Apesar do FC Porto estar sem ganhar há três jogos consecutivos na Primeira Liga, Pinto da Costa não tem qualquer desconfiança em relação a Julen Lopetegui e continua com a ideia de que o treinador espanhol é o técnico certo para comandar a mudança que quis incutir nos azuis e brancos.
«Fui buscar um treinador para haver uma mudança radical. Nos últimos anos os treinadores do FC Porto eram treinadores com uma postura que não transmitia aos sócios e para dentro do campo aquilo que se chama de empatia. Lembro-me do Vítor Pereira, que ganhou dois campeonatos, dizer que um dos argumentos que utilizava para ir embora era porque os sócios não gostavam dele. Com o Paulo Fonseca, que é um excelente treinador e uma ótima pessoa, aconteceu a mesma coisa. É certo que foi no Estoril que lhe deram a primeira martelada mas ele pedia para sair também por causa disso», afirmou o presidente dos dragões, em entrevista ao Porto Canal, dizendo que procurou um técnico que criasse empatia com a massa associativa mas que também soubesse colocar os jogadores com a cabeça no clube.
«Pus na minha cabeça que tinha que haver uma mudança radical. Na parte final do período de transferências em janeiro fomos jogar à Madeira. O mercado fechava no dia a seguir e curiosamente dois jogadores que queriam sair lesionaram-se. Outros estavam dentro do campo à espera que o fax lhes aparecesse. Nessa altura apercebi-me da passividade, do deixar andar... Um jogador começava a época e pensava quais eram as possibilidades que tinha em dezembro. Os jogadores estavam aqui com as botas, mas o coração estava no banco e a cabeça com o empresário. Por isso pensei que tinha que arranjar um treinador que incutisse entusiasmo à equipa. Não existem treinadores infalíveis. Estudei muitos perfis, pedi muitas opiniões, ouvi muita gente sobre Lopetegui e cheguei à conclusão que era o treinador para a tal revolução e mudança de mentalidade que queria. Quem estivesse aqui a pensar que não se podia magoar para ir para acolá, não servia para mim. Assim, entendi que aqueles jogadores que não tinham mentalmente força e o querer de estar no FC Porto era melhor deixá-los sair. Alguns foram bons negócios, outros nem tanto e alguns de borla, mas decidi deixá-los sair», atirou.
«Hoje temos um treinador que dá alma à equipa, com que os adeptos se identificam e a equipa apenas pensa em vencer pelo FC Porto»
«Lopetegui não teve todos os jogadores que quis e Varela era para ficar»
Clasie, do Feyenoord, e Ignacio Camacho, do Málaga, foram jogadores falados durante o defeso como alvos do FC Porto e Pinto da Costa confirmou que houve interesse dos azuis e brancos em ambos por indicação do treinador.
«No FC Porto os treinadores sempre escolheram jogadores e sempre que foi possível dá-los fiz por isso. Neste caso, o treinador não teve todos os jogadores que quis. Entre o meu telefonema para o Lopetegui a dizer para ele vir cá para se tornar treinador do FC Porto e a sua chegada, falámos sobre o plantel. Ele disse-me os jogadores que podiam ser imprescindíveis, os que podiam ficar ou não e os jogadores que não queria. Ele disse todos os lugares que queria reforçar e alguns jogadores que ele queria não foram possíveis, como o do Feyenoord e o do Málaga», revelou Pinto da Costa, revelando que Silvestre Varela não ficou no plantel por querer ganhar mais dinheiro noutro clube.
«Um dos jogadores que o treinador queria era o Varela. O Lopetegui passava os dias no Olival e encontrou o Varela quando este estava a treinar com o Quaresma e o Josué à espera que saísse a convocatória para o Mundial. O treinador disse ao Varela que este ano teria que jogar ao nível do que tinha feito em quatro jogos na época anterior e o Varela disse-lhe que queria ir ganhar dinheiro. Aí o treinador ligou-me e disse-me para riscar o Varela», comentou.
