Resgate de última hora em alto-Mar

Não se esperavam estas dificuldades para o campeão nacional, não se esperava um Leixões tão perto das meias-finais da Taça de Portugal... mas esta noite nem se viu a diferença de escalões entre as equipas. Um Leixões aguerrido, com qualidade de jogo, decidido a chocar o país, caiu nos quartos-de-final quando já avistava a lotaria das grandes penalidades. Sobrevive um dragão desinspirado, com Hernâni a ser o herói improvável que já tinha sido esta época no Bessa.

No dia em que Pepe se (re-)estreou de dragão ao peito e em que Fernando Andrade teve a primeira oportunidade a titular, o habitué Héctor Herrera marcou cedo, mas a resposta leixonense foi corajosa e eficaz e a equipa da casa forçou o prolongamento que acabaria por sorrir aos favoritos visitantes.

Águas agitaram cedo

O ambiente de Taça - bem visível num estádio com mais de 6 mil adeptos, a maioria dos quais leixonenses - trouxe, no plano desportivo, a oportunidade para mudanças e caras menos habituais, em particular do lado portista. Conceição encostou Mbemba ao lado direito, com Pepe e Felipe no centro da defesa, e promoveu uma revolução em zona ofensiva, com as despesas do ataque entregues a André Pereira e Fernando Andrade, com Adrián e Corona nas alas.

A meio, Óliver juntava-se a Herrera e foi em linha quase reta traçada na faixa central que o marcador mexeu cedo. Depois de trabalho inicial de Corona, Óliver picou a bola de forma deliciosa para um Herrera que surgia lá à frente, juntando o estado de homem livre ao de finalizador. Com dois toques, um com o pé direito e um com o esquerdo, abriu-se o marcador em castelhano.

Vizinho mais pobre agigantou-se

Um escalão separa FC Porto e Leixões, e a equipa de Matosinhos nem está tão bem assim na Ledman LigaPro, mas as diferenças esbateram-se ao longo do encontro, mesmo com esse golo inicial. A formação de Jorge Casquilha procurava responder à desilusão precoce, e depois de Fernando Andrade não ter conseguido aproveitar ocasiões para aumentar a vantagem os leixonenses intensificaram a luta pela igualdade. Nos duelos a meio-campo e na construção, mostravam capacidade para tal, mas passar por uma defesa portista com Telles, Felipe, Pepe e Mbemba era outra história. 

O futebol imprevisível de Lawrence Ofori no meio-campo e a visão de Bernardo Martins a partir da ala esquerda deixavam o dragão de sobressalto, mas melhor ou pior a linha defensiva azul-e-branca ia resolvendo, permitindo que lá à frente se avistasse, mesmo que a espaços, um possível segundo golo... que Fernando Andrade continuava a não conseguir agarrar (e André Pereira ia vendo jogar).

E se já a primeira parte tinha mostrado em alguns momentos que o Leixões não estava no jogo para ver jogar, na segundo isso ainda mais evidente se tornou. A equipa de Casquilha condicionava o momento de construção dos dragões, conseguia ter bola e mesmo sem se conseguir aproximar da baliza de Fabiano com a frequência desejada mostrava que nada estava perdido. E com um golpe do treinador, viria mesmo o empate: depois de Militão ter entrado do outro lado, fixando-se no meio-campo, Zé Paulo entrou na equipa leixonense e alguns minutos depois viu espaço para atirar às portas da grande área para o fundo da baliza portista.

Um golo que deixava boa parte do estádio em delírio e que forçaria meia hora extra.

Horas extra que o Leixões mereceu

Forçado a fazer mais 30 minutos de jogo contra um adversário claramente mais disposto a tal, o FC Porto tentava, pelo menos, evitar a lotaria das grandes penalidades, sabendo que o impulso motivacional que segurar o campeão nacional trazia poderia vir a ser decisivo para os da casa.

Assim, ainda na primeira metade do tempo adicional, o FC Porto aproveitou uma bola parada de Alex Telles, uma das grandes armas da equipa, para saltar para a frente do marcador... só que João Capela disse que não. Na sequência de um livre, Soares encostou para o fundo das redes mas a equipa de arbitragem viu um fora-de-jogo que não existiu. Sem VAR à disposição, a decisão manteve-se.

Contra um adversário que se fechava muito a tentar levar a decisão para as grandes penalidades, o FC Porto intensificava a pressão mas não conseguia voltar a acertar na baliza de Luís Ribeiro... até que Hernâni voltou a ser o herói improvável, servido por Adrián. Meias-finais à vista para o dragão, que terá o Braga pela frente.