placardpt
    Uma peladinha no Maracanã
    Jorge Reis-Sá
    2020/07/07
    E1
    Não esperem análises sérias sobre o Famalicão ou sobre futebol. Não esperem análises, sequer. Ou esperem sentados, senão cansam-se.

    Aqui

                    Custa muito dizer isto: mas décimo quarto, outra vez?

                    O Famalicão está na sua sétima participação na Primeira Divisão (a minha bisavó nasceu em 1910 e até morrer dizia “sete contos de reis”, atirando o escudo para as urtigas – eu não acredito na Primeira Liga, lamento). Tem dezenas de participações na Segunda Divisão, chamemos-lhe de Honra, B, Campeonato Nacional de Seniores ou até, cruzes credo, Segunda Liga. Algumas na Terceira e três honrosas investidas na Primeira Divisão, mas da Associação de Futebol de Braga. Neste particular (uma maravilhosa expressão, porque se fosse particular não estava a ser aqui publicado), a última das quais na distante (colocar o emoji para salientar ironia, por favor) época de 2008/2009.

                    Das seis vezes que esteve entre os grandes (sendo Salgueiros, Tirsense, Atlético e Sanjoanense, alguns dos grandes com quem jogou), teve dois décimos terceiros lugares (nas duas vezes em que participou e desceu), um décimo sétimo (da última vez em que lá esteve e em que também desceu) e, aí está, três décimos quatros lugares. Em resumo, a melhor participação do Vila Nova na Primeira Divisão são três décimos quatros lugares – os décimos terceiros parecem melhor, mas não ajudaram muito nos objectivos de lá continuar.

                    Este ano, estamos a ir pelo mesmo caminho. É inadmissível que, se invertermos a classificação, estejamos exactamente em décimo quarto. Culpa da estrutura, do treinador, dos jogadores, dos adeptos – de todos. Não se faz. Já chega. Estou cheio de décimos quartos lugares até às pontas dos cabelos.

                    Podem perguntar-me – e talvez até o devessem fazer – porque escrevo eu isto. Afinal, não estamos em quinto? Sim, estamos. Mas eu estou mal habituado, literalmente. E sou um pessimista antropológico, declaradamente. Não consigo fruir em condições a felicidade sem esperar que ela acabe ao virar da esquina. Isto de estar em quinto só pode ser um embuste. Por isso, para melhor nos entendermos, olhemos para a classificação ao contrário e deixemo-nos no décimo quarto lugar. Dessa forma só podemos subir na classificação, não é?

                    O jogo com o Tondela, ainda para mais, foi desesperante. Jogamos muito melhor na primeira parte, merecíamos ter marcado três ou quatro ao Paços de Ferreira – Tondela, desculpem, aquilo parece tudo igual. Mas na segunda parte entrámos pior e marcámos “contra a corrente do jogo”. Antes de continuar a sapiente análise, uma nota: é uma estupidez marcar contra a corrente. Correntes só no rio ou no Hannibal Lecter. Isto de ir contra a corrente como se subíssemos o mesmo rio é uma patetice. O Homem, afinal, não é um salmão. A felicidade costuma vir quando se chega à foz e não quando se regressa a montante. Enfim, de expressões idiomáticas patetas está o inferno e o futebol cheio.

                    Mas marcámos. E depois o árbitro resolveu compensar outros erros a nosso favor com a expulsão do Toni Martinez a favor do Benfica. Senhor árbitro, o Benfica já não consegue ser campeão, está a jogar mal que dói e, como se viu nos três jogos anteriores, é uma muito pior equipa que o Vila Nova: Nehuén Pérez mete o Ferro no bolso; Gustavo Assunção repatria o Weigl para Dortmund. Martinez vale um Vinicius e um Esferovite juntos. Mas eu entendo, senhor árbitro: é para que o jogo de quinta-feira fique mais equilibrado.

                    Depois foi desesperante porque éramos dez e eles onze. O Arouca não estava a jogar mal (Tondela, enganei-me outra vez), e tivemos de trocar laterais para refrescar as alas. (As expressões no futebol não são maravilhosas? Vão lá ler novamente a frase.) Seja como for, somos uma equipa grande, mesmo que em décimo quarto e a lutar para não descer – para sétimo. Muito ao contrário do que se falará a seguir.

                    Ali

    Armando Gonçalves Teixeira, vulgo, Petit e José Ricardo Soares Ribeiro, o Zé. Treinadores de equipa pequena porque são treinadores pequenos. Embora, como bem sabem esta crónica não se limita a opiniões infundadas – também tem factos sem qualquer interesse. E o Petit até tem 1.75 de altura. Mas dêem-me liberdade. Treinadores pequenos usando a metáfora.

