Tenho ouvido tanta teoria mirabolante que achei que podia “mirabolar” também.
Vamos lá falar sobre este médio português.
Já estive na presença de Bruno Fernandes algumas vezes.
Tem o físico de um etíope.
Um etíope anorético, atenção.
Mesmo assim consegue ombrear com os jogadores mais possantes.
No último minuto de jogo, consegue disputar com a mesma capacidade física o lance que disputou no primeiro.
Agora, vamos falar sobre a posição que ocupa no campo.
Será Bruno um médio!?
Acho que se pode dizer que sim.
Joga no meio.
Tem boa capacidade técnica.
Lê bem o jogo e consegue aliar a velocidade de pensamento à sua execução.
Passa bem a bola.
Assiste os homens mais adiantados para finalização.
Aliás, tem várias assistências esta época.
Acho que estamos todos de acordo.
Bruno Fernandes é um médio.
Mas depois começam as minhas dúvidas.
Acompanhem-me.
Lembro-me de jogadas de concretização da turma leonina.
E recordo que Bruno Fernandes aparece a finalizar.
São vários os cruzamentos em que ele surge na pequena área como um ponta de lança.
Ou que fica na entrada da área para, numa eventual bola que sobra, aplicar o seu pontapé.
Faz golos e mais golos.
Especialista em bolas paradas.
Tem neste momento 25.
Epá, não me lixem.
Bruno Fernandes é um avançado.
Está resolvido.
Mas esperem lá.
É que são inúmeros os jogos em que o vejo a fazer dobras aos laterais.
A acompanhar avançados adversários e a fazer carrinhos dentro da sua área.
A efetuar cortes de golo bem perto da sua baliza e ainda a sair com a bola controlada.
Afinal, estava enganado.
Bruno Fernandes é um defesa de qualidade inquestionável.
Entendem agora as minhas dúvidas?
Bruno é omnipresente.
Ia jurar que já o vi bater um canto.
E aparecer a fazer golo ao segundo poste.
É um 8 que defende como um 3 e finaliza como um 9.
Está encontrado o próximo número da camisola.
839.
Depois vamos esmiuçar a regularidade.
Nem uma lesão.
Nem uma doença.
Um caso de indisciplina.
Este é o meu critério para o colocar como melhor jogador do campeonato.
Adoro João Félix.
Mas passou mais de metade da temporada de fora.
Por culpa alheia ou não.
A verdade é que foi metade da época à vida.
Também morro de amores pela genialidade de Brahimi.
Tivesse eu outra orientação sexual e possivelmente fazia a minha vida à porta do Olival.
O pequeno careca argelino de mau feito tem um talento incrível.
Mas só o mostra a espaços.
E quem joga bem no espaço é o astronauta.
Agora vamos focar nesta observação de vários analistas.
Bruno Fernandes só se destaca tanto porque o resto da equipa é fraca.
E que se fosse numa equipa boa não dava nas vistas.
Primeiro, a qualidade da equipa parece-me igual à de muitos outros anos.
Não sou eu que digo.
É a classificação.
Agora, a outra parte.
Será que com jogadores que lhe passem melhor a bola.
Que ataquem mais e não o obriguem a defender.
Que sofram mais penáltis e livres para ele bater.
Que lhe assistam à boca da baliza para ele só ter que encostar.
Que no fundo joguem como ele.
Será que não se vai destacar como hoje?
Mesmo que não sobressaia.
Só que, no fim do campeonato, faça metade dos golos e assistências, que tem nesta altura, e já é uma época incrível.
A menos que encontrem por aí médios com estes números.
O último a fazer semelhante foi um senhor chamado Lampard.
E só o fez porque jogava numa equipa fraca, não é?
Por fim, que já se faz tarde.
Bruno Fernandes nunca será bem visto por largo universo sportinguista, em virtude da história do “rescinde não rescinde”.
Um conselho.
Não sejam parvos.
É que assim de cabeça consigo enumerar vários atletas que não rescindiram.
Mas que não jogam porra nenhuma.
Que não vão dar vários milhões a ganhar ao clube.
E principalmente não honram e transpiram a camisola como ele.
Portanto.
Aprendam a fazer uma coisa que o Bruno não faz aos adversários.
Perdoar.