A forma como funciona o mercado de transferências no futebol é bem demonstrativo da volatilidade das situações, da falta de planeamento dos clubes, da tentação em fazer à ultima hora aquilo que tiveram tempo para fazer durante meses de forma organizada.
É também, como não, o “paraíso” dos empresários que, com estes negócios de última hora e, portanto, altamente inflacionados, fazem chorudas comissões que oneram as transferências e alimentam de forma substancial aqueles que não jogam, não treinam, não dirigem mas ganham fortunas.
Incongruências.
Já para não falarmos do disparate que é permitirem-se entradas e saídas de jogadores já com os campeonatos em curso e dificultando de sobremaneira o trabalho dos treinadores, que muitas vezes veem a pré-época e as primeiras semanas de competição deitadas fora por saídas de última hora que lhes debilitam os grupos de trabalho.
Creio que a UEFA e a FIFA deviam intervir seriamente nessa matéria, regulamentando as épocas de transferências de molde a que todos os clubes de todos os países se encontrassem em igualdade de circunstâncias e não como acontece na actualidade, com mercados a fecharem em datas diversas com óbvio prejuízo para os que fecham primeiro.
Bastará exemplificar que, com mercados como Turquia e Rússia ainda abertos, e o português já fechado, qualquer um dos nossos clubes que veja jogadores seus partir para esses países só poderá suprir a baixa em Janeiro.
No que concerne aos cinco principais clubes portugueses, e agora que o mercado está encerrado por quatro meses, é possível fazer um balanço das suas movimentações em termos de entradas e saídas, bem como das perspectivas que os seus grupos de trabalhos lhes permitem alimentar.
Começando pelo Benfica, é evidente que o mercado lhe correu melhor em termos financeiros do que desportivos.
Ninguém auferiu tanto como os encarnados em termos de receita de venda de jogadores como Ederson, Nélson Semedo e Mitroglou a constituírem excelentes encaixes financeiros, mas a contrapartida é um plantel que não conseguiu alternativa para Ederson (Bruno Varela para campeonato e especialmente Liga dos Campeões é muito...curto) nem reforçar o centro da defesa à altura de necessidades que já vem do passado.
Será certamente um forte candidato ao titulo, mas dificilmente o principal favorito.
O Porto teve o seu mercado mais “sui generis” de sempre. Limitou-se a contratar um terceiro guarda redes, a emprestar um jovem com talento, mas a precisar de jogar (João Carlos Teixeira), a libertar-se de alguns excedentários e nada mais.
Nada mais?
Puro engano.
Fez regressar cinco jogadores emprestados (Aboubakar, Ricardo, Hernâni, Marega e Reyes) que, depois de épocas de sucesso nos clubes a que estiveram cedidos, regressam em plena maturidade e dispostos a lutarem por um lugar ao sol.
Não fez contratações, mas tem cinco verdadeiros reforços que lhe permitirão ser, também ele, forte candidato ao titulo.
O Sporting esteve muito activo na dupla vertente entradas e saídas, sendo seguramente dos candidatos ao titulo o que mais se reforçou.
Guarda redes, laterais, centrais, médios, extremos e ponta de lança. Para todos os sectores se registaram entradas no plantel leonino.
Fábio Coentrão, Mathieu, Doumbia, Bruno Fernandes e Acuña serão os mais sonantes, mas há vários outros de muito boa qualidade a espreitarem a titularidade em compita com os que transitaram da época anterior.
Nas saídas aquela que poderá ter mais impacto no plantel é a do “capitão” Adrien,pela valia futebolística e pela influencia no balneário, mas o conseguir manter William Carvalho e a “explosão” competitiva de Bruno Fernandes poderão contrabalançar isso.
Possivelmente, os “leões” serão, neste momento, os mais fortes candidatos ao titulo.
O Braga destacou-se neste mercado pelos grandes negócios que fez e pela conciliação que disso conseguiu fazer com o reforço acentuado da equipa.
Vendeu Rui Fonte (Fulham) e os jovens Bruno Jordão e Pedro Neto (Lázio) por muitos milhões e reforçou a equipa com um lote valioso de jogadores, com saliência para os emprestados João Carlos Teixeira (Porto), André Horta (Benfica) e André Moreira (Atlético de Madrid) e para as aquisições Dyego Sousa, Fransergio, Esgaio, Jefferson, Raul Silva, Paulinho e o regresso do emprestado Fábio Martins.
Um plantel muito forte, grande candidato ao quarto lugar ou até a mais do que isso se algum dos candidatos ao título fraquejar.
Resta falar do “meu” Vitória. Mal a contratar, mal a vender e mal a emprestar ou ceder a titulo definitivo.
Emprestou e dispensou jogadores que lhe vão fazer falta (Valente, João Afonso, Alex, Tozé, até Tyler Boyd, o melhor jogador da equipa B na época passada), sem sequer cuidar de ter alternativas para as suas posições. No caso de Valente, permitindo até que fosse reforçar um competidor directo no apuramento para as competições europeias...
Vendeu por valores baixos, como de costume, titulares como Josué e Zungu (Bruno Gaspar, com a ajuda do Benfica, acabou por nem ser mau negócio), debilitando sectores que já de si careciam de reforço e não de enfraquecimento.
E fez contratações que, quase todas (para ser ...simpático), vão precisar de provar que, mais do que contratações, são verdadeiros reforços capazes de darem qualidade ao plantel e competitividade à equipa.
Dos jovens sul-americanos, Estupiñan e Rincón sem qualquer experiência do futebol europeu, à jovem promessa portuguesa Francisco Ramos ou venezuelana Vítor Garcia, é todo um mundo de interrogações sobre como reagirão à realidade competitiva da primeira liga e à elevada exigência que jogar no Vitória acarreta.
Os restantes três reforços (assim se espera...) passam pelo emprestado Héldon, cuja carreira tem sido apenas mediana depois de muito prometer no Marítimo, por Wakaso, que deixou uma boa imagem quando passou pelo Rio Ave, e por outro emprestado, desta vez pelo Arouca (não,não é engano...), de seu nome Jubal, cuja capacidade de resposta em termos de jogar num clube como o Vitória que compete para lugares europeus e na Liga Europa é desconhecida.
Em suma, depois de um excelente quarto lugar e da presença no Jamor, esperava-se um plantel mais forte, mais competitivo e ainda mais ambicioso, de acordo com aquela que é a visão que os adeptos tem para o seu clube.
Saiu “isto”.
Que dificilmente pode deixar de ser considerado como uma enorme desilusão.
Resta agora a realidade dos jogos e das competições provar, sem margem para dúvidas, os acertos e os erros dos cinco clubes nas suas movimentações de mercado e a forma como souberam responder às expectativas dos seus adeptos.
Deixemos a bola rolar.