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    Unionistas recebem o Barcelona

    Uma cidade, dois rivais, jogo grande: «O ADN do verdadeiro Salamanca já não existe»

    2024/01/18 10:20
    E1

    Picardias. Bate-bocas. Rivalidades. Eis elementos indispensáveis no mundo do futebol, sejam quais forem os países, as equipas ou as divisões a que nos estivermos a referir.

    O conceito é relativamente simples: dois clubes que estão próximos geograficamente ou que se equivalem em termos de palmarés veem-se, por norma, como rivais. No entanto, o que dizer quando um único clube dá origem a uma rivalidade? A situação pode parece algo confusa, mas é exatamente o que acontece na cidade de Salamanca.

    O jogo desta quinta-feira entre o Unionistas de Salamanca e o Barcelona, a contar para o oitavos-de-final da Copa del Rey, foi o mote para viajarmos até ao país vizinho e conhecermos a história da já extinta UD Salamanca, do Salamanca CF UDS e do já referido Unionistas de Salamanca.

    O adeus de um histórico

    19 de maio de 2013. Eis o dia em que a UD Salamanca, clube fundado em 1923, disputou o seu último jogo antes de fechar portas. Mergulhados num profundo mar de problemas financeiros, os charros acabaram mesmo por cair no abismo, deixando para trás 12 participações no principal escalão do futebol espanhol.

    O futuro parecia algo sombrio, mas a verdade é que, nesse mesmo verão, surgiram dois projetos que devolveram o futebol à cidade que conta com cerca de 140 mil habitantes. Por um lado, um grupo de investidores mexicanos, liderado pelo empresário Manuel Lovato, fundou o Salmantino, clube que viria a ser mais tarde rebatizado de Salamanca CF UDS e que está atualmente no quinto escalão do futebol espanhol; por outro, um grupo de adeptos do Salamanca original- conhecido como Plataforma de Aficionados de la Union- decidiu fundar o Unionistas de Salamanca (terceiro escalão em Espanha), que já venceu o Villarreal na presente edição da Copa del Rey e que se prepara agora para receber o Barcelona no Estádio Municipal Reina Sofía.

    Sendo certo que a criação dos dois clubes acaba por ser uma homenagem à UD Salamanca, nem todos veem com bons olhos estes projetos, muito devido às divergências que entre eles existem.

    «Estes dois clubes não se entendem, há um polo de divergência muito grande que prejudica a cidade. Ter uma equipa nos escalões profissionais atrai muitas pessoas, lembro-me que. no meu tempo, havia vários adeptos de clubes adversários que iam passar o fim de semana a Salamanca. Um dos clubes compete no Estádio El Helmántico, um campo muito 'arrumadinho' e este divórcio é complicadíssimo. Não torço por ninguém porque, no fundo, o ADN do verdadeiro Salamanca já não existe. Unir os dois clubes só seria possível se pessoas mesmo da cidade conversassem e liderassem uma direção conjunta». É desta forma que José Taira, português que representou o clube entre 1996 e 2000, analisa o atual contexto futebolístico da cidade.

    Uma coisa é certa: o antigo médio-defensivo não exagera quando refere que Salamanca CF UDS e Unionistas de Salamanca não se entendem...

    Uma rivalidade sem fim à vista

    Aquando da entrada em cena do grupo de investidores mexicanos, o Salamanca CF UDS comprou a marca, o símbolo, o hino, os troféus e a documentação da UD Salamanca por cerca de 152 mil euros, sendo que o empresário Manuel Lovato adquiriu ainda o Estádio Helmántico por um milhão de euros. Dessa forma, o clube que compete no quinto escalão do futebol espanhol utiliza o símbolo e o estádio que já foram da UD Salamanca.

    Naturalmente, o Unionistas de Salamanca não concorda com este cenário, até porque considera que o registo de todos estes elementos do rival não foi feito de forma correta e ainda carece de validação. Assim sendo, o processo segue em análise por parte da justiça até aos dias de hoje. 

    De resto, o Unionistas de Salamanca chegou mesmo a anunciar que iria ter uma subtil referência ao símbolo do clube original na camisola do jogo contra o Barcelona, mas acabou por recuar nessa mesma decisão. Ainda assim, há um ritual do qual os adeptos unionistas não abdicam: ao minuto 23 (em alusão ao ano de fundação da UD Salamanca), os fãs da equipa entoam o hino da UD Salamanca a plenos pulmões.

    Apesar de os dois clubes só se terem defrontado oito vezes, os episódios que contribuíram para o crescimento da rivalidade foram-se multiplicando aos longos destes 11 anos. Em 2019, por exemplo, o Unionistas de Salamanca denunciou nas redes sociais que os dois voluntários que tinha no Estádio Helmántico foram expulsos ao intervalo e impedidos de concluir a transmissão do encontro.

    No mesmo ano, o Salamanca CF UDS, no cartaz do anúncio do jogo com o Unionistas, ocultou a expressão «In Memoriam UDS» do símbolo do rival, num cenário que, de forma natural, causou revolta nos adeptos unionistas.

    Até portugueses na bancada havia

    Nos 80 anos em que a UD Salamanca esteve em atividade, foram 20 os jogadores lusos que representaram o clube. Com 127 jogos no currículo, José Taira assume-se como o português com mais encontros disputados pelos charros e não esquece os anos que passou no clube. 

    «Salamanca é uma cidade que tem muitas 'terriolas' à volta e tínhamos bastante apoio. Iam muitos portugueses das zonas de Miranda do Douro, Vilar Formoso, da Covilhã e da Guarda ver os nossos jogos e convivíamos com ele no final dos jogos. Afinal de contas, faziam uma viagem de 50 minutos e podiam ver equipas como o Barcelona e o Real Madrid, era interessante para eles. Nos jogos da 2ª divisão tínhamos sempre à volta de nove mil pessoas a assistir aos nossos jogos, Salamanca é uma cidade muito turística e de muitos estudantes. A cidade vivia o futebol de uma forma apaixonada», vincou o antigo médio, que esteve duas épocas na La Liga e duas na 2ª divisão.  

    José Taira em ação no Salamanca

    No Salamanca, José Taira cruzou-se com vários portugueses- César Brito, Pauleta e Paulo Torres, entre outros-, sendo que a debandada de portugueses para Espanha na segunda metade da década de 90 teve uma explicação relativamente simples: «Muitos foram para lá pela mão do João Alves [primeiro português a jogar no Salamanca e treinador do clube em 1996]. O meu primeiro ano foi de sucesso porque subimos à 1ª divisão, sendo que, no segundo, tivemos um jogo engraçado com o Barcelona do van Gaal, Luís Figo, Reiziger, Bogarde... Lembro-me que foi no dia de reis, conseguimos uma reviravolta em casa e vencemos por 4-3. Nesse mesmo ano, na última jornada, também fomos ganhar 4-1 a Camp Nou. São dois daqueles jogos que nos marcam.» 

    Sendo certo que o contexto é totalmente diferente e que o Unionistas de Salamanca não é o sucessor da UD Salamanca, conseguirá o conjunto da 3ª divisão espanhola fazer história frente ao Barcelona na noite desta quinta-feira?

    Portugal
    José Taira
    Nascimento/Idade1968-11-18(56 anos)
    PosiçãoMédio (Médio Defensivo)

    Comentários

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    motivo:
    ZeroZero
    2024-01-18 15h26m por we0ron
    Parabéns pelo o artigo, é por isso que este é o melhor site de futebol portugues.

    Fica a sugestão para um artigo semelhante para o Marítimo x Nacional este fds!

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