A história de Fideo poderia ser um momento de mágico realismo, inventado por Jorge Luís Borges ou Cortazar.
Um avô azarado e, segundo a lenda, o melhor de todos.
Um Pai de enorme talento, mas a quem uma lesão grave obrigou a tornar-se carvoeiro para sustentar a Família.
Uma Mãe abnegada, capaz de todos os sacrifícios para levar o seu menino Esparguete aos treinos, a bordo de uma bicicleta antiga e pesada - quitada para o poder transportar.
Ainda não revelei a identidade do 'Fininho’ talentoso, feiticeiro com uma bola nos pés e com um sonho: o de jogar um dia no Rosário Central. Sim, falo de Angelito ou Fideo di Maria, cuja dimensão humana o documentário da Netflix, «Derrubando o Muro», tradução para uma história que emociona, é capaz de contar de uma maravilhosa maneira.
Rags to riches, como diriam os americanos sensíveis a estas inacreditáveis viagens que definem as profundidades da condição humana.
Futebol? Muito e bom! Detalhes biográficos? Muitos e interessantes. Em vez de realidades virtuais, gosto de contra factos. E se Di Maria tivesse regressado a Rosário, carregando a cruz de uma adaptação complicada ao futebol europeu?
Muitos já não se recordam, mas as primeiras épocas no SL Benfica não foram nada fáceis. Recordo bem que parte da família o acompanhava naquela que, para o modesto Fideo, era uma aventura cinematográfica.
Ao resistir a uma tentação fácil, Angel Di Maria tornou-se no futebolista genial. No Artista que nunca se esqueceu das suas origens.
As cenas, algumas hilariantes com os seus amigos de Churrasco Argentino, humanizam a estrela que vestiu camisolas como a do SL Benfica, Real Madrid, Manchester United ou PSG.
E, já perto da despedida da Albiceleste, derruba o muro mais alto: após lesões, derrotas, críticas negativas, algumas violentas, torna-se - final e justamente - campeão do Mundo.
O efeito de um Documentário como este manifesta-se de dois modos essenciais: o respeito e admiração pelo sacrifício familiar e a confirmação absoluta de um talento muito superior e superlativo que, a viver na era Ronaldo /Messi, ficou um pouco escondido.
Finalmente, a mensagem essencial; acreditar sempre no sonho, mesmo que pareça inatingível para um Fideo de Rosário, Argentina.