O artigo de hoje não estava previsto e acontece, maioritariamente, por razões lamentáveis. Absolutamente lamentáveis.
A semana que agora termina fica, indubitavelmente, marcada por um acidente automóvel que provocou a morte inesperada, prematura e “estúpida” de Diogo Jota e André Silva, dois irmãos cuja partida destroçou os seus Pais. Ninguém merece perder um filho, mas dois de uma só vez é algo que nunca deveria acontecer, mas aconteceu, infelizmente. O ciclo natural da vida não é este, mas antes de os filhos verem os seus Pais partirem, por muito que isso lhes possa custar. O contrário não deveria ser permitido por nenhuma divindade.
O mundo, em geral, ficou a saber o nome de André Silva pelas piores razões, porque o de Diogo Jota já conhecia, não fosse ele um admirado jogador do atual campeão de Inglaterra. Diogo Jota deixou desamparada a esposa, com quem casara tão recentemente, e três filhos, que devido à tenra idade não possuem a noção da crueldade que vitimou o seu Pai. Diogo Jota era um nome incontornável do Liverpool e da seleção nacional, ao passo que o seu irmão André Silva jogava no Penafiel. Parece tudo tão surreal que ninguém quer acreditar que estes dois jovens, do mundo da bola, desapareceram para sempre, ainda que existam promessas de os manter vivos nas diferentes memórias.
Pessoalmente não conhecia Diogo Jota, a não ser de o ver passear uma classe humilde e sem limites nos estádios onde atuava, assim como também não conhecia o seu irmão André. Contudo, como Pai e pessoa ligada ao futebol, através da escrita e dos comentários, não consegui ficar indiferente à tragédia que todos dispensavam com facilidade.
A cidade de Gondomar, de onde eram os dois irmãos, saltou todas as fronteiras e o seu nome chegou aos vários cantos, deste mundo redondo e tantas vezes cruel.
As homenagens aos malogrados irmãos chegaram de várias partes do globo, mas ganharam ênfase maior em Gondomar e em Liverpool. Os adeptos do clube inglês homenagearam, de modo tão espontâneo como natural o jogador Diogo Jota, não sendo esquecido o seu irmão. Assim, não espantou que as mais altas entidades de Portugal se deslocassem a Gondomar para homenagear Diogo Jota e o seu irmão, mais novo, André Silva, tendo ali estado o Primeiro-Ministro e o Presidente da República, além das mais altas entidades responsáveis do futebol português.
A equipa do Liverpool deslocou-se a Gondomar para prometer a Diogo Jota que “nunca caminhará sozinho”, como bem entoam em forma de cântico os seus adeptos. Também a seleção nacional viu ali deslocarem-se atuais e antigos internacionais, para estar, de modo sentido, neste momento horrível em que ainda parece difícil acreditar. Em relação aos representantes da seleção nacional, vou destacar a presença de Rúben Neves, ao que parece o seu melhor amigo, e de João Cancelo, que tendo jogado na noite anterior em terras americanas, voaram diretamente para estar presente no local de culto da homenagem, na localidade de Gondomar. Contudo, faltou a presença muito notada de Cristiano Ronaldo, porque é o Capitão da seleção nacional e o rosto maior do desporto português. Na minha opinião, é uma ausência lamentável, porque está em causa o valor da vida que nós lhe atribuímos.
O SC Braga reagiu institucionalmente à tragédia, tal como outros clubes, o que eleva a instituição. Não seria de esperar outra coisa quando são apregoados valores que não devemos deixar de lado em determinadas alturas. O plantel bracarense tem em Ricardo Horta e João Moutinho dois nomes que eram próximos de Diogo Jota, devido a contextos diferentes, pelo que os dois jogadores brácaros sentiram de maneira particular este trágico acontecimento e marcaram presença em Gondomar. O facto de o SC Braga realizar um jogo de preparação contra o Paços de Ferreira, onde Diogo Jota jogou, não inibiu que os dois nomes do grupo de capitães arsenalistas marcassem presença nas homenagens fúnebres, o que me orgulha enquanto braguista, ainda que preferisse, sem qualquer margem para dúvidas, que nada disto tivesse acontecido.
Por fim, refiro a promessa do Liverpool de retirar o número 20, que era de Diogo Jota, da utilização futura. Até quando será pouco importa, mas o gesto vale muito. À família desejo que consigam ultrapassar estes momentos de uma dor sem limites e que os dois irmãos consigam descansar em paz. É nos momentos mais complicados que nós paramos para pensar se efetivamente estamos a dar o devido valor à vida, cuja fronteira com a morte é demasiado ténue.