Andámos meses a temer/concluir/ambicionar (consoante o perfil do adepto) isto, não foi? Que este campeonato se acabaria a decidir no Benfica-Sporting da penúltima jornada. E, após incontáveis emoções, aqui estamos. O dia aproxima-se.
O Sporting chegou a andar com vários pontos de avanço, o Benfica também chegou a ter dois pontos na frente e ainda agora nesta última jornada chegou a pairar pelo ar a perspectiva do Sporting chegar à Luz novamente atrás do Benfica. Mas parece que estava escrito.
Este campeonato tinha de se decidir naquele sábado às 18h da tarde. Alguns mais picuinhas dirão "mas se acabar empatado ou o Benfica só vencer por um golo de diferença, só se decide na última jornada!". Certo. Mas alguém duvida que Benfica ou Sporting desperdiçariam essa oportunidade de ouro na última jornada? Seria altamente improvável.
Sejamos claros: Se o Benfica vence, é campeão. Se o Sporting empata ou vence, é campeão.
Há já quem lhe chame o derby do século. Bom, se considerarmos que este novo século vai na sua segunda década, é possível que seja. O único que se aproxima em importância é o de 2004/2005, que ocorreu em circunstâncias praticamente iguais: se o Benfica vencesse, era praticamente campeão (como o foi), se o Sporting empatasse ou vencesse, saía com o título no bolso.
Todos os adeptos dos dois clubes com mais de 25 anos lembram-se bem da intensidade e nervoseira desse clássico e não faz sentido retirar importância histórica a ele, principalmente para os benfiquistas, que desesperavam por terminar o Vietname e a seca de 11 anos.
Aqui talvez se possa falar que isto pode dar campeão neste jogo e no estádio (ao contrário desse, que ia sempre para a última jornada) e também porque se sente que com um FC Porto na maior crise financeira, desportiva e de valores dos últimos 50 anos, Benfica ou Sporting parecem lançados para poderem pegar na hegemonia do futebol português.
Não é por acaso que os dois clubes de Lisboa já este ano decidem entre eles a Taça da Liga, o Campeonato, a Taça de Portugal e a Supertaça. É possível que nos próximos anos seja igual.
Haverá quem fale com os jogadores do Benfica esta semana, mas eles certamente nunca lerão esta crónica, por isso quero falar com quem lerá, os adeptos do Benfica. Principalmente os que vão ao estádio no sábado:
Meus companheiros. Meus irmãos. Vocês são filhos da águia. São herdeiros do Eusébio. Isto tem de ser nosso. Interiorizem mesmo isto. Isto tem de ser nosso. Isto vai ser nosso. O factor casa não vai ser desperdiçado. A Luz é nossa. Desde o início eles achavam que isto era tudo deles. Tinham o Amorim, tinham o Gyökeres, eram os campeões, começaram com dez vitórias consecutivas, venceram-nos em Alvalade, chegaram a andar com seis e sete pontos de avanço.
O Varandas e o Borges andam há meses a garantir aos seus adeptos que vão ser bicampeões. Andam com aquele sentimento de superioridade que nos irrita ao mesmo tempo que nos dá vontade de rir quando recordamos que andaram décadas sem ganhar nada. Nós começámos mal, saiu o Schmidt, temos as nossas muitas críticas a Rui Costa, até ao Lage ou aos jogadores. É o Benfica de sempre, já estamos habituados. Mas é assim.
Caímos, tropeçamos, mas nunca vacilámos. E quando chegar a tarde de sábado temos de ir para lá com espírito predador. Sem dúvidas. Aquele campo é nosso e vamos fazer isso muito claro a eles. Este terreno sagrado é nosso.
Nem vou à inquestionável superioridade histórica que temos em relação ao nosso rival, nem à metade nos chegam nos títulos, mas basta pensar neste ano. Demos 4-0 ao Atlético Madrid, 4-1 ao FC Porto, fomos a Turim vencer a Juventus por 2-0, chegamos a estar a dar 3-1 e 4-2 ao super Barcelona deste ano, esmagámos novamente o FC Porto no Dragão com outro 4-1.
Vencemos a Taça da Liga a este mesmo Sporting. Já eles tanta fanfarronice e ainda não ganharam nada. Perderam a Supertaça depois de estar a vencer 3-0, fizeram mais um ano mediano na Europa, como habitualmente, e tantos pontos de avanço tiveram e afinal chegam à Luz a poderem perder isto para nós. Têm uma boa equipa, muitos bons jogadores, a claque deles também os vai apoiar muito e, acima de tudo, têm uma besta na frente? Um jogador de classe mundial, o melhor do campeonato? Sim, têm. Temos de ter noção disso. É super difícil pará-lo.
