Momentos definem épocas. Por mais que a continuidade e o trabalho constante determinem sucessos, há uma muito ténue fronteira que o define. Escrevo-o a propósito do Benfica e de uma pré-época que alarma o Terceiro Anel.
Recuemos a 10 de agosto de 2014. Tinham saído vários habituais titulares da época anterior (Oblak, Garay, Siqueira, Rodrigo, Markovic, André Gomes) e a pré-temporada não podia ser mais penosa: seis derrotas em oito jogos. Artur Moraes não correspondia para a baliza e era posto em causa até pela atitude do treinador Jorge Jesus, que o deixara de mão estendida uma semana antes... na Emirates Cup (5x1 com o Arsenal, 3x1 com o Valência).
Nessa data, as águias apresentavam-se em competição para discutir a Supertaça com o Rio Ave, em Aveiro. Jogo de maior acerto defensivo, com Eliseu acabado de chegar, Jardel a surgir ao lado de Luisão, Artur Moraes ainda na baliza, perante a demora de Júlio César, o reforço. Aos 118 minutos, na sequência de um canto vilacondense, Jardel tenta tirar a bola do perigo e, na pequena área, acerta miraculosamente na trave da própria baliza. O jogo seguiu para penáltis, Artur Moraes passou de vilão a herói e a Supertaça travava, por fim, o pessimismo encarnado.
Mas, e se Jardel tivesse feito auto-golo? E se o Benfica tivesse, depois de seis derrotas em oito jogos, entrado a perder nessa competição frente a um adversário com histórico e nome menor? E se todo aquele respirar de alívio encarnado, que permitiu entrar no campeonato de forma mais confiante e ganhar a dianteira ao FC Porto que tanto tinha investido para dar resposta às necessidades de Lopetegui, não tivesse acontecido?
São os tais momentos. Muito mais do que trabalho e tática. Um momento que inverteu o aspeto emocional de uma equipa que se reergueu para o bi, tal como depois para o tri e a seguir para o tetra.
A questão é: será sempre assim?
O Benfica volta a fazer da paciência e da confiança no projeto desportivo atual os seus grandes baluartes na forma de estar. Coerente, sem dúvida. Até porque as mudanças não são, este ano, tantas como foram nessa altura.
Há um aspeto comum. É que, em 2014 como agora, mudam três das cinco peças mais recuadas (antes Artur, Jardel e Eliseu, agora Júlio César, André Almeida, se puder jogar, e Jardel). Luisão mantém-se e esse é um aspeto demasiado relevante para descurar, podendo ser o serenador que a equipa precisa, em conjunto com Fejsa.
No próximo sábado, estará diante dos encarnados um Vitória de Guimarães muito mais crente numa exibição como a que fez contra o Sporting que contra o FC Porto. A oportunidade vimaranense para inserir um nome extra-Benfica, FC Porto ou Sporting é bastante considerável, atendendo às muitas tremideiras defensivas dos encarnados.
Será, portanto, uma questão de momentos, de pormenores (de sorte, porque não?). Terá o Benfica momentos de sorte que o catapultem para um rosto de confiança na nova temporada, na qual FC Porto e Sporting estão a ganhar boas formas? Ou será a formação encarnada refém do inverso e de indicativos de que nem todas as fornadas (formação, equipa B) dão bom pão?