António Salvador não quis desembolsar «um milhão de euros por sete jogos» e longe de nós querermos dizer ao dirigente bracarense o que deve ou não fazer. Certo é que, menos de uma semana depois, talvez o líder arsenalista esteja a pensar duas vezes. Este sábado, o FC Arouca, orientado por Daniel Sousa, futuro treinador minhoto, foi à Pedreira bater o SC Braga de forma inequívoca, com um resultado de 0-3.
Corajosa, confiante com a bola e capaz de expor todas as fragilidades de um adversário ainda atordoado pela saída repentina de Artur Jorge rumo ao Brasil, a equipa arouquense precisou de alguns minutos para sentir o pulso aos arsenalistas. Depois de o fazer, os visitantes arrancaram para uma primeira parte deslumbrante, que instalou no Municipal de Braga um silêncio capaz de fazer uma qualquer biblioteca corar de inveja.
Mujica, maestro!
Como dissemos, os primeiros minutos foram para sentir o pulso em ambos os lados. Nesse momento, o SC Braga quis ter mais bola e pareceu mais confortável, mas não se colocou em vantagem porque Roger Fernandes estava em posição irregular quando recebeu a bola e bateu De Arruabarrena, aos seis minutos.
O susto foi suficiente para o FC Arouca, que não permitiu mais aventuras do género ao adversário. Sem bola, a equipa de Daniel Sousa alternou entre um bloco médio e alto e roçou a perfeição no que diz respeito à identificação dos timings para lançar a pressão mais adiantada no terreno, o que causou várias perdas de bola à equipa da casa.
Apesar de ter mais bola durante a primeira metade da etapa inaugural, o SC Braga só conseguiu entrar no último terço por via da largura, com cruzamentos sempre bem resolvidos pela defensiva forasteira. Entre transições rápidas e mortíferas quando a recuperação surgia em zonas mais adiantadas e um futebol apoiado, com tabelas curtas e muitos homens na zona da bola, o FC Arouca desmontou constantemente a equipa bracarense.
Pedro Santos a recuar no meio dos centrais para assumir a construção, Javi Montero a descobrir passes progressivos e capazes de queimar linhas de pressão e Morlaye Sylla, caído para a esquerda, a baixar para oferecer apoios. Os três, em sintonia, foram muitas vezes responsáveis pela forma, até aparentemente fácil em vários momentos, como o FC Arouca desconstruiu a pressão do adversário.
Perante tamanha qualidade colocada no relvado, os arouquenses chegaram a uma confortável vantagem com naturalidade. Depois de Cristo González, Jason Remeseiro e Rafa Mujica terem ameaçado, um auto-golo de Serdar Saatci, em cima da meia hora, causou o primeiro momento de silêncio total na Pedreira. Cinco minutos depois, a tal pressão alta resultou em recuperação e Cristo não hesitou em lançar Mujica na profundidade, com o ponta de lança a contornar Matheus para gelar o Minho pela segunda vez.
Pólvora seca
Rui Duarte procurou espevitar a equipa para a segunda metade: deixou Abel Ruiz e Joe Mendes no balneário e fez aparecer Ricardo Horta e Álvaro Djaló entre os onze que regressaram do descanso. Os jogadores deram boa resposta e Simon Banza festejou o 1-2 logo nos primeiros cinco minutos, mas apenas por alguns segundos. João Gonçalves descortinou uma falta do avançado sobre Robson Bambu e impediu o golo de subir ao marcador.
Aviso dado e, pouco depois, reforçado com investidas de Bruma e Roger Fernandes, ambas travadas por De Arruabarrena. A pressão bracarense intensificou-se e o FC Arouca recuou no terreno, mas continuou a ser perigoso na transição. Cristo González, em zona central, deu sempre lucidez ao ataque arouquense.
A pouco e pouco, o ascendente minhoto esfumou-se. As armas lançadas por Rui Duarte não dispararam mais do que pólvora seca, com o SC Braga incapaz de tornar constantes as ameaças à baliza adversária e, ao mesmo tempo, de impedir as chances claras de golo ao opositor. Rafa Mujica, aos 78 minutos, teve a oportunidade mais clara de toda a segunda metade, mesmo com o coletivo a criar menos em relação à primeira parte. A sede de golo do avançado foi saciada, por fim, em cima dos 90', num desvio fortuito a um remate de Jason Remeseiro e que traiu Matheus.
A poucos meses de se mudar para Braga, Daniel Sousa e o FC Arouca semearam o caos na cidade dos arcebispos. Um desaire, porventura, doloroso para o adepto bracarense, mas, quem sabe, também um sinal auspicioso para o futuro que se avizinha.