Humberto Coelho guia-nos na viagem pelo Euro 2000

      Portugal não vence a Alemanha há 25 anos: «Ali existia sintonia»

      Publicado em: 2025/06/04 10:20
      Atualizado em: 2025/06/07 06:45
      ENVIADO ESPECIAL A MUNIQUE, ALEMANHA:
      Portugal não vence a Alemanha há 25 anos: «Ali existia sintonia»

      «Ganhar aos alemães pode nem ser difícil», diz Humberto Coelho, ao telefone com o zerozero.
       
      A voz não traz o mais ténue indício de provocação. Não o diz por audácia nem com postura de autoridade, mas também rejeita falsas modéstias. É, apenas e só, o pensamento de um homem descomplexado, que assim fala acerca do jogo desta quarta-feira porque acredita piamente que a vitória está ao alcance.

      A assertividade não é de estranhar. Afinal, para lá de ser uma figura relevante na história do futebol português, é ele o responsável pela última vez que Portugal bateu a Alemanha, há um quarto de século. De lá para cá foram cinco derrotas em cinco confrontos, todos em fases finais de grandes competições.

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      O folclore futebolístico diz que os germânicos ganham sempre no fim, mas esse dia serviu de exceção. Os portugueses ganharam e ganharam bem, construindo, mesmo com os nomes mais pesados no banco - Figo e Rui Costa nem entraram -, um marcador de 3-0. Uma das mais brilhantes páginas no livro do nosso futebol.

      Humberto Coelho no jogo frente à Alemanha, em 2000 @Getty /
      No mês em que marca os 25 anos do Euro 2000, Humberto Coelho, então selecionador, guia-nos pelas memórias dessa caminhada lusa, com destaque especial para uma noite feliz em Roterdão. Venha connosco.

      A reviravolta que «mudou o rumo das coisas»

      Antes de uma vitória com as segundas linhas frente à Alemanha ser sequer uma ideia verosímil (se é que alguma vez o foi), Portugal teve de dar alguns passos na direção certa. A bússola foi alinhada na fase de qualificação e levou ao bom ambiente na chegada à fase final da competição, em território belga e neerlandês.

      «De facto havia um grande plantel de jogadores que jogavam em grandes clubes no estrangeiro e em Portugal. Tínhamos um grupo preparado para o melhor e isso foi importante», começou por dizer Humberto Coelho, à conversa com o nosso jornal. «Podíamos ter sido campeões europeus, mas mesmo assim acho que estivemos bem e que foi um bom torneio.»

      O otimismo não era gratuito. Desde cedo se sentia que aquela seleção poderia marcar uma era, e o início da campanha, frente a Inglaterra, não deu provas do contrário. Dois golos (Paul Scholes e McManaman) sofridos nos primeiros 20 minutos não abalaram os portugueses, que tão bem responderam...

      «Estávamos preparados para tudo e o futebol é assim mesmo. Tivemos pouca sorte, errámos e isso ajudou a Inglaterra a chegar aos dois golos quando estávamos a jogar melhor. Mas mesmo assim acreditávamos que era possível vencer e foi isso que aconteceu. Fizemos um jogo muito inteligente e de grande técnica.»

      Técnica é, talvez, uma das palavras-chave para descrever uma reação que contou com empate ainda na primeira parte, com o segundo golo a chegar depois de uma sequência de um minuto de posse no meio-campo inglês. «Isso, por si só, mostra a nossa capacidade», recorda o antigo selecionador, hoje com 75 anos.

      Equipa portuguesa no jogo frente à Roménia, disputado em Arnhem @Getty / Martin Rose
      Golos de Figo, João Pinto e Nuno Gomes construíram o 3-2 e uma belíssima reviravolta. No segundo jogo, frente a uma Roménia que já tinha superado os portugueses na fase de qualificação, foi um golo de Costinha aos 90+4 que deu a vitória (1-0) e selou a passagem ao fim de apenas dois jogos. 

      Volvidos 25 anos, o mister ainda tem dificuldades para escolher o momento predileto. «A gente quando marca golos é sempre bom», atira, entre risos, antes de notar, mais friamente, que começou a ficar feliz desde o primeiro golo a Inglaterra. «Senti que poderia ser o início da nossa recuperação e depois o terceiro golo foi extraordinário.»

      «Essa remontada mudou o rumo das coisas, porque os outros jogos certamente não teriam sido como foram.»

      Bastaram os suplentes e «até o terceiro guarda-redes jogou»

      Chega, depois de Inglaterra e Roménia, o terceiro jogo da fase de grupos. Aquele que encabeça esta reportagem e que tenta dar alguma força para a iminente final four da Liga das Nações. A temível Alemanha.

