Tiro-lhes o chapéu, a Manuel Machado e a Jorge Jesus - Ironicamente, duas personalidades que nunca esconderam as suas divergências, o que acaba por ser também uma das consequências distintivas de ambos.
Os dois "personagens" mais impactantes do futebol português (na minha opinião) tiverem esta sexta-feira dois momentos que engrandecem, democratizam, embelezam e melhoram o «produto» em Portugal.
Comecemos por Manuel Machado. O professor cometeu um excesso opinativo na quinta-feira, quando visou Tiquinho Soares e a sua suposta ingratidão em relação ao Nacional da Madeira e à sua pessoa. Uma tirada em falso - e infeliz -, traída por um certo vaidosismo e falta de informação.
Mas tão célere como foi na crítica, foi-o no retratamento. Ainda antes do Arouca x FC Porto pediu desculpa como deve ser, pessoalmente e olhos nos olhos. Mais tarde, fê-lo aos jornalistas e ao país. Admitiu o erro, assumiu-o abertamente e, com isso, não só colocou um pedra sobre o assunto como deu uma mostra de enorme personalidade e caráter que podiam muito bem alastrar-se a outras paragens.
Agora, Jorge Jesus. Tal como Manuel Machado, mas num tom mais popular e menos académico, tem tendência para o egocentrismo e não raras vezes estica a corda para lá do desejável. Mas se há coisa em que o atual treinador do Sporting dá lições é no à-vontade com que fala de futebol.
Numa era de amarras arcaicas e dispensáveis por parte dos departamentos de comunicação dos clubes, Jorge Jesus diz o que pensa, sem que outros lhe ditem as regras da sua interação com os jornalistas. Na sexta-feira, JJ dissertou sobre a Liga dos Campeões, o futuro dos clubes portugueses e as qualidades dos seus treinadores. Falou e falou bem, proporcionando um momento tão raro hoje em dia: discutiu-se futebol.
No final da intervenção, o assessor de comunicação dos leões pediu aos jornalistas que as perguntas fossem apenas e só sobre o jogo em Tondela. Jorge Jesus olhou para ele e disse: «Ai é? Estamos a falar sobre futebol...», antes de um elucidativo «fo**-**.» Já que os clubes não ouvem (porque não querem) os jornalistas, que ouçam pelo menos os seus treinadores. E sabem quem é que iria ganhar com isso? Os adeptos.