* Diretor-Adjunto de Informação
O que é um clube de futebol? Para mim, um depósito de memórias coletivas. E afetivas.
Aquele golo, aquela taça, aquele jogo que passa de geração em geração, herança mais do que simbólica de pais para filhos.
Há poucas coisas melhores na vida: partilhar a emoção de uma tarde mágica no estádio, sentir o peito a vibrar da forma que só o futebol nos faz vibrar.
Trajar o emblema e um equipamento é um ato sagrado. Seja num clube de bairro, seja num emblema de dimensão mundial. Naquele escudo vivem as façanhas de todos os tempos, heróis de muitas vidas, gloriosos instantes intemporais.
Aos protagonistas do presente, sugiro um exercício saudável e pouco desgastante: pensar.
Se o fizerem, e se o fizerem bem, evitam cenas tolas como a da última madrugada de domingo para segunda-feira, num bar da Boavista.
Um grupo de futebolistas, principescamente remunerado, achou boa ideia furar as regras internas do FC Porto e estender até altas horas da manhã a festa de um dos seus.
Procurei colocar-me na pele dos infratores, gente demasiado jovem e com demasiado dinheiro para gastar, em busca de atenuantes e boas explicações.
Lamentavelmente, não as consigo encontrar.
Submersos numa época desportiva horrível, recém-saídos de uma humilhação nunca antes vista e imposta pelo rival maior no Dragão, o grupo de convivas achou boa ideia festejar até mais não na véspera de um treino.
Isto não é o pastoreio de um demagogo, mas nenhum alucinogénio – seja ele fama, fortuna ou desapego – pode eximir de responsabilidades os profissionais que têm o privilégio de, jogo após jogo, representar e respeitar o tal depósito de memórias.
Na era das SAD e dos Relatórios e Contas é perigoso desvalorizar conscientemente ativos. Percebo a sensibilidade do tema e a dificuldade em Villas-Boas e restante administração fazerem o que é moralmente mais acertado.
Isso passaria pelo afastamento imediato de todos os noctívagos. Não sendo isso o mais sensato, na perspetiva de quem gere, o sinal de reprovação deve ser carregado e incisivo.
Otávio e demais compinchas tiveram a sexta-feira à noite livre, mais o sábado e todo o domingo. Não lhes bastou. Onde se pedia recato, apenas se viu deboche. Onde se exigia contenção, somente se ouviu forrobodó.
Uma noitada de tolos.
Não foi a primeira vez que o balneário do FC Porto se agitou por um caso de indisciplina destes moldes (Éder Militão apanhado na noite e a festa longa de Uribe são casos recentes), mas desta vez o contexto é especialmente grave.
Há momentos para festas e este, para quem veste a camisola do FC Porto, não é um desses momentos.
Um desrespeito total pelos valores do clube, pelos heróis de todos os tempos, pelos pais que de mão dada levam os filhos ao futebol.
Tardes mágicas, noites podres.
PS 1: o compromisso de Tiago Djaló com a causa portista é mais do que duvidoso. Nunca demonstrou estabilidade e razoabilidade para um clube desta exigência, apesar do passado no Lille e na Juventus; Otávio Ataíde, se não tiver ajuda urgente, é outro caso manifestamente perdido – os centrais apresentaram um rendimento penoso em campo e atitudes juvenis fora dele.
PS 2: os casos de Martim Fernandes (especialmente dele) e de William Gomes são diferentes. O primeiro, garantem-me, tem um comportamento exemplar diariamente e excedeu-se num par de horas numa noite que não devia ter acontecido. O segundo está há poucos meses em Portugal e, compreensivelmente, ligou-se mais aos compatriotas. Que as companhias erradas não os afastem do trilho certo.