      Claro que há aqui um ligeiro exagero, pelo que só podemos alertar o leitor para isso, atenuando, de certa forma, o efeito dramático. Afinal, aquele conjunto do virar do século estava longe de ser a melhor versão da mannschaft e o facto de Portugal já estar matematicamente apurado também tirava algum interesse ao jogo, até Humberto Coelho ter decidido dar uso a todas as suas peças secundárias...

      Memorável hat-trick de Sérgio Conceição @Getty /
      «Até o terceiro guarda-redes jogou! Jogaram todos. Era lógico até, porque estávamos apurados. Uma coisa que muitas vezes é difícil é os jogadores que não jogam fazerem um bom grupo. Cria uma azia muito grande. Ali não foi o caso, porque jogaram todos e depois o resultado também foi um bom resultado, até porque a Alemanha não é uma equipa qualquer.»

      Um, dois, três. O titã Oliver Kahn batido por uma vez na primeira parte e por mais duas na segunda, enquanto o mítico Lothar Matthaus, no seu último jogo internacional, assistia impotente. 3-0. Todos os golos foram marcados por Sérgio Conceição que, lá está, tinha sido suplente nos primeiros dois jogos.

      Marcador histórico frente aos alemães @Getty /

      «Um jogador que não tinha jogado muito e que entrou com vontade. Isso foi crucial. Jogava na Lazio, um clube de grande eficácia. Ele lutou e viu-se o fruto do trabalho dele. Eu via nos treinos que todos os jogadores estavam em boa forma. Todos podiam jogar contra a Alemanha e iam valorizar a equipa. Essa era minha visão e era também a visão deles», conta o ex-selecionador, lenda do Benfica nos tempos de jogador.

      Esta visão contrasta, em parte, com a postura de muitos selecionadores atuais que, alegando pouco tempo de trabalho com a equipa, preferem apostar num núcleo duro de atletas e relegar os restantes a um quase permanente papel secundário. Não tem necessariamente de ser assim, até porque essa abordagem levanta outros problemas.

      «A seleção tem os melhores jogadores portugueses, todos das melhores equipas do mundo. Entramos com esses jogadores e está tudo bem, o problema é que os que ficam no banco também são grandes jogadores... Se não houver uma resolução, se a equipa não estiver em sintonia, pode dar mau resultado», reflete Humberto Coelho, na sua conversa com o zerozero.

      «Mas ali existia sintonia. Quem saía não ficava com má cara por sair. Quem entrava não ficava com má cara porque só entrava naquela altura. Isto é um problema difícil nas seleções, mas os jogadores têm de saber que não é por falta de qualidade que não jogam, têm de saber que só podem jogar onze. Naquele grupo, essa situação estava bem determinada.»

      A queda e um olhar sobre o presente

      Seguiu-se, nos quartos de final, uma vitória por 2-0 frente à Turquia. Nuno Gomes, cuja titularidade no Europeu já tinha sido uma surpresa e prova da abordagem do selecionador, marcou ambos os golos. Depois veio a meia-final, durante décadas a barreira invisível para a seleção portuguesa que, uma vez mais, caiu frente à França.

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      Euro
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      Nuno Gomes voltou a marcar, colocando a equipa das quinas na frente ao 19º minuto. Thierry Henry empatou na segunda parte e o jogo avançou até que foi resolvido por um golo de ouro de Zinédine Zidane aos 117 minutos. Noite dura em Bruxelas, marcada por protestos portugueses e, para a lista, mais uma final que escapou entre os dedos.

      «Foi um penálti que penso que hoje em dia não seria marcado, porque o Abel Xavier estava no chão, quase sentado. O árbitro marcou, mas pronto. A verdade é que tivemos oportunidades e o próprio Abel teve uma boa oportunidade para nos dar o jogo, mas o Barthez fez uma grande defesa», recorda.

      «Foi um bom jogo e jogámos bem. Não merecíamos perder daquela maneira. Estivemos muito perto de passar, mas as coisas nem sempre acontecem como queremos.»

      Depois dessa eliminação, Humberto Coelho, que durante o torneio já tinha lamentado a falta de oferta de renovação por parte da federação, anunciou a sua saída do cargo no fim de um ciclo de dois anos que só podia ser considerado um sucesso. O antigo selecionador não quis abordar essa temática, mas de bom grado aceitou o convite para antever o Alemanha - Portugal desta quarta-feira, apontando como exemplo, naturalmente, o tal confronto com os alemães no Euro 2000:

      Humberto Coelho
      Portugal [ ]
      Euro 2000

      5 Jogos
      4 Vitórias
      0 Empates
      1 Derrotas

      10 Golos
      4 Golos sofridos

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      «Entrámos muito bem no jogo. Houve jogadores novos que quiseram mostrar que também eram bons e isso foi fundamental. A Alemanha não estava em grande forma e o que é certo é que nós aproveitámos isso, mas também jogámos melhor, tivemos as melhores oportunidades, fomos eficientes», diz, antes de se virar para a atualidade.

