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    A Tasca do Silva
    Paulo Silva
    2020/12/01
    E1
    A Tasca do Silva é o espaço de opinião sobre e à volta do FCP, dinamizado por Paulo Silva, um dos podcasters responsáveis por A Culpa é do Cavani, o podcast de referência do universo portista.

    Desde o nosso último encontro, o mundo da bola tem sofrido perda atrás de perda. Talvez calejado pelas chapadas da vida no que toca a perder gente, tenho sempre uma perspetiva um pouco distante nestas coisas da morte de quem não conheço. Já sei que soa um pouco cínico, mas é assim mesmo e não vou agora fazer de conta que me desabou o céu na cabeça e estou inconsolável.

    Não tive assim tantas oportunidades de ver Maradona jogar, mas reconheço-lhe o génio. Sendo certo que o reconheço igualmente a Messi e tenho a certeza que daqui a 50 anos serão recordados no mesmo patamar. Também não vejo grande vantagem em vir para aqui desfiar os podres de D10s. Estiveram sempre à vista de todos, não nos macem mais com isso, agradecidos.

    Reconheço a importância de Reinaldo Teles, porque o Presidente sempre fez questão de a vincar, na construção do F.C. Porto enquanto colosso do futebol mundial. Deve o clube e nós, enquanto seus apaixonados, ser-lhe eternamente grato. Nunca ouvi uma palavra má a seu respeito, exceto aos adversários, o que, por norma, é bom sinal. Mas não posso fingir que estou em lágrimas como se tivesse perdido um amigo chegado.

    Confesso que manifestações de grande dor me deixam sempre de pé atrás. Parece que de repente veio o vírus e infetou toda a gente, não apenas com o conhecimento profundo da vida e obra do falecido, como ainda os armou Cavaleiros da Ordem da Defesa da Honra do Defunto. As redes sociais escalaram o nosso bem conhecido “morto é que tu és tão bonzinho” e agora já vamos numa espécie de “ai do primeiro que que belisque a memória do meu menino, de cujo nome agora não se me alembra”.

    Pois com certeza que eu sou uma besta insensível, mas é que me desagrada este cheirinho a hipocrisia pela manhã. Vai uma aposta que, hoje mesmo, vamos descobrir que a obra e pensamento de Eduardo Lourenço eram francamente familiares ao português médio? Quem? O Eduardo, pois então.

    Vejam Vitor Oliveira. Incontestavelmente um Senhor (assim de maiúscula e tudo) no mundo cão do futebol. Todos o conhecemos, todos sabemos que sempre foi um espírito livre e calculamos o quanto isso prejudicou a sua carreira. Todos conhecemos a sua especialização em subidas de divisão e nos lembramos de como recusou continuar nos clubes que subia, amiude. E já agora, se mal vos pergunte, quantas vezes desejaram que ele treinasse o vosso clube? Os senhores do Feirense aí ao fundo, é favor ficarem caladinhos que isto não é para vocês. Mas a sério, Dragões, Águias e Leões da sala, quantas? Senhores da Federação, quando foi que o tiveram em conta para a Seleção? Começo eu: nunca! Nunca desejei que Vitor Oliveira treinasse o FCP. Pronto, está dito.

    Porque a verdade é que isso de ser um Senhor nos passa bastante ao lado, até que feneça. Aí a gente lembra-se. Mas quando faz mesmo diferença, ah não, preferimos o discurso boçal e egocêntrico que ganha jogos e insulta os adversários. Preferimos gente que responde a todas as perguntas complicadas com o estafado “vocês disto não percebem nada”. É certo que estou a pensar no exemplo mais recente, de ontem mesmo, mas podíamos recuperar dezenas de outros. Vossos e meus.

    Vocês têm mais o que fazer e não vos quero demorar em dia feriado, prendo-vos por apenas mais um momento para vos dizer que tentarei não deixar que a euforia do resultado, a bebedeira da vitória, o orgasmo da paixão, me enamorem mais dos umbigos do mundo do que dos Senhores. Mas acho que não vai correr bem, porque no fundo já sabemos que me enamorarei sempre pelo umbigo de alguma Senhora. Era como vos dizia, uma besta insensível, sem remédio.



    Comentários

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    motivo:
    LM
    Comentário pouco conclusivo
    2020-12-11 20h59m por lmanuel
    Não é muito claro para onde se dirige este comentário. Se calhar não tem que ser. . . se calhar somos todos o estrangeiro do Camus.
    No entanto há uma coisa de que é preciso discordar: creio que Messi já não consegue chegar ao patamar de Maradona. Vamos ver o que faz no próximo mundial, mas vejo difícil. Maradona, em 86, foi decisivo num mundial como nenhum outro jogador tinha sido antes e nenhum outro voltou a ser. O homem só não resolveu o jogo dos oitavos de final contra o Urug...ler comentário completo »

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