A liga portuguesa, por vezes, percorre caminhos perigosos que podem conduzir ao abismo. Depois, é só dar um passo em frente. Este fim de semana voltou a ser paradigmático deste pensamento, analisando a partir do que se observou em Alvalade, na vitória caseira do Sporting ante o Vizela, e em Paços de Ferreira, onde o SC Braga bateu tangencialmente os castores. É que a competição também se faz dos erros e das decisões da arbitragem, várias vezes sem disfarce e sem vergonha, contexto em que o penálti do triunfo leonino no último minuto causa apreensão geral no universo do futebol, situação que se agrava após a arbitragem verificada no reduto dos pacenses. Nas restantes equipas que estão nos primeiros quatro lugares os árbitros tiveram atuações normais, o que se saúda.
O sentimento de desconfiança que se instala nos adeptos e nos clubes, aliado ao treino permanente de algumas equipas na busca do conflito e de momentos de engano aos árbitros, fere o futebol e afasta as pessoas dos estádios, porque deixam de acreditar. Afinal, não pode valer tudo para ganhar.
O SC Braga chegava a Paços de Ferreira num momento bastante positivo, que as recentes vitórias desde a retoma das competições consolidaram. Porém, os castores ao fim de duas dezenas de jogos conseguiram a primeira vitória, em Vila do Conde, o que fez subir os níveis de autoconfiança de modo acelerado, pelo que surgiam em campo ante os brácaros fortalecidos animicamente. De Braga chegava um mar de gente, fruto de terem esgotado antecipadamente os bilhetes disponíveis, para apoiar os Gverreiros do Minho, neste momento em que eles teimam em fazer história e surgem em campo sempre em busca do triunfo.
Os dias que antecederam o jogo foram de conversa sobre a arbitragem, desde a nomeação de Cláudio Pereira, sobre o que se podia esperar de negativo na capital do móvel. O jogo decorria com aparente tranquilidade quando este sentimento foi abalado pala velocidade furiosa com que o árbitro se dirigiu a Sequeira para lhe mostrar o cartão vermelho, ainda bem cedo, num lance banal que, felizmente, o VAR, corrigiu através da recomendação do visionamento do lance. Após alguns equívocos, sempre para o mesmo lado, o médico bracarense, Dr. Vítor Moreira, viu o cartão vermelho e abandonou o banco, numa decisão que carece de revisão, uma vez que não existe a figura de médico suplente. Claro que o clínico pode entrar em campo em caso de necessidade evidente, mas a sua exclusão do banco deve merecer a reflexão sobre o local para onde deve ser dirigido, pois a qualquer momento pode haver um caso de necessidade absoluta da sua intervenção. Vale a pena pensar nisto.
Os nervos estavam à flor da pele e a passividade arbitral, de permitir pequenos truques que irritam o adversário de quem os pratica, adensava o ambiente cada vez mais pesado em campo. Os equívocos, de pequena monta, mantinham-se e os nervos subiam no universo bracarense, até que o intervalo parece ter serenado um pouco os ânimos. Em termos práticos o período inicial nada trouxe de relevante, a não ser a certeza de que o jogo iria ser decidido em detalhes, como se verificou mais tarde.
O segundo tempo trouxe a primeira explosão de alegria braguista, com o golo de Vitinha a culminar uma boa envolvência coletiva no lance. Os castores responderam a preceito, ameaçando primeiro e chegando ao empate depois, o que fez saltar de felicidade os muitos adeptos pacenses presentes. A partir do golo do empate voltou aquele futebol quase sempre parado, com o uso de diversos momentos irritantes, pelo que o tempo útil de jogo do último quarto de hora deveria merecer reflexão geral, face à sua diminuição drástica.
O último minuto, dos sete de descontos concedidos pelo árbitro, proporcionou que a bancada bracarense explodisse de alegria, graças ao golo de Banza que definiu o desfecho da partida. Estava concretizada uma vitória difícil e importante para a Legião do Minho, que se mantém forte e unida em prol dos objetivos coletivos, sendo bastante visível esse sentimento nos momentos dos festejos com os adeptos. Estava concretizada a melhor pontuação de sempre referente à primeira volta de uma liga em Braga, o que levou Artur Jorge às lágrimas no final.
Agora, faço votos para que os árbitros ajudem a diminuir a desconfiança geral nos seus trabalhos, à medida que as competições avançam, deixando que seja o trabalho dos jogadores em campo a definir os resultados dos jogos. Um árbitro que passe despercebido é de grande utilidade no futebol.