Opiniões

Não por acaso, decorre há meses uma campanha, bem urdida e melhor orquestrada, tendo por fim fazer de Mehdi Taremi um jogador menor. De facto, o iraniano já foi de ouro olímpico em saltos para a água a encantador de serpentes. E note-se que não estamos a falar de piadas de adeptos em redes sociais, podcasts, blogues ou justamente reconhecidas páginas de memes, é mesmo dos jornais e da rádio e da TV. Ou seja, a opinião publicada esforça-se por criar opinião pública, com o sucesso de sempre garantido à partida, de forma a que, juntas, passem a ser verdade e a ter influência direta sobre o que se passa no campo. E porquê?

Ora, porque Taremi é tão somente um dos jogadores mais inteligentes que o campeonato português já teve o prazer de ver jogar. Calha logo, para mal dos pecados dos cosmopolitas, que este é um jogo que, antes de mais, se joga com a inteligência. Reduzir isso a “põe-se a jeito para a queda” é intelectualmente desonesto. Mehdi joga a ponta de lança e faz golos, joga descaído para uma ala e faz assistências (e golos), joga recuado e recupera bolas (e faz assistências e marca golos). É um jogador que dá tanto à equipa e está tão à frente da concorrência que a única hipótese que esta vislumbra é fazer falta. Daquelas passiveis de vermelho direto, mas que continuará a passar impune, mesmo que vá ao VAR. Olha, como aconteceu ao empurrão nas costas, dentro da área, em Vizela. Será sempre mais conveniente discutir a intensidade, do que reconhecer o fantástico jogador que ele é. Sucesso dos rodapés dos canais de lixo, das crónicas inflamadas de diretores a soldo e da cegueira seletiva da manada anónima. E ainda assim, Taremi continua a fazer a diferença.

De momento, a grande discussão no meu FCP é sobre a (não) substituição de Vitinha. Acho engraçado discutir-se isso, como se fosse possível encontrar um jogador que agora cá chegasse e fosse titular no PSG de Messi, Neymar, Mbapé e Verrati. Porque é dessa qualidade que se trata. Vitinha não se substitui, quanto muito não se vende. Isso é que tinha sido de valor.

A equipa e o treinador é que serão os substitutos do bom do Vitor, como antes já fizeram com Diaz. E é por isso que vejo em Otávio a peça-chave de todo este imbróglio. É a Otávio que deve ser entregue, de novo, o comando da equipa em campo. Ele o maestro, de batuta em punho, solto à frente do duplo pivot, tirando partido de toda a sua qualidade técnica, capacidade de desequilíbrio, em condução, em passe de rutura ou até no remate para golo. Ao mesmo tempo que ajuda a tornar sólido o meio-campo, porque Otávio não perderá a sua rotação nem a sua raça para recuperar bolas e ajudar no processo defensivo. Posto à frente de Matheus e Eustáquio - este porque permite uma saída mais limpa do que Grujic – é o homem que nos fará chorar menos por Vitinha e nos comandará nas múltiplas vitórias que voltaremos a somar.

Não por acaso, também Tavinho é mal visto. Da vergonha de ser selecionado, ao castigo por cantar na sua rede social, tudo serviu, serve e servirá, para apoucar o já de si baixinho. Mas é bom sinal. É sinal de que nos dá muito.

Daqui a poucas horas joga-se o primeiro clássico da época. Apesar das muitas ausências que notaremos em relação ao mesmo jogo do último campeonato (Matheus Nunes, Palhinha, Vitinha, Fábio Vieira, Diaz), registe-se a presença de Hugo Miguel, agora no VAR. Porque também ele dá muito. Ai dá sim, olá se dá. Aí está o recado de quem manda para Mehdi Taremi e Otávio: cair, só em caso de tiro no bucho; protestar, só após estupro confirmado em perícia forense. Até breve.