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      O Melhor dos Jogos
      Carlos Daniel
      2022/08/29
      E0
      Este espaço, do jornalista Carlos Daniel, pretende ser de abordagem e reflexão sobre o futebol no que o jogo tem de melhor. Quinzenalmente, uma equipa será objeto de análise, com notas concretas que acrescentam atualidade.

      Como um mito desfaz outro. O excelente Benfica deste início de época é sempre descrito como uma equipa de grande intensidade, forte reação à perda, andamento com bola. E não é mentira. O mito está na ideia feita de que só se consegue jogar assim com jogadores de dimensão física pronunciada. Mas não. Do meio campo para a frente, e descontando o ponta de lança (Ramos ou outro), o jogador mais alto é Florentino, aliás o único acima de 1,80m. E homens como Enzo, Neres, Rafa e João Mário – a que se junta naturalmente Grimaldo – estão longe de ser o protótipo do “monstro físico”. Mas são eles que garantem a qualidade do carrossel com bola e a capacidade de a recuperar depressa. Moral da história: a maior intensidade está na qualidade de execução e a mais importante velocidade é a de pensamento. E aí está muita da diferença entre o arranque do Benfica deste ano e o do ano passado.

      Também o Sporting de Braga começou em grande e não se negue neste caso que a dimensão física dos avançados tem sido relevante. Mas tem sido relevante, em boa parte, pela capacidade de castigar as defesas nos momentos com bola, de as amarrar atrás, de as impedir de se sentirem confortáveis se mais subidas no campo, o que fatalmente abre espaço para os criativos brilharem nas entrelinhas. É aí que  surgem Ricardo Horta, Iuri Medeiros ou esse cada vez mais entusiasmante Lainez. Tudo levezinhos de talento indiscutível. E mais André Horta, que agora cabe definitivamente na equipa, mesmo somado a quatro unidades marcadamente ofensivas. Artur Jorge percebeu depressa que acrescentar jogadores de ataque (quando os há de qualidade, como em Braga) provoca mossa na maior parte das equipas de um campeonato tão desequilibrado como o português. Mas o melhor elogio que lhe posso fazer é mesmo o da coragem, numa liga onde tantos, sem necessidade, se deixam tolher pelo medo.

      FC Porto e Sporting têm problemas por resolver nos dias que faltam mercado, mais simples aparentemente os dos dragões que os dos leões. Entre os portistas, mesmo não fazendo sentido massacrar Marcano, que começou bem a época, é óbvio que está na hora de lançar David Carmo. Ou seja, para esse “problema” há solução óbvia e de qualidade. Já para a vaga deixada por Vitinha, não há, no momento em que escrevo. Zaracho seria óptimo mas não estará ao alcance, Arthur Melo é uma opção excelente, se viável. Do que existe - Eustáquio, Bruno Costa, Grujic – ninguém é garantia de influência como a do agora parisiense, em particular no processo ofensivo. Acredito que é em grande parte por isso que Sérgio Conceição tem insistido no losango, o que diminui a dependência em relação a um 8 típico. Não tem resultado. O melhor para o Porto parece ser mesmo o devolver Otávio à direita (com autorização para movimentos interiores), Pepê à esquerda (onde acelera com mais espaço) e retomar as dinâmicas anteriores de Taremi e Evanilson. E contratar o tal 8, pois claro. Se Arthur Melo é excelente para o Porto também será para o Sporting, mesmo se Rúben Amorim tem preferido sempre jogadores mais rotativos (como Matheus Nunes) do que cerebrais (como Daniel Bragança) e Melo é mais do segundo tipo. Mas acrescentaria imensa qualidade, sem dúvida nenhuma. Já Alexandropoulos parece um projeto de Matheus, mas deverá precisar de tempo para se afirmar. Óbvia mesmo, tão óbvia que até custa repetir, é a falha grave de se ter entrado na época sem uma alternativa a Paulinho (que Rodrigo Ribeiro ainda não é), mais a mais numa equipa sem grande criatividade coletiva no processo ofensivo e demasiado viciada em cruzamentos. Ver o jogo com o Chaves e a necessidade de colocar Coates a jogar meia hora como ponta de lança é todo o retrato de uma entrada em falso.



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