Amanhã pode ser o início de um processo de mudança no nosso futebol, com a reunião do denominado G-15 no Porto, mas também pode não passar de uma tentativa que dá em nada se os clubes envolvidos não tiverem a coragem e o discernimento de levarem o assunto por diante.
Vamos por partes.
Segundo a comunicação social tem divulgado, mas perante o silêncio de alguns deles, os quinze clubes da Liga NOS a que não chamam “grandes”, descontentes com o rumo que o nosso futebol vai levando, agendaram uma reunião a quinze, dela excluindo Benfica, Porto e Sporting, para debaterem problemas que são comuns a todos eles mas que nada dizem aos outros três, a quem comummente se pode chamar os “donos disto tudo”.
Sob a liderança de Sporting de Braga, Marítimo e Belenenses (pelo menos os respectivos presidentes têm sido os mais visíveis), os clubes pretendem discutir matérias que vão dos direitos televisivos, que são um dos vértices do triângulo de poder dos chamados “grandes” (os outros são a arbitragem e a comunicação social quase toda), à regulamentação dos campeonatos, passando pelo triste espectáculo que Benfica, Porto e Sporting têm dado com as suas guerras, guerrinhas e guerrilhas constantes, que apenas servem para estragar a imagem da indústria do futebol e afastar patrocinadores e adeptos.
É evidente que estes quinze clubes (a confirmar-se que todos estão neste movimento) têm toda a razão para este verdadeiro “grito do Ipiranga” que agora dão.
Desde logo porque os “DDT” não jogam sozinhos, o campeonato não é só deles, sem os outros não poderiam competi,r mas na hora de distribuírem as receitas televisivas assiste-se à pouca vergonha de os três levarem o grosso do bolo, enquanto aos outros tocam percentagens bem inferiores e desfasadas da realidade.
Claro que, por razões de audiência, seria impensável que todos recebessem o mesmo e aceita-se que quem tem mais adeptos, e portanto mais telespectadores, receba mais do que aqueles que nessa matéria (e não importa agora e aqui discutir as razões disso) são pouco mais que residuais ou que, tendo números que não envergonham, ainda assim andam longe dessas realidades.
Isso é uma coisa.
Outra, a discrepância que existe que contribui para que o fosso entre os três e os outros seja cada vez maior, com prejuízo do equilíbrio interno das competições, mas também da prestação das equipas portuguesas que, nas competições europeias, acabam por encontrar uma competitividade a que não estão habituadas.
E por isso a exigência de mudar.
Que só pode ser no sentido de uma negociação centralizada dos direitos televisivos, feita por uma Liga que não a Liga do Proença, que já deu sobejas mostras de ser incapaz de se libertar das velhas “amarras”, e na qual o “bolo” a distribuir tenha duas “fatias".
Uma a distribuir igualmente por todos e outra em função das classificações obtidas.
Só assim existirá uma distribuição equitativa, justa e que permita equilibrar minimamente as competições.
Mas também na arbitragem há que mudar.
Nomeadamente transformando o vídeo-arbitro num verdadeiro auxiliar da verdade desportiva e acabando com aquilo que ele tem sido e que é ser mais um factor de protecção e favorecimentos dos “donos disto tudo”, como semana após semana se vem assistindo.
Também na área da comunicação social, especialmente das televisões e da descarada protecção e promoção que oferecem a Benfica, Porto e Sporting, bem como aos seus patrocinadores, os clubes têm de tomar posições firmes e exigir equidade no tratamento, no acesso à opinião televisiva, na cobertura justa das suas actividades e na divulgação da suas posições.
O G-15 é um movimento justo e que tem toda a razão de ser.
Se algum defeito tem é pecar pelo atraso, porque já devia ter surgido há muitos anos, de molde a evitar a triste situação que temos hoje de um futebol sem credibilidade, com a verdade desportiva pelas ruas da amargura e com uma imagem pública cada vez mais semelhante às rixas de taberna por culpa exclusiva dos chamados “grandes”, dos seus responsáveis e alguns funcionários.
A pergunta para o milhão de dólares é, contudo, esta:
Terá o movimento a força, a coragem e a liberdade de avançar rumo ao pretendido ou vai ser sabotado por alguns “cavalos de Troia” que sempre surgem nestas oportunidades dispostos a venderem-se por um prato de lentilhas a que também se pode, neste caso, chamar empréstimos de jogadores?
Essa é a questão fundamental.
Que pode transformar esta terça-feira no princípio de uma revolução no nosso futebol ou apenas numa declaração de intenções sem qualquer efeito prático.
A ver vamos…