O FCP fechou uma época que ficará na história, por pandémicas razões, com chave de ouro, conquistando um título que nos fugia há tempo demais e que era uma pedra no sapato do nosso treinador. Os meus irmãos azuis e brancos festejaram rijo, soltando a sua justificada euforia por mais uma “dobradinha”. Desta vez, creio que eu estava ainda mais feliz.
Explico rápido e fácil: o meu único receio para o jogo de domingo passado não era o relvado, embora pudesse ser; não era o adversário, embora pudesse ser; não era o onze, embora pudesse ser; nem sequer o resultado, embora...isso. A única sombra que me assaltava era o previsível fim prematuro do meu namoro com o FCP de Sérgio Conceição.
Raios, ainda agora tínhamos começado a trocar mensagens fofinhas, a confessar arrepios só de pensarmos um no outro e já me parecia que um matulão hipermusculado se vinha intrometer entre nós. Em surdina ensaiava os argumentos da futilidade, da aparência, da cobardia da zona de conforto, e ia-me resignando ao “bem maior”: que sejas feliz, é quanto eu gosto de ti, como nunca alguém.
E afinal, compareceu ao encontro marcado. Vinha solta, arejada, a distribuir confiança pela plebe, cheia de classe na sua melhor roupa. Assim chegou a minha equipa, tal e qual me ia habituando a vê-la em tempos muito recentes, e eu derreti-me.
Depois levantaram-se Adamastores e ela trocou os saltos altos das assistências de calcanhar por botas de biqueira de aço, soltou a força que já lhe conhecia e deitou mãos à obra sem pestanejar, com os seus dentes impecavelmente brancos cerrados e um olhar gélido, mas matador. Ah, e eu, pobre apaixonado, perdoei-lhe o cabelo em desalinho, o vestido amarrotado, e atirei-me ao mar com ela.
A razão da minha maior felicidade não está tanto em termos dobrado o cabo dos (Artur) Dias Maus e oferecido mais uma Taça ao Museu, está no facto de, mesmo que tivéssemos naufragado, termos demonstrado que sabemos que somos melhores e que já não temos medo de o mostrar, nem nos falta confiança para usar aquele decote mais arrojado.
Mas não lhe chegue a mostarda ao nariz, à minha equipa, que toda a convicção que lhe reconhecem nos passos bamboleantes, a provocar, vira força bruta e é menina para vos alapar duas estaladas nas fuças que vos salta o sangue purajorelhas, carago!
Paulo Silva
A Culpa é do Cavani