«A história deste campeonato está a ser igual à do ano passado. O final é que pode ser diferente»
Na entrevista ao Porto Canal, Pinto da Costa teceu críticas ao trabalho da equipa de arbitragem em Guimarães, jogo no qual o FC Porto empatou a uma bola, e comparou as arbitragens desta época com igual período da época transata.
«A história deste campeonato é igual à do ano passado, mas este ano começou mais cedo. O ano passado ganhámos quatro jogos e agora ganhámos três. No ano passado ao quinto jogo o que é que nos aconteceu? Empatámos 2x2 com um penálti fora da área e um golo em fora de jogo. Este ano foi uma jornada mais cedo, com o Paulo Baptista e os seus auxiliares, com penáltis mal assinalados e um golo mal anulado. O ano passado no Estoril o árbitro foi o Rui Silva, que desceu de divisão. Agora, o árbitro em Guimarães foi o Paulo Baptista, que o ano passado desceu de divisão e depois foi repescado. Acho engraçado como para um Vitória de Guimarães x FC Porto, que eram líderes, nomearam um árbitro que desceu de divisão e que depois foi repescado. São fatores que depois são esquecidos, mas que são factos», lembrou Pinto da Costa, comentando os empates seguintes com o Boavista e o Sporting, respetivamente.
«Em relação ao jogo do Boavista foi um jogo anormal. À tarde estava um sol de estar na piscina e à hora do jogo estava uma tempestade. Não tivemos sorte, nem aproveitámos as oportunidades que criámos. São percalços que acontecem. Em Alvalade perdemos dois pontos, mas vi frustração da nossa parte e euforia do outro lado», disse, admitindo que o empate no clássico é justo.
«Tenho que aceitar que é justo. Foi o que foi. Cada um marcou um golo, ambos resultantes de erros da equipa que sofreu e ambos tiveram oportunidades. Hoje nos jornais dizem que o Sporting esmagou o FC Porto, mas não me lembro de uma grande defesa do Fabiano, mas lembro do Rui Patrício», comentou, acrescentando ainda o que mais gostou de presencial no recinto dos leões.
«Houve coisas que me satisfizeram. A maneira cordial como fui recebido nos corredores presidenciais. Desde ex-presidentes, como Soares Franco ou Sousa Cintra, a grandes figuras do Sporting, como o Hilário, Carlos Lopes e o Inácio. Foi uma coisa que caiu bem e me fez ficar contente. Além disso, foi excecional o apoio da nossa claque e dos nossos adeptos. Eles estavam em cima da baliza onde aos dois minutos sofremos o primeiro golo e continuaram a incentivar a equipa como nunca tinha reparado ou ouvido. Foram fantásticos e foi pena aquela jogada que parecia de golo fácil porque eles mereciam.».
«FC Porto teve um investidor russo interessado em comprar o clube»
Numa altura em que se fala na possibilidade da FIFA intervir no sentido de terminar com os fundos, Pinto da Costa entende que o organismo que rege o futebol mundial pretende atuar dessa maneira para proteger os clubes mais ricos.
«A FIFA levou o Campeonato do Mundo para o Catar por interesses comerciais. Quem paga mais leva o Campeonato, nem que seja no Polo Norte. Portanto, esta decisão de terminar com os fundos interessa a quem? O que interessa à FIFA se é dos fundos ou não? Isto interessa aos clubes ricos, às Ligas ricas e aos multimilionários que vieram para a Europa investir em clubes. Se são ricos não precisam de fundos e se os clubes que precisam de fundos caírem, esses senhores como Abramovich compram-nos. O FC Porto já teve um investidor russo interessado e que ficou à espera de uma melhor oportunidade para comprar, mas nós resistimos», revelou Pinto da Costa.
