1- Há umas semanas, tinha escrito que os relvados são um dos fatores que prejudicam a qualidade do campeonato português. A qualidade dos árbitros é outro. A nossa cegueira enquanto adeptos também não ajuda, tornando-se pasto fértil para vendedores de gelados diversos, dos famigerados departamentos de comunicação aos esgotos profundos da comunicação social, alugada ao status quo. Não era preciso irem tão longe para o provar, mas, pelos vistos, fizeram questão e juntaram tudo num único jogo, qual paradigma absoluto. Por ironia, no Estádio Nacional.
O ervado é o que é, a arbitragem foi o que foi, os adeptos comportaram-se de acordo e a comunicação fez o que a comunicação faz: vendeu gelados e quem quis comeu-os. Com a testa. Li e ouvi de tudo: da erudita Teoria dos Corpos em Movimento, até ao insuspeito – se disseram na TV e está no jornal é porque deve ser…mentira – choque de cabeças, ao desplante final, e impune, do envolvido que achava que havia era de ter sido falta contra o Nanu. Aliás, a mim ninguém me convence que aquilo da ambulância não foi tudo fita para lhe poupar um amarelo.
O FCP jogou pouco, até porque naquela espécie de horta comunitária urbana dava para pouco mais, e foi ineficaz. Culpa de cá. O árbitro poupou duas expulsões, assim por baixo, ao adversário. Culpa de lá. O guarda-rede saiu à toa, não tocou na bola, enfiou com os punhos, os braços, os cotovelos e, SIM!, a cabeça no desamparado Nanu. E mandou-o para o hospital. Foi isto que aconteceu e no escuro dos buracos para onde rastejam, quando ninguém está a ver, os vermes sabem que foi. Porque, apesar de meio cegos pela escuridão, têm olhos. Penalty por marcar, dois pontos roubados. Culpa de lá.
2- Em Braga, jogo de candidatos. Até para que não se repetissem as vergonhas de Oeiras, mandaram o melhor dos árbitros. E todos vós, portistas ou não, deviam preocupar-se era com este simples facto. Porque a verdade é que é mesmo! Aquilo é o nosso melhor.
Escrevo na segunda-feira e passaram ainda poucas horas. Ainda estou a tentar entender como é que aos 5 minutos de jogo, o melhor jogador da Liga portuguesa viu um cartão amarelo, num lance em que é pisado pelo adversário, um minuto – UM! – depois de o mesmo adversário lhe ter mostrado claramente ao que vinha. Nas pernas. É um erro? Não, é deliberado. É uma mensagem.
E mesmo assim o FCP foi melhor, marcou num penalty tão indiscutível que ASD não o marcou e fez figas para que ninguém o visse. Mas, oh porca miséria, houve o Jamor há 3 dias e seria demasiado. Corona voltou a mostrar porque é excecional e inventou o merecido segundo golo da melhor equipa em campo. Agora que penso calmamente, estava de facto a pedi-las. Pensou o mesmo ASD e expulsou-o num lance em que, 3 dias antes, 75% do país juraria que se tratou de um choque involuntário de cabeças. Só que neste não foi ninguém para o hospital, pelo que era indicado expulsar um qualquer. Olha, pode ser este pequenito que já me anda a irritar mais às fintas, raisparta o petiz.
Que depois o FCP padeceu do seu próprio mal de não saber controlar, com 11 ou com 10, que recuou e confiou no sacrifício e na raça, também é verdade. Culpa de cá. Mas não mais certo do que a óbvia e ululante superioridade que teve enquanto foram 11 contra 11. Nada indica que isso estivesse para mudar. Menos ASD. Culpa de lá. Vezes infinitos.
Quatro pontos roubados em dois jogos, o melhor jogador castigado, o treinador expulso e com castigo anunciado, FCP has left the building. Só que não, meu querido ASD, meus queridos todos, meus adorados haters - que o sois porque, antes de tudo, sabeis que cada palavra escrita acima é VERDADE - só que não. Atrevestes-vos a tentar sufocar o grito audaz da ardente voz. Ninguém recua! Este o paradigma absoluto do Portismo, vocês é que não aprendem.
3- Faria diferença que, neste cenário, Pinto da Costa viesse a terreiro defender os seus? Sim, claro que sim! Alguém o ouviria? Não, só nós. E nós precisamos que nos digam o que já sabemos? Não. E sim! O treinador e os jogadores lutam contra as suas fraquezas, que as têm, contra os méritos dos adversários, que são múltiplos, e contra o desígnio nacional, que existe. Os adeptos, uns mais cegos, outros com os olhos mais abertos, exibem as marcas de mil batalhas destas, contra tudo e contra todos, e tentam empurrar.
Sabemos tudo, senhor Presidente, mas nestas alturas precisamos que o General, que o Líder, que o Pai, se quiser, nos venha dizer que está connosco e que estamos certos. Precisamos de colo, talvez. E o senhor ausenta-se, cala-se e, por um breve minuto, apetece-nos desistir. Passa rápido, mas não esquece. É mais um buraco no nosso paradigma absoluto. Porque nunca nos esquecemos de si e da sua obra. E você, esqueceu-se de nós?