Faltam pouco mais de duas semanas para a estreia portuguesa na Rússia. Não é muito tempo, e mais do que meras experiências, estes jogos são para afinar os detalhes de uma máquina que tem de estar oleada. O balanço depois do primeiro, frente à Tunísia? Há talento de sobra para desequilibrar em qualquer altura (e ainda faltam uns quantos artistas), há um processo de estabilização claramente por concluir. E há muito ritmo por recuperar.
Talento ia bastando
Sem o capitão Cristiano Ronaldo, além de três jogadores do Sporting, as opções de Fernando Santos eram um pouco mais limitadas do que serão nas próximas semanas, mas o lote de jogadores está já repleto de gente mais do que habituada a clubes de topo, a competição de topo, ao contrário do adversário desta segunda-feira. A equipa africana vai participar no Mundial e tem um futebol bem organizado por Nabil Maaloul, mas não tem executantes como os nossos - vários dos melhores tunisinos estão fora por lesão -, e isso foi óbvio.
Ainda assim, a entrada dos tunisinos (em pleno período de Ramadão) conseguiu deixar os portugueses em alerta. Futebol rápido, com a bola nos pés, um toca e foge pela zona central que os médios lusos tinham dificuldades em acompanhar. Colocou Portugal em sentido, mas com o aviso lá veio, com toda a naturalidade, a imposição do talento português: primeiro num 4x3x3, com Bernardo na direita e Quaresma na esquerda, depois com uma metamorfose natural para um sistema de dois avançados.
Foi numa incursão pela direita de Ricardo Quaresma (que havia desperdiçado uma oportunidade de bandeja no início) que a bola caiu certinha na cabeça de André Silva. Serventia de Quaresma, com um daqueles cruzamentos que já tantas vezes Ronaldo agradeceu, e que hoje foi o 9 que não desperdiçou.
A equipa de Fernando Santos construía bem nas alas, embora perdesse bolas no centro, e foi na sequência de um canto que chegou o segundo golo, com João Mário a corrigir da melhor forma um arranque algo irregular. Recebeu a bola à entrada da área tunisina e atirou com tudo para o fundo das redes, um míssil indefensável.
Dissemos que há ainda coisas por acertar, e se já referimos a relativa lentidão na recuperação e ocasional desacerto nos passes lá na frente, foram as lacunas defensivas que sobressaíram perto do fim do primeiro tempo, com a Tunísia a forçar o erro da defesa lusa e a reduzir por Badri, que bateu Anthony Lopes de primeira.
Aquele velho cliché
Quem não marca... É das frases feitas mais usadas no futebol, com razões para tal. Porque Portugal teve o terceiro golo nos pés, teve a oportunidade de arrumar com a questão, mas um misto de azar e falta de sangue frio não o permitiram. João Mário atirou primeiro à figura do guardião tunisino e depois Bernardo Silva brilhou a inventar uma ocasião: a bola embateu no ferro, apareceu João Mário novamente a atirar à figura, tentou de novo Bernardo sem precisão.
Saíram entretanto Adrien e o capitão Pepe, continuou em campo o estreante Rúben Dias, que se até então estava a demonstrar a regularidade habitual no Benfica acabou por ficar a ver Ben Youssef a encostar aos 65', despejando um balde de água fria na Pedreira na sequência de um cruzamento.
Guedes, Cédric e Moutinho entraram, o primeiro em particular procurou dar algo diferente ao ataque, mas aquele milagre que tínhamos visto contra o Egito não se repetiu e a vitória fugiu mesmo. Foi só um particular, mas se todos os resultados contam, como realçou o selecionador, também este conta, como contou a derrota pesada frente à Holanda. Que os avisos façam efeito, esperamos todos.