«Sabemos que o Valencia foi vendido a um sujeito por intermédio de Jorge Mendes que também foi falado para comprar o FC Porto. Vamos salvaguardar que o FC Porto seja sempre dos sócios e dos adeptos. Pode vir quem vier que não vai comprar o FC Porto».
«FC Porto só entra numa solução para a Liga com todos os clubes»
No que diz respeito à Liga de Clubes e ao clima de instabilidade que se vive no órgão responsável por tutelas os campeonatos profissionais, Pinto da Costa revela que o FC Porto apenas está disposto a fazer parte de uma solução que envolva todos os clubes e não apenas alguns, dizendo que não concorda com os poderes que foram tirados aos clubes na nomeação das direções da Liga.
«A Liga foi fundada como uma associação patronal dos clubes. Foi formada pelos clubes para se defenderem de outros organismos, não para se atacarem e atacarem o futebol. Dentro desse espírito foram aprovados os estatutos em que a Liga tinha uma administração formada à volta de dez elementos e todos os clubes escolhiam os dez que iam para a direção representá-los e esses dez é que nomeavam o presidente», começou por dizer.
«Quando Fernando Gomes foi presidente da Liga conseguiu que os clubes aprovassem os estatutos em que estes deixariam de fazer parte da direção da Liga e passava a ser eleito um presidente que escolhia quatro ou cinco executivos, que podia nomeá-los sozinho e demiti-los no dia a seguir sem dar justificações a ninguém. Enquanto Fernando Gomes foi presidente da Liga as coisas funcionaram. Depois foi para lá um indivíduo eleito presidente com o patrocínio do Marítimo e do Gil Vicente que nunca esteve ligado ao futebol. A única coisa que tinha era parentesco com um elemento do futebol. Este sujeito que não percebia nada nomeou quem entendeu e afastou os clubes da Liga, os patrocinadores, tem uma Taça da Liga que não paga os prémios há não sei quanto tempo, mas foi-lhe dado poderes para fazer o que entendesse», continuou, lembrando que Mário Figueiredo é também vice-presidente da Federação Portuguesa de Futebol e que não basta a união de FC Porto, Benfica e Sporting para os problemas ficarem resolvidos.
«O presidente da Liga que todos atacam e ninguém quer é vice-presidente da FPF e que eu saiba a FPF não fez nada para o tirar de lá. Há uma passividade total. O governante da tutela está preocupado com outras coisas e não resolve nada. Não adianta a força de FC Porto, Benfica e Sporting porque esse sujeito também está lá apoiado por um desses três. Não é por nós mas está apoiado por um desses três. Mesmo que haja um entendimento de FC Porto, Benfica e Sporting para escolher o FC Porto não alinha nisso. Para nós a Liga tem que ser de todos. O FC Porto só entra no que quer que seja se os estatutos forem alterados e em que a direção da Liga seja formada por gente dos clubes».
«Fiquei muito contente por Fernando Santos»
A escolha de Fernando Santos para suceder a Paulo Bento como selecionador nacional é aplaudida por Pinto da Costa. É conhecida a amizade que liga o novo selecionador ao presidente do FC Porto, mas o dirigente garante que não é por isso que elogia o técnico. No seu entender, agora sim, a seleção tem um projeto.
«Fiquei muito contente por vários motivos. Sou muito amigo dele e tenho uma grande admiração pessoal pelo homem íntegro que é e como há poucos. Sabia que era um sonho que ele acalentava. Em 2001 ele dizia que era o sonho dele ser selecionador. Está feliz e demonstrou-me isso numa conversa amiga que tivemos em Alvalade», afirmou Pinto da Costa.
«Acho que neste momento é a solução certa. Com a seriedade e os princípios de vida que tem, conhecedor do futebol e inteligente como é acho que vai haver um projeto para a seleção. Até hoje não houve projeto, era o dia a dia e o Ronaldo que resolvesse. Com o Fernando Santos tenho a certeza de que vai haver um projeto para a seleção nacional».