      O problema do futebol português está bem identificado: são os três eucaliptos. A triste da nossa comunicação social não tem coragem para dar notícias e muitas vezes parecem aquelas revistas cor de rosa onde falam de tudo desses três, quando existem notícias relevantes de outros clubes; como foi agora o caso. As coisas vão acabar por mudar, agora poderá ser com esta iniciativa que se consiga levar para a frente ou será por reação quando o nosso campeonato deixar de ter qualquer expressão no panorama europeu.
      José Pedro Pais
      2017-11-22 08h53m por amo-te-vitoria
      Concordo com praticamente tudo.

      Para mim os postos chave são uma distribuição mais justa de receitas e o fim dos empréstimos.
      Porque para além da subserviência inerente, acaba com o comprar por comprar dos 3 eucaliptos só para os outros não terem.
      Direitos telvisivos
      2017-11-22 07h36m por Lobao_Leao
      A não centralização dos direitos televisivos não é culpa dos "3 grandes" mas de um em especifico, o SLB que negociou com a NOS sozinho antes de todos os outros.
      O Sporting tinha apresentado a proposta de centralização dos direitos televisivos, só que como é óbvio a partir de o momento em que um dos clubes com maior representação nacional decide negociar sozinho os seus direitos televisivos se torne impossível para todos os outros partir para uma centralização dos mesmos.
      Portan...ler comentário completo »
      TI
      Concordo em quase tudo
      2017-11-22 00h49m por tink
      Nas ideias que apontas sou contra o fim dos empréstimos. Acho que a regra deveria ser: máximo de 11 emprestados na 1ª Liga, com 3 jogadores no máximo por clube, e todos deveriam ter, pelo menos 1 ano na formação do próprio clube, e um máximo de 22 anos no início da época. e Depois cada clube poderia ter um emprestado irrestrito, ou seja, sem nenhum fator limitador. Isto ajudaria o futuro da nossa seleção.
      Nem mais
      2017-11-22 00h26m por CMSAFF
      Eu que, tal como o senhor, sou adepto de um clube que em tempos procurou ombrear com os ditos grandes e que, por esse motivo, foi cilindrado pelo sistema corrupto por estes montado, não poderia estar mais de acordo. Aliás, eu recordo-me de em tempos, talvez há uns 10 anos, já se ter falado nisto, vamos ver no que dá (se é que dá em alguma coisa).
      Medidas sugeridas
      2017-11-22 00h22m por otario007
      -fim dos emprestimos: nao concordo, acho que os jovens jogadores 90% das vezes precisam de ganhar experiencias até serem atirados às feras no plantel principal, ganham muito mais experiencia nos clubes de primeira do que lá fora. PAra não falar dos estrangeiros que benefeciam de um periodo de adaptação. de qualquer forma os clubes mais pequenos beneficiam deles, por isso não estou a ver isso a mudar

      -Solidariedade: não. cada clube tem de ser responsavel pelas suas contas. s...ler comentário completo »
      CM
      CMRO
      2017-11-21 23h02m por cmro
      O Futebol Português está uma vergonha, graças ao 3 grandes

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