Sabem o nome, reconhecem o emblema e têm memória de um ou outro resultado/jogador, por uma razão ou outra, mais marcante. Para muitos adeptos do futebol português, é assim que o Bologna é encarado. Ora, o embate milionário contra o Benfica foi o pretexto perfeito para conhecer melhor o conjunto Rossublu.
De modo a termos a melhor e mais rigorosa informação no nosso site, estivemos à conversa com alguém que fala de Bologna com propriedade: Alessandro Mossini, jornalista do Corriere di Bologna, contou-nos todos os detalhes do passado recente da grande revelação da última edição da Serie A.
Curiosamente, quando confrontado com a visão apresentada no primeiro parágrafo, Mossini riu-se e compreendeu: «Sim, eu percebo. Para termos noção, a última presença do Bologna na Liga dos Campeões foi há 60 anos e a última competição europeia foi há 22 anos - na já extinta Taça Intertoto. Daí em diante, o Bologna teve alguns problemas e até chegou a cair para a Serie B.
O obreiro antes do milagreiro
Thiago Motta foi o principal rosto do histórico Bologna 23/24. Surpreendeu, convenceu e mudou-se para Turim, onde assumiu a - bem mais poderosa - Vecchia Signora. Contudo, antes de Motta, existiu outro senhor que, para Alessandro, também merece destaque.
«Há um nome que temos de mencionar antes de ir ao Thiago Motta: Sinisa Mihajlovic, que foi, talvez, o grande homem da era Saputo - presidente do clube. Não só pela história de vida - faleceu recentemente, vítima de cancro -, como pela importância que teve ao evitar a despromoção quando assumiu o clube em 2018/19», fez questão de referir.
«Nessa primeira metade da época, o Bologna só fez 14 pontos. Era, basicamente, uma equipa condenada a descer. O Mihajlovic chegou para o lugar do Pippo Inzaghi, que foi um enorme marcador, mas não é um grande treinador (risos). Depois, Mihajlovic fez 30 pontos no resto da temporada - um trabalho fantástico», recordou.
A marca deixada pelo saudoso técnico sérvio não se viu apenas nos resultados: «Foi muito importante para vários jogadores que ainda estão cá - por exemplo, o Riccardo Orsolini - e que fazem parte da história recente do Bologna. A história de vida dele também deu crença e ambição aos jogadores. Saputo não era um presidente ambicioso, era muito "evitamos a despromoção e está tudo bem". Não havia um projeto como o da Atalanta, por exemplo».
«A seguir, teve a primeira doença, a segunda doença e o resto nós sabemos... Depois, chegou o Thiago Motta e mudou o estatuto do clube em pouco mais de um ano e meio. Foi um belíssimo trabalho, juntamente com o diretor desportivo: Giovanni Sartori», começou, desta forma, Mossini a levantar o véu sobre a era Thiago Motta.
23/24? História!
«2023/24 foi um ano fantástico para o Bologna por duas razões: pelo Thiago Motta, claro, e sobretudo por outra situação. Em agosto de 2023, o Motta falou abertamente sobre a falta de investimento do presidente Saputo. Este foi um momento enorme na última temporada. Havia um mês de mercado e o plantel não era competitivo; por isso, o Thiago Motta ficou muito chateado. Foi uma atitude importante, porque, depois disso, chegaram jogadores como Dan N’Doye, Alexis Saelemaekers, Remo Freuler, Riccardo Calafiori, Victor Kristiansen, Giovanni Fabbian e Jesper Karlsson. Portanto, acabaram por chegar três ou quatro jogadores absolutamente chave graças a um Thiago Motta chateado (risos)», desvendou o jornalista italiano.
