Ao dia de hoje temos um FC Porto feito objeto misterioso, um Sporting de rendimento discutível e um Benfica bipolar. Até segunda-feira será importante
perceber como ficam os plantéis: se Anselmi terá os perfis de que precisa para a revolução tática que prenunciou em Belgrado (e se a excelente venda de
Galeno ajuda a isso), se o Sporting acrescenta conforto à estrutura predileta de Borges (nas laterais da defesa e com mais um atacante destro que desequilibre) e se o Benfica consegue ganho nas alternativas a Beste e Cabral, alegadamente vendidos a preço de custo ou perto disso.
Não está tudo em aberto, mas quase, mesmo se o Sporting segue com vantagem assinalável na liderança. Acontece que a qualidade de jogo dos
leões tem sido sofrível – eu não estou mesmo nada convencido - e as dificuldades físicas de Gyokeres (a somar à ausência de Pote) são mesmo um
problema de tomo. E há um FC Porto-Sporting dentro de duas jornadas, que marcará decerto o futuro de qualquer das equipas. E da própria Liga.
Ouvi alguém dizer e concordo: este bem podia ser o ano de um Braga campeão, naturalmente um outro Braga também. Atente-se nisto: a despeito de
uma temporada insegura e com várias desilusões, os bracarenses estão hoje a 4 pontos apenas de Benfica e FC Porto. Vale o que vale, mas bastava que
tivessem ganho jogos recentes na pedreira frente a Famalicão e Casa Pia e estariam no segundo lugar. Ou seja, perfeitamente dentro da corrida ao título. Ainda muito pode mudar até maio, mas a meio da viagem, neste último dia de janeiro, parece justo dizer que este ano não ganhará o melhor, apenas o
menos mau.
É verdade que à modéstia do rendimento caseiro corresponde uma participação na Europa claramente positiva. Quando um futebol curto de
orçamentos discute na mesma semana três jogos contra equipas italianas e não perde nenhum é porque há potencial para mais. Além de que Sporting,
Benfica e FC Porto seguem em frente na UEFA e o Braga só por um triz não os acompanha. Mas o que explicará que uma equipa com tanta dificuldade em
ganhar em casa consiga derrotar a Lazio, e que outra, com poucos dias de diferença, seja tão competente com a Juventus como incompetente diante do
Casa Pia?
Eu tenho uma teoria, mesmo se não necessariamente sobre estes jogos. Ouvi-a mais que uma vez de amigos sábios com anos de experiência no futebol e
concordo com ela: a primeira e mais decisiva missão de um treinador é a de colocar em campo os melhores jogadores. Em miúdos, quando se escolhiam
equipas num “bota-sapato” em jogos de rua, as primeiras opções não eram pelos mais rápidos, ou mais altos ou mais agressivos, muito menos pelos que
iriam interpretar corretamente uma estratégia: Escolhia-se o que jogava melhor. Depois o segundo melhor. E por aí adiante. E que tinha mais dos melhore novamente ganhava. Às vezes faz é mesmo útil voltar à base, à essência deste jogo que nos encanta. E por que razão nos encanta, afinal.
Por falar em encantamento, é absolutamente admirável o que tem feito a seleção portuguesa de andebol no Mundial de Oslo. Daqui a muitos anos ainda
nos lembraremos do talento dos manos Costa (Kiko é um prodígio), das defesas do Diogo Rêma, da força de Frade e Iturriza, da inteligência de Rui
Silva. E falaria de todos os outros, e de Paulo Jorge Pereira, o comandante, que bem merece este sucesso. Com licença do futebol e do caso singular do
hóquei em patins, Portugal nunca teve, que me lembre e numa modalidade coletiva, nenhuma seleção deste nível. Força rapazes, que o lugar na história
está garantido e o orgulho já é imenso, mas o céu é o limite.