    Petit, esse agraciado com a Ordem de Infante D. Henrique (está escrito no mesmo lugar onde fui ver a altura, que querem), acha que ainda tem jogos à quarta-feira, mas sem pandemia. Por isso, pensa que faz sentido rodar os jogadores porque tem a meia-final da Taça ou os quartos de final da Liga dos Campeões a meio da semana. Num acto pequeno, alterou toda a equipa contra o Porto, levando cinco secas. Só tive pena de não serem mais e eu não gosto nada do Porto (lamento, cada um é como cada qual, o Freud há-de ter explicação). O Famalicão alterou com o Vitória de Guimarães e levou sete. Mas na quarta-feira seguinte jogava a meia-final da Taça com o Benfica, podendo fazer história se ganhasse o jogo. Não ganhou mas fez um grande exibição. O B Sad, desculpem, o Codecity, desculpem, o Belenenses, quer dizer, aquele conjunto de rapazes de azul que jogam no Jamor e compraram a entrada na Primeira Divisão, joga Sábado contra o Moreirense, esse portento. Jogou Domingo, anotem. Jogará Sábado, voltem a anotar. É preciso fazer descansar os jogadores e com isso deturpar a competição. Depois não querem que os adeptos das teorias da conspiração das frutas e das malas digam que isto está tudo feito. Enfim, Armando, que desilusão.

    José Ricardo Soares Ribeiro. A carreira nas divisões secundárias, como futebolista, faz dele um treinador secundário, mesmo que estando na Primeira Divisão. Treinador pequeno. O Moreirense tinha 38 pontos antes desta jornada. O Portimonense, 27. Haveria 12 em disputa depois do jogo com o Sporting. E que faz o Zé? Vê o seu guarda-redes levar um amarelo aos 37 minutos por anti-jogo. Claro, e depois há o lance aos 57 minutos. Neste “país sem olhos nem boca”, nada se passará. Mas o Zé deveria levar um castigo que o tirasse do banco até final da temporada, pelo menos. Porque tem de haver ética. Se isso não existir num desporto, andamos todos a ver futebol para quê? Eu sei, é costume. Eu sei, faz parte. Mas, pelo menos, disfarcem. Não nos façam de burros. Façam de conta que não estão a fazer de conta que jogam futebol quando o que querem é que o jogo acabe antes de começar. No final do jogo com o Moreirense, escrevi aqui, o nosso treinador disse que tinha ficado com pena que tivesse acabado, de tão bom que estava a ser, e podendo vir a sofrer um golo se continuasse. O Zé não sei o que disse. Mas imagino que tenha dito “tenho pena que tenha começado”. O Nando e o Zé são treinadores que fazem clubes pequenos. É por causa deles que depois dizem que a Primeira Divisão é o convívio dos grandes. Lamentável.

                    Acolá

                    Amanhã à noite ou quinta de madrugada (leiam como quiserem, que é o mesmo) JJ faz o seu último jogo pelo Flamengo. E o Benfica continua a sua política de aposta em novos valores. Ando sempre a enganar-me, raios: em altos valores, isso sim. “Sai mais uns milhões para a mesa do Seixal!” “Da Luz”, quer dizer. O Seixal volta a ser a outra margem, sem direito a criar grandes jogadores. Pergunta para aposta múltipla: para onde vão jogar os dois Tavares, por exemplo? Valência? Léganes? Braga? Spartak? No Benfica podem crer que não ficam. Volta JJ, estás perdoado.
     

                    Jorge Reis-Sá

                    Para dúvidas, conselhos ou insultos: [email protected]



    Comentários

    Gostaria de comentar? Basta registar-se!
    motivo:
    ahahaha
    2020-07-07 15h35m por virose_pt
    Mas quem é o Famalicão no futebol português? Mas quem é este cromo que escreve aqui e que falta ao respeito a tudo o que mexe no futebol português??? O Famalicão é completamente irrelevante no futebol português e não passou a fazer parte do totobola só porque o Mendes mandou para lá 20 jogadores dele. Para o ano vai para lá outros 20, pode ser que resulte outra vez. O Famalicão representa muito do que está mal no futebol mundial.

    OPINIÕES DO MESMO AUTOR

    Julgo que não enganei ninguém. Quem cá veio ler, percebeu imediatamente que não existem análises sérias – sequer análises, sejamos honestos. ...
    27-07-2020 12:55E3
    Aqui                O jogo com o Boavista tornou imperiosa a viagem ao Funchal. E é mais uma das coisas que a ...
    22-07-2020 12:02
    Aqui Já há umas crónicas falei do tempo. O facto de um jogo ter 90 minutos e o cronómetro não parar quando a bola sai e ou o jogo se interrompe, faz com que ...
    16-07-2020 13:25E2
    Opinião
    Oitava Arte
    Álvaro Costa
    O Melhor dos Jogos
    Carlos Daniel
    O sítio dos Gverreiros
    António Costa
    O sítio dos Gverreiros
    António Costa