Há uma frase firme no folclore do futebol inglês, popularizada por adeptos dos hammers em discurso bazófio de pub, que diz que «o West Ham ganhou o Mundial».
A noção é disputada pelos adeptos de outros clubes, que a consideram exagerada, mas há um fundo de verdade: os três heróis da final do Inglaterra 66 (4-2 ap frente à Alemanha) eram jogadores desse clube. Falamos de Bobby Moore, Geoff Hurst e Martin Peters.
É uma temática frequente no futebol internacional, essa relação entre clubes e seleções. E a história guarda exemplos mais óbvios e recentes, como a Espanha, que dominou o futebol entre 2008 e 2012 com o tiki-taka do Barcelona como base, ou a Alemanha, triunfante no Mundial de 2014 com mais de meio onze a jogar no Bayern. A Juventus serviu de espinha-dorsal para duas seleções campeãs mundiais: a Itália de 2006 e a França de 98!
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Os benefícios são reais e quase palpáveis, sendo as seleções, no fundo, equipas que têm pouco tempo de trabalho em conjunto. A utilização de bases de clubes permite acelerar entrosamento do plantel e balneário, aproveitamento de rotinas de jogo e identidade tática. Nada disto é ciência de foguetões - é um fenómeno documentado e até referido abertamente por alguns dos selecionadores das equipas acima referidas.
Que prazeroso é então, para um adepto português, ver o Paris Saint-Germain a confirmar o seu estatuto de melhor equipa da Europa com um 5-0 na final da Liga dos Campeões!
Sendo Portugal a nação mais representada no onze dos parisienses, conquistadores da tríplice coroa com o tipo de futebol que todos conseguem apreciar, esta poderia ser a hora de começar a salivar em antecipação para boas exibições na iminente final four da Liga das Nações. O problema? Roberto Martínez não parece acreditar nessa relação entre clube e seleção...
A visão do selecionador nacional
A frase acima foi dita pelo selecionador nacional no dia 4 de setembro do ano passado, em antevisão ao primeiro jogo de Portugal nesta Liga das Nações, frente à Croácia (2-1). Surgiu em resposta à pergunta do zerozero, que tocou especificamente na chegada de João Neves ao PSG e em como uma eventual dupla com Vitinha poderia ajudar a seleção.
Claro que muito poderia ter mudado desde setembro e a qualidade do futebol apresentado por Luis Enrique poderia, ao longo de uma temporada, ter mudado a opinião de Martínez. Como tal, quando foi anunciada a lista para esta final four, o nosso jornal voltou a questionar sobre a importação de ter vários jogadores no mesmo clube e o exemplo parisiense em específico. A resposta (pode ver no vídeo abaixo) manteve-se e a filosofia foi justificada:

«O que acontece nos clubes ajuda os jogadores a chegar à seleção, mas não ajuda a seleção a ganhar jogos. O espaço de seleções é muito diferente do espaço de um clube», completa.
Vitinha e João Neves são dois terços de um dos miolos mais funcionais da atualidade futebolística. Nuno Mendes é indiscutível na mesma equipa, afirmando-se como um dos melhores laterais do mundo. Gonçalo Ramos não tem tanto espaço (até porque compete com um dos favoritos à Bola de Ouro), mas contribui a partir do banco e partilha do entrosamento com os seus compatriotas. Ainda assim, contra uma histórica tendência do futebol de seleções, não parece que o sucesso do PSG vá ser prenúncio de coisas boas para a seleção...