A época viu-se ao espelho na final da Taça. Desde logo porque acabou melhor quem melhor começou. A diferença de ter começado com Amorim ou com Schmidt contou, seja nas ideias de jogo semeadas ou na coerência do plantel, pelo que responsabilizar particularmente Bruno Lage é tão injusto como glorificar especialmente Rui Borges. No fundo, Lage acrescentou ao que vinha de trás, mas não o suficiente para ganhar, enquanto Borges pouco somou ao existente, mas restou o quanto baste para não perder. Um golo consentido ao Arouca ou outro marcado ao Gil Vicente, ambos para lá do minuto 90, ilustram a ideia principal: as duas «melhores» equipas da época equivaleram-se num nível modesto e foi ténue a linha que separou a glória do fracasso.
Mérito de quem ganha? Há sempre, e o Sporting teve-o sobretudo pela forma como superou uma ventania de lesões, somada a individualidades maiores que a nossa Liga, Gyokeres e Hjulmand à cabeça. Demérito de quem perde? Idem, e o Benfica sofreu no Jamor mais um golo em minuto proibido, devido, em boa parte, à repetida incapacidade de controlar qualquer jogo com bola.
Claro que Rui Borges foi astuto quando lançou Conrad Harder e investiu definitivamente num jogo mais direto. Bruno Lage até ganhou o embate estratégico inicial - é justo dizê-lo – mas fez uma gestão do jogo trágica após o segundo golo obtido (o que não valeu). As substituições são difíceis de entender, principalmente o lançar Renato quando tinha Aursnes (que foi a jogo logo a seguir), mas também retirar Pavlidis quando já não havia Kokçu (os jogadores da águia que mais «pensam» o jogo) e colocar Barreiro como atacante (para defender, claro!) quando ainda dispunha de Di María.
Pode dizer-se, por ser também verdade, que um só lance mudou uma história que parecia escrita, quando nenhum defensor do Benfica soube travar os leões (a não ser Renato, numa falta tonta). Outro fosse o desenlace desse momento regulamentar derradeiro e o Benfica teria uma vitória que seria, no mínimo, tão justa quanto a que o Sporting veio a construir no prolongamento. Por isso a final da Taça foi um espelho da época: qualquer equipa podia ter ganho mas nenhuma merece grande elogio pela qualidade apresentada. E no fim será sempre assim, como aqui escrevi há duas semanas: quem ganha celebra e quem perde justifica-se.
Por falar em justificações, sobre arbitragem só me parece útil insistir na minha tese de alguns anos, que admite o VAR como uma ferramenta que acrescenta verdade, o que é bom, mas que, por omnipresença (e sobretudo em Portugal), reforçou a centralidade do árbitro no jogo, o que é mau. E como o VAR se mete em lances a mais, mesmo nos que de claros nada têm, os adeptos passaram a reivindicar que se meta em quase todos.
E naturalmente a coisa piora quando não intervém no obrigatório, como no lance de Matheus Reis com Belotti. A importância dada aos árbitros em Portugal é tanta que não apenas se multiplicam os comentadores da «especialidade» como há cada vez mais ex-árbitros em altos cargos de instituições (e agora também de clubes). Não vejo nisso um problema em si, naturalmente, mas é um sintoma.
É que cresci eu a ouvir dizer que o melhor no jogo era não se dar pelos árbitros. E agora quase não damos nós por outra coisa.