O futebol português caminha alegremente rumo ao abismo, sem que as autoridades competentes se importem com isso. Parece mais fácil assobiar para o lado e fazer de conta que tudo caminha bem vestido, mesmo sabendo que o rei vai nu. Vem isto a propósito da atualidade lusitana no que ao mundo da bola diz respeito, onde os melhores jogadores fazem de Portugal um ponto de passagem para outras ligas mais competitivas.
Os clubes autoproclamados grandes querem vender bem, de preferência para fora e a receber de imediato, para depois comprar barato cá dentro e, se possível, a pagar às prestações. Para promover os “produtos” esses clubes usam os jornais e as televisões que, por força da sua abundância, se agarram ao caminho mais fácil para vender ou ter audiências. Em simultâneo, os mesmos órgãos promotores fazem pressão sobre os jogadores cobiçados fora da esfera dos três do costume, o que mexe obviamente com o aspeto mental dos atletas, que antes de jogadores são seres humanos que pretendem sempre o melhor para as suas vidas.
O que escrevi acima explica, sucintamente, a forma como os clubes com maior apoio tradicional entre os adeptos de Portugal perdem os seus melhores jogadores, para outros clubes que são, em comparação, de dimensão superior. Deste modo, os bons valores chegam a Portugal, mostram-se e são transacionados rapidamente, porque é importante girar o capital. Ao mesmo tempo, os clubes de média e pequena dimensão dificilmente podem aspirar a voos mais elevados, porque os outros secam tudo à sua volta, nem que cheguem a ter muitas dezenas de jogadores com ligação contratual, pelo que as carreiras dos atletas nestes clubes são, também, de curta duração. Mas há exceções, felizmente, como refiro a seguir. É urgente pensar o futebol e tomar medidas que evitem o seu definhamento.
Em Braga há dois casos que nos nossos dias causam espanto pela sua longevidade no clube por parte de dois jogadores: Matheus e Ricardo Horta. O guarda-redes chegou novo a Braga, instalou-se comodamente e tornou-se numa referência, a ponto de ser lembrado sempre que alguém diz “aqui é Braga”, como ele tanto gosta de dizer nos momentos importantes. O Capitão fez do número 21 algo que merece muito respeito por parte dos braguistas uma vez que, além de ser a luz que muitas vezes ilumina a equipa, em especial quando ela mais precisa, fez história em Braga ao chegar ao posto de melhor marcador de sempre do SC Braga, em função da sua longa permanência e do seu elevado rendimento desportivo ao longo dos tempos. Não deixa de ser paradoxal que numa atualidade em que tudo é demasiado efémero a Legião do Minho tenha tido o privilégio de assistir a esta linda história bracarense, que constará das suas páginas mais brilhantes.
O que esperam agora os adeptos arsenalistas agora é que os dois jogadores permaneçam em Braga e sejam referências num balneário em que haverá muita juventude que deseja aprender com os mais experientes. No caso de Ricardo Horta a situação até responde a uma vontade grande do seu irmão André que confessou, recentemente, que jogar ao lado do mano mais velho representa muito mais do que as pessoas imaginam e é, para ele, algo muito grande. Que esta Horta continue forte e unida em Braga, com o Ricardo a comandar a equipa, em especial nos momentos mais difíceis, e o André a ser o maestro da equipa, como mostrou o bom trabalho do departamento de comunicação no momento de revelar a sua renovação de contrato.
Para já as águas estão, aparentemente, tranquilas, mas é previsível que no restante tempo até ao fecho do mercado venham a agitar-se no que a alterações do plantel diz respeito. O tempo dará respostas.