No meio de tanta história, a curiosidade surgiu e, por isso, quisemos saber qual foi o momento mais memorável: «Difícil, mas talvez, o Inter x Bologna para a Coppa Italia, onde venceram com dois golos na segunda parte do prolongamento. Foi ainda mais fantástico porque, quando vimos o onze inicial, pensámos que o Thiago Motta podia não estar a apostar na Taça: usou o guarda-redes suplente - que até defendeu um penálti do Lautaro Martínez e malta mais jovem. Ainda assim, chegaram aos 90 minutos com um 0-0. Então, no prolongamento, ele começou a colocar os titulares e ganhou o jogo, apesar de começar a perder.»
«Ficou claro que todo o grupo estava unido e "por dentro da situação" e esse foi um dos grandes feitos do Thiago Motta. Sentia-se que, em qualquer jogo e a qualquer momento, o Bologna conseguia encontrar um caminho para ganhar o jogo», assumiu Mossini.
E, agora, 24/25
Se o murro na mesa dado por Motta na temporada passada foi essencial para o sucesso - no mercado e, consequentemente, na época -, em 24/25, já sem o jovem técnico no comando, a atitude negocial foi outra, bem menos agressiva.
«O Thijs Dallinga não foi a primeira, nem a segunda escolha do Bologna, que tentou comprar o Vangelis Pavlidis, o Fotis Ioannidis, que esteve perto do Sporting e do Leicester, e o Mateo Retegui, mas o Genoa pediu muito dinheiro e foi para a Atalanta, por 23 milhões de euros. O Bologna investiu menos oito milhões no Dallinga e, até agora, não correspondeu - zero golos», notou.
Não é só na mesa de negociações que a história é outra sem Thiago Motta: «O Vincenzo Italiano chegou aqui numa posição delicada. Era difícil fazer melhor que no ano passado e não tinha uma equipa tão boa - como o que se passou com o Rudi Garcia no Napoli depois do Luciano Spalletti».
E, por isso, o começo foi «complicado», com apenas uma vitória nos primeiros 11 jogos.
«Neste momento, diria que o Bologna tem um bom conjunto de sete, oito, nove jogadores. Contudo, quando é preciso ir buscar energia ao banco, não conseguem manter o nível, sobretudo no patamar de Liga dos Campeões», opinou o jornalista, antes de apontar os jogadores que devem merecer mais atenção por parte das águias.
«A dupla de centrais - Jhon Lucumí e Sam Beukema -, o Freuler, o Dan N'Doye, o Orsolini, que está lesionado, e o Santiago Castro. Estes são os jogadores-chave; se um ou dois não estiverem em campo, é um problema para o Bologna», garantiu.
A Champions... e a «última oportunidade» na Luz
«Na Liga dos Campeões, apesar do Bologna nunca ser a equipa grande, também nunca fizeram um jogo verdadeiramente mau, nunca saíram humilhados ou a dizer "ui, não temos nível para isto". Têm só um ponto, mas, por exemplo, nunca foram goleados. Lutam sempre, causam problemas, mas os detalhes decidem o jogo», começou por analisar sobre a campanha milionária dos rossublu.
«Para muitos, estes foram os primeiros jogos europeus. Também a equipa construída para esta época não foi tão forte como a equipa que conquistou um lugar na Champions. No primeiro jogo, provavelmente o mais acessível, o Bologna esteve mal e, depois, o calendário complicou: levou a equipa até Anfield e ao Villa Park. Mais recentemente, em casa, quando supostamente teria mais hipóteses contra o Monaco e o Lille, perdeu contra por pequenos erros», resumiu Mossini.
O futuro reserva duas deslocações em Lisboa para defrontar os maiores clubes da capital portuguesa. Ser fora ou em casa, nesta fase, pouco importa: «O Bologna está cada vez mais equilibrado entre os jogos em casa e fora, mas acho que, na Liga dos Campeões, o nível é tão alto que... Por exemplo, já estava numa boa fase quando defrontaram o Lille, mas perderam. Neste nível, uma equipa como o Bologna só ganha se fizer o jogo perfeito.»
Para o duelo na Luz, Alessandro Mossini mostrou-se entusiasmado com a partida: «Estou curioso para ver o Bologna, tendