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    O Melhor dos Jogos
    Carlos Daniel
    2021/03/25
    E5
    Este espaço, do jornalista Carlos Daniel, pretende ser de abordagem e reflexão sobre o futebol no que o jogo tem de melhor. Quinzenalmente, uma equipa será objeto de análise, com notas concretas que acrescentam atualidade.

    Vemos ressurgir o Chelsea e percebemos o dedo de Tuchel, do mesmo modo que assistimos ao brilho intenso de um City refeito por Guardiola ou reconhecemos também depressa que o novo Sporting tem a impressão digital de Amorim, daquelas marcadas a tinta como nos velhos bilhetes de identidade. Mas, ao mesmo tempo, assistimos à ressurreição do Barcelona sem que haja propriamente uma “ideia Koeman”, como ainda nos surpreendemos, tantos anos depois, com uma espécie de paradoxo que são as “oscilações regulares” do Real de Zidane, percursoras dos entusiasmos fugazes com o Man United de Solskjaer. O futebol vai sempre viver assim, algures entre uma ideia que congrega jogadores e grupos de jogadores que sustentam uma ideia. Mas aqui há ovo e galinha, bem distintos, que houve grupos de jogadores desde o proto-futebol e só décadas depois se percebeu a intenção de os ligar num compromisso tático, o que melhorou o jogo.

    Vem isto a propósito de dois debates recentes, porque me parece que pelo menos os enquadra, se é que não os anula: o das alterações estruturais – em que as variantes com defesa a 3 são a novidade velha (estou em definitivo dado a contradições) - ou do resgate da marcação ao homem, em boa parte reforçada a partir da alteração legal que autoriza a bola a ser tocada no interior da área após o pontapé de baliza. Foi o detonador para que muitas equipas, mesmo algumas que não têm qualquer intenção de pressionar propriamente, se apressem a condicionar individualmente o rival, mais não seja para o manter mais tempo distante da própria baliza.

    A estrutura de três atrás (ou cinco, depende dos momentos), tem óbvias vantagens, seja na proteção que dá aos médios ou na liberdade ofensiva que pode garantir aos laterais/alas, algo claramente visível no actual Sporting, e que fez disparar o rendimento e cotação de Porro, Nuno Mendes ou Palhinha,  e nalguns jogos recentes do Benfica, idem para Diogo Gonçalves, Grimaldo, e sobretudo a dupla Weigl/Taarabt de quem deixaram de se questionar as fragilidades defensivas. Não deixa, no entanto, de representar, por regra, a supressão de uma unidade ofensiva, o que obviamente retira soluções em posse. Claro que a qualidade ofensiva dependerá sempre do perfil desses laterais/alas (e dos médios), se de origem defensiva – o mais comum – ou com trajeto de atacantes, como nos modelos de inspiração “cruyffiana”.

    A questão da marcação ao homem é mais complexa, até porque sempre existiu e não desaparecerá, pelo menos em alguns momentos do jogo. Já a opção de a colocar como prioridade defensiva, como volta a ocorrer e com particular frequência no futebol italiano, pode criar uma nova dificuldade às equipas de iniciativa, que mesmo circulando bem a bola, ligando e variando os corredores, raramente encontram espaço livre de opositores (que se movimentam em função dos rivais e não da posição da bola, e por isso estarão onde eles estão), mas não deixa de condicionar, e sempre, as próprias opções ofensivas. É que se cada jogada ofensiva (dessa equipa que defende prioritariamente HxH) se inicia com posicionamentos resultantes dos movimentos do rival, dificilmente será possível um processo de construção e criação ordenado e, na decorrência, um critério ofensivo cumprido com eficácia constante.