Mas temos de confiar no António Silva, no Otamendi e no Trubin. E sempre que tiver a bola é assobiá-lo tanto, que o havemos de desconcentrar. Aliás, eles todos! É assobiar de forma gigantesca sempre que tiverem a bola. Quem se lembra daquele 2-1 ao Manchester United em 2005 (quando nós tinhamos o Beto e eles o Cristiano Ronaldo), sabe que esse jogo foi ganho porque passámos o jogo todo a assobiar os ingleses sempre que tinham a bola e a frustração que isso lhes deu.
Eles falaram disso no final do jogo! O Ferguson falou nisso!
Portanto. Quando eles têm a bola, é assobiar. Quando nós a temos é cantar. Olhemos para os No Name e para os Diabos e todos os cânticos que eles começarem, nós vamos atrás. Nós sabemos as letras praticamente todas. Eles começam e o estádio inteiro pega no cântico. E se eles estiverem calados ou não concordarmos com aquele cântico naquele momento, tomamos nós a iniciativa. Nem que seja o "SLB Glorioso SLB" ou o "Amo o Benfica".
Cânticos simples, mas que alastram ao estádio inteiro. E saltamos, batemos palmas, batemos com os pés, incentivamos, pressionamos o árbitro, caraças, tudo menos ficar parado. Tem de ser um ambiente diferente de todos os outros jogos. Daqueles que daqui a muitos anos ainda estamos a falar numa esplanada às 2h da manhã, com várias cervejas em cima, aos amigos.
«Pá, e o ambiente no estádio naquele Benfica-Sporting de 2025? Ainda me arrepio a pensar nisso!». Vai ser como foi aquele 3-1 ao FC Porto do André Gomes, aquele segundo golo ao Portimonense no 5-1 em 18/19 ou aquele 3-1 ao Fenerbahçe sob as asas do Cardozo. Como o estádio teve nesses momentos, mas ainda mais. Ainda mais! Muito mais!
Temos de ir todos vestidos de vermelho. E levar cachecóis e bandeiras. Temos de ter uma multidão na saída do autocarro do Seixal. Carros e motas a acompanhar o autocarro até à chegada à Luz e quando chegar à rotunda Cosme Damião... essa rotunda tem de estar a abarrotar!
Se os sportinguistas podem fazer isso, porque não podemos nós? Se todos os clubes do mundo podem fazer isso, porque não podemos nós? Nós merecemos poder receber a nossa equipa em comunhão, em apoio, em carinho, am amor. Deixem o povo abraçar aqueles jogadores! E façamos a festa nas roulotes e nas imediações do estádio, como habitual, mas desta vez entremos um bocado mais cedo no estádio.
Quando o Sporting entrar para os exercícios de aquecimento, já tem de levar um bafo da águia que os preocupa um pouco. E quando chegar a entrada das equipas...um estrondo digno dos 120.000 no antigo Inferno da Luz. Coreografia, cachecóis, bandeiras, pirotecnia, um barulho gigantesco. Tem de passar pela cabeça dos jogadores do Sporting que eh lá, isto está diferente, eles querem mesmo ser campeões, vai ser muito difícil sair daqui com o que quer que seja.
Pode nada disto acontecer? Pode. Podemos levar com um balde de água fria? Pode. Pode cair para o lado deles? Pode. Podem os nossos jogadores desiludir-nos? Pode. Mas agora temos que mergulhar de cabeça nesta mentalidade. Agora é ir com tudo.
Não há espaço para hesitações nem proteções mentais de "vou-me poupar um pouco, para depois não doer tanto". Vai doer igual, camarada. Esquece isso. Por isso, se vais à Luz neste sábado às 18 horas, vai com tudo. O momento chegou. O momento histórico chegou. Vais estar anos e anos a falar disto. Por isso, vamos acreditar. Às 20h horas do dia 10 de Maio de 2025 o nosso Benfica há-de estar campeão. Há-de estar com o seu 39º campeonato. A Luz em festa, o Marquês em festa, o país em festa, o clube do povo em festa. Se não for já no próprio dia, que seja na semana seguinte.
Eles têm vantagem porque lhes basta o empate? Não, nós é que temos a vantagem toda, porque jogamos em casa.