"Vénia ao 3° Anel" é a visão de um Benfiquista profundamente apaixonado pelo ideal do seu clube, mas por isso exigente e racional com quem momentaneamente o representa. A águia tem sempre que voar alto
"Se estivesse aqui um demagogo qualquer, queria era investir para apresentar uma super equipa [nas eleições], mas imagine que aquilo não resultava, a queda era grande." - Luís Filipe Vieira, 24/09/2019
Um Benfica que investiu 100 milhões em reforços, que gastou 24 milhões num ponta-de-lança, que gastou 38 milhões em 2 extremos brasileiros, que foi buscar Jorge Jesus ao Brasil, que prometeu jogar o dobro e arrasar, apresentou-se em Alvalade para jogar contra uma equipa do Sporting com um orçamento significativamente menor, carregado de jovens jogadores a darem os primeiros passos no futebol profissional e um treinador também ele com apenas 2 anos de futebol de 1ª divisão.
Um Benfica que falhou o apuramento para a Liga dos Campeões, que não conseguiu ficar em 1º lugar no seu grupo da Liga Europa contra uma equipa escocesa, uma belga e uma polaca, que perdeu a Supertaça Cândido de Oliveira, que foi eliminado da Taça da Liga, que estava a 6 pontos do líder à 15ª jornada apresentou-se em Alvalade para jogar contra uma equipa do Sporting organizada, moralizada e disciplinada e com um treinador a mostrar ser talentoso.
E o que se viu, num jogo talvez decisivo para o clube e para a equipa? Um Benfica a adaptar-se ao adversário, jogando com 3 centrais e revelando uma incapacidade tremenda de criar ocasiões de golo e ambição de chegar à vitória que tanto precisava. Sofreu o golpe de misericórdia no minuto 90 e sai de Alvalade a ter que recuperar 14 pontos aos seus 2 rivais. E com apenas mais 5 pontos que o... Paços de Ferreira.
Como se explica isto? Haverão várias razões menores, mas é importante parar de olhar para as árvores e olhar para a floresta. O Benfica vive claramente um final de ciclo de uma liderança que está podre de gasta. O problema do clube é estrutural, é de cultura. Nos últimos anos os seus dirigentes aburguesaram-se, desleixaram-se, desinteressaram-se, estiveram mais preocupados com problemas de justiça e com interesses económicos e o clube caiu num marasmo desportivo que nem 100 milhões atirados para cima resolveram. O futebol tem esta coisa maravilhosa: quando um clube é bem gerido tem sucesso, quando é mal gerido tem insucesso. E esta gente pouco percebe de futebol, não tem paixão e é incompetente. Repare-se neste pormenor, no meio de tanto absurdo: no dia em que o clube tem um jogo decisivo dispensa 2 centrais durante o dia para à noite a equipa apresentar-se com 3 centrais em campo, um deles lesionar-se e não haver ninguém no banco para o substituir, tendo que se recorrer a uma adaptação que certamente não se pretendia (perder Weigl no meio-campo).
Portanto, Jorge Jesus tem muita culpa. Chegou ao Benfica com o rei na barriga, a prometer arrasar e jogar o triplo e a equipa joga o triplo de zero. Não se consegue entender o que aquela equipa treina, não há automatismos, não há consistência. Portanto, os jogadores do Benfica têm muita culpa. São um conjunto de jogadores desmotivados, resignados, sem intensidade, sem futebol e que não conseguiram ganhar um único jogo a uma equipa de valor semelhante: PAOK, Rangers, Braga, Porto, Sporting. Nem um. Zero. Portanto, a "estrutura" tem muita culpa. Todos aqueles elementos que rodeiam o Presidente e habituaram-se a trabalhar e comunicar para desculpabilizar os insucessos. Que vivem de atirar areia aos olhos dos adeptos. Que escrevem newsletters diárias com um chorrilho de desculpas constantes, como a do dia seguinte a esta derrota com o Sporting em que consideram os 9 pontos de distância à 16ª jornada "desafiantes". Já se dão ao desplante de achar que os adeptos comem isto. Portanto, os sócios têm muita culpa. Falharam nas recentes eleições. Não entenderam os sinais de uma liderança desgastada, perdida, finita. Não perceberam que este Benfica precisa de sangue novo como o Eusébio precisava de golos. E tiveram mais uma vez medo da mudança (mérito da comunicação do clube que há anos lhes lava o cérebro com o fantasma Vale e Azevedo). Aceitam que a comparação seja sempre com o Benfica do ano 2000 e vão achando que então está tudo bem. Quando está tanta coisa mal.
Mas a maior culpa é de Luís Filipe Vieira. Um Presidente do Benfica, do maior clube Português, do clube que tem o dobro dos adeptos dos outros e por obrigação devia ter o dobro das receitas, que se está a pôr a jeito para perder o 11º campeonato em 18 anos e que nesse período também só ganhou 3 Taças de Portugal. Um Presidente populista, que anda há 18 anos a prometer o Benfica Campeão Europeu aí ao virar da esquina e que passado duas décadas continua a revelar uma incapacidade gritante de ser sequer desportivamente consistente e hegemónico a nível interno. E que este ano atirou todo o seu projeto dos últimos 10 anos, que goste-se ou não, estava definido (apostar no Seixal e em jovens jogadores para valorizar, vender e apresentar relatórios positivos. Pelo meio ter sucesso desportivo, se possível) por um medo pessoal apenas: a de perder as eleições. Com isso mais mostrou como o seu tempo no Benfica acabou. Até as obras de cimento pararam. Já nada tem a fazer.
Depois deste all-in total, depois de prometer que este era o "mandato desportivo", se se confirmar que o Benfica perde o campeonato (e até novamente o acesso à Liga dos Campeões do ano seguinte) Luís Filipe Vieira só devia ter um caminho: assumir o falhanço, acatar responsabilidades, apresentar a demissão e convocar eleições antecipadas. Dirão: "mas foi eleito para 4 anos ainda há 5 meses!". Pois Bruno Lage também renovou até 2024 e 6 meses depois foi despedido. O futebol é assim. Porquê perdoar mais um ano de insucesso? De onde vem esta paciência eterna de uma maioria (cada vez mais pequena) de Benfiquistas para com este Presidente? Adeptos que assobiam jogadores passado 5 jogos, que mostram lenços brancos a treinadores passado 5 meses, mas que são incapazes de apontar o dedo ao seu Presidente passados 18 anos? Chega. Basta.
Em tempos terminei uma crónica dizendo "Do Benfica não se desiste". E que ninguém tenha qualquer dúvida, continuo a achar o mesmo. Não estou a atirar a toalha ao chão, não estou a desistir do meu querido Benfica! Porque o meu Benfica é aquele clube digno, hegemónico, de mística pura, o Glorioso clube do povo, pelo povo e para o povo que em tempos existiu. É esse que temos que ir buscar de volta! Doa a quem doer.