    Em síntese, a estrutura de 3 (ou 5) defesas, tanto pode ser útil como absurda, que o essencial é ter em conta a intenção tática e o perfil dos jogadores que a servem – desde logo, convém que haja 3 centrais de qualidade, senão mais vale não abdicar do jogador ofensivo que se retira – porque que as estruturas em si não são boas nem más, e serão sempre mais eficazes quanto mais permitirem que os jogadores exibam o que têm de bom e sejam protegidos das fragilidades. Já a eternização do condicionamento (natural) na altura do pontapé de baliza em sucessivas ações de marcação individual não me parece que garanta grandes ganhos, sobretudo em equipas que pretendem o protagonismo no jogo, seja porque coletivamente  promove uma anarquia tática que contrária à confiança numa ideia de jogo própria, pensada e trabalhada, seja porque individualmente, e como nos ensinou já há uns 70 anos o mestre Viktor Maslov, um dos pais autênticos do futebol moderno, quase oprime moralmente o jogador que tem de a fazer. No limite, o melhor jogo nunca será nem o das ideias que castram jogadores, nem o da anarquia que desfavorece até os maiores craques. O caminho certo será sempre o da coerência entre as ideias e os jogadores. Se puderem ser dos melhores – ideia e jogadores- como no City, a consagração pode ser retumbante. Mas se houver pelo menos coerência, o sucesso também fica mais perto, como tem acontecido no Sporting.



    Comentários

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    motivo:
    Independentes
    2021-04-02 13h51m por andromeda1
    E preciso um jornal Ingles fazer um trabalho a sério, aprende Carlos Daniel. Só te falta bajular o Jorge Jesus para seres como os outros.
    https://www-independent-co -uk. cdn. ampproject. org/v/s/www. independent. co. uk/sport/football/european/car los-carvalhal-interview-braga- portugal-b1825945. html?amp_js_v=a6&_gsa=1& &usqp=mq331AQHKAFQArABIA%3D%3D #aoh=16173620765472&referrer=h ttps%3A%2F%2Fwww. google. com&_tf=De%20%251%24s&sh are=https%3A%2F%2Fwww. independent. co. uk...ler comentário completo »
    PI
    CArlos Daniel
    2021-03-27 22h56m por Pinho352
    Ora aqui temos mais uma crónica com palavreado caro, muito floreada, mas com conteúdo muito próximo do zero.
    Agora está na moda falar bem do Chelsea (e com razão) ou das equipas com 3 centrais, que vão tendo sucesso.
    Para os que querem saber do sucesso do Sporting, é simples, fotocópia versão portuguesa do Atlético de Madrid. Defender com muitos e bem, atacar com poucos e pela certa, apostar fortemente nas bolas paradas, marcar um golito e defender o resultado com unhas ...ler comentário completo »
    zerozero
    2021-03-26 14h18m por kropotkin
    Qual o motivo para apagarem aqui os meus comentários? Li com atenção uma vez mais as regras de conduta e não me parece que tenha falhado em nenhum ponto com o meu último comentário. Será que o Carlinhos não gostou?

    Goste ou não, a minha opinião é que o comentador é um "Velho do Restelo" que elabora comentários mal alinhavados e cheios de referências repetidas, semana (ou quinzena) após semana. Também me vão apagar este?
    Agradecimento
    2021-03-26 13h03m por Salgas06
    Bom dia caro Carlos,

    Agradecer em primeiro lugar a sua partilha, pois aprecio muito a sua visão do jogo que nos apaixona.

    Hoje calhou a falar no sistema e jogadores do Sporting de Rúben Amorim, pelo que lhe pergunto se será possível ler alguma análise sua publicada sobre o tema, dado que me desperta muita curiosidade este percurso invencível dos leões no campeonato.

    Obrigado pela atenção.

    Bom fim-de-semana.
    so os outros sao bons
    2021-03-26 11h56m por andromeda1
    Ir buscar sempre os mesmos, quando cá temos o Carvalhal a dar cartas no que aos sitemas e modelos diz respeito! AAH. . . mas esse é do Braga e isso é parolo, bom bom é o Guardiola e o Tuchel. . .
    Chegou o Velho. . .
    2021-03-26 10h02m por kropotkin
    . . . o velho do Restelo. Os textos do Benfiquista de Pare. . . do Carlos Daniel são sempre cheios de tudo e de nada. De conteúdo e de vazio. Aliás, como ele sempre reforça numa tentativa de se proteger: ". . . [a defesa a 3/5] tanto pode ser útil como absurda".

    A tudo isto junta-se a referência habitual ao Cruyff, ao Guardiola, ao Tiago Alcântara (que hoje escapa), por vezes ao Pelé e a um ou outro jogador obscuro dos anos 40. Está feito.

    O zerozero paga por estes textos?!

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