      «Se podemos ganhar novamente? Acho que sim. Temos de ver que a Alemanha é uma equipa poderosa, mas temos acima de tudo de jogar de uma forma em que sejamos melhores que os alemães. Muitas vezes ficamos atrás na parte física, não somos tão fortes nem agressivos, mas se formos cautelosos e jogarmos esse jogo, bem alinhados, penso que podemos ganhar aos alemães.»

      «Pode nem ser difícil», remata o antigo selecionador, que parece já ter inspirado o atual timoneiro da seleção nacional. Roberto Martínez, na conferência de imprensa de antevisão ao jogo desta quarta-feira, verbalizou o seguinte desejo:

      «Queremos repetir o que o Sr. Humberto Coelho fez há 25 anos. Se foi feito uma vez, pode ser feito mais uma.»

      A última vitória lusa frente aos alemães, há 25 anos @Getty /



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      Comentários

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      motivo:
      Já viram o 11 da Seleção!!!
      2025-06-04 19h17m por Sir_jaof
      Leva 2 laterais direitos e o titular é o. . . . João Neves!!

      Tem o PSG com dupla do meio-campo Vitinha e Neves. . . deitados ao lixo. Vitinha no banco e Neves, como referido, é lateral.

      JJ envia o currículo, Martinez quer ser despedido. . .
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      Há 25 anos havia era uma Alemanha fraca.
      2025-06-04 18h18m por paulosousa19
      Havia era um Portugal ja apurado sem nenhuma pressão a jogar com os jogadores menos utilizados e com uma Alemanha de rastos por ter só 1 ponto e não depender dela para passar. o Sergio marcou 3 golos, quase todos grandes frangos de um grande guarda redes Oliver Kahn. Boa tarde a todos

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      Fraca Alemanha
      2025-06-04 18h14m por AmoFutebolAmoSLB
      A Alemanha de 2000 era fraquíssima. . . 2 anos mais tarde seria finalista do mundial e a super seleção tuga foi eliminada pela super potência futebolística daquela época: Coreia do Sul na fase de grupos.

      E para que não pensem que estou a menosprezar o que quer que seja, a Coreia eliminou também Espanha e Itália, tendo caído somente aos pés da fraquíssima Alemanha nas meias finais. . .

      São histórias. . . e logo se fará outra. O jornal ABola deu 9-2 para Portu...ler comentário completo »
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      Está tudo à espera do Mou ou do JJ
      2025-06-04 18h28m por paulosousa19
      Vejam lá se depois não se vão queixar.
      O FS era defensivo este é muito lento!
      Entre um e outro preferia o JJ ;)
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      Estou a ficar cota
      2025-06-04 15h37m por Miglaspoon
      Como assim já foi há 25 anos se eu me lembro perfeitamente desse europeu 😜
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      CA
      Mesmo!
      2025-06-04 17h25m por cardoso7
      Bem me lembro desse jogo ainda adolescente. . foi dos mais me ficou gravado na memória até hoje! Essa selecção fazia-nos sonhar, e até me lembrei que não conseguia parar de chorar no final do jogo contra a França
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      já somos dois
      2025-06-04 16h22m por Platinum_Bom_Natal
      Lembro-me bem de estar na casa de uma amiga a ver o jogo, e de partirmos o sofá cama a festejar o golo, provavelmente o 3º. Bons tempos!
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      Não queriam acreditar.
      2025-06-04 19h09m por Quatro_Quatro
      A sensação de ganhar á Alemanha é tão rara e em particular com um Hattrick do Conceição que era um jogador com ganas a argentino. . . Foi de fato uma noite muito linda.
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      Fraca Alemanha.
      2025-06-04 12h21m por Quatro_Quatro
      Basta ver os resultados conseguidos por esta Alemanha e percebe se como é que Portugal conseguiu passar por eles. Empate com Roménia e derrota com Inglaterra. Depois de ganharmos á Inglaterra naquele jogo do golaço do Figo ficou tudo mais fácil. Ninguém antevia isto. O Sérgio do Felgueiras fez o jogo da vida dele. Inesquecível a fúria do Ceiçao.
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      .
      2025-06-04 13h52m por States
      A Roménia na altura era uma das melhores equipas de segunda linha da Europa, e a Inglaterra é sempre a Inglaterra, é sempre uma das favoritas. Hoje em dia são duas equipas que estão ao mesmo nível, eu não ligo à seleção tuga no entanto se ganharem é sempre engraçado assistir ao povo com a maior mania da superioridade(alemães) a perder.
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      States
      2025-06-04 17h59m por carlosferrari266
      Editado a 2025-06-04 18h00m
      A sério? Consideras a Inglaterra e Roménia atualmente do mesmo nível? Meu amigo, a Roménia não faz nada de jeito desde a viragem do milénio! Se não liga à seleção tuga então porque comenta neste espaço? E o seu preconceito sobre os germânicos também está algo datado: conheço povos bem mais arrogantes. . .
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