Há nomes que parecem ter nascido prontos para os livros e Franz Beckenbauer é um deles. É um símbolo da história bávara e o legado vai além do futebol, mas antes do epíteto e do mito, chegou a ser apenas um miúdo franzino do bairro operário de Giesing.
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Foi ali, num apartamento do terceiro andar, que Franz cresceu. Bem antes de ser Kaiser do que quer que fosse, o miúdo teve o seu primeiro contacto com o desporto que o consumiria através da janela. Tinha vista para um campo de futebol e a paixão foi imediata. Um caso literal do futuro no horizonte.

«Ele passava horas a ver os jogos», recordou há alguns anos Walter Beckenbauer, o irmão mais velho, para um trabalho de homenagem que o Bayern München fez no 75º aniversário do mais tarde falecido Franz. Walter, perfeito guia a especialista na infância de uma lenda, também abriu a porta às dificuldades de uma Alemanha pós-guerra. O pequeno Franz atenuava-as com a bola:
«Tínhamos uma infância simples, sem água quente, com o chão todo estragado, mas éramos felizes. Jogávamos descalços na rua. E o Franz... nunca largava a bola. Todos jogávamos na praça, mas ele via o jogo de maneira diferente. Já naquela idade.»

Enquanto caminhamos pelas strasses em torno deste silencioso epicentro do desporto alemão, dois jovens estão no tal relvado a treinar livres diretos. Se são alheios à história futebolística de Giesing, não sabemos, mas são também eles parte do legado de Kaiser - o líbero que mudou o futebol e sagrou-se campeão mundial como jogador e treinador.
Se o mundo for generoso com a memória, haverá sempre quem passe pelo número seis da Zugspitzstrasse e pense: aqui começou algo. Se não, então, e pelo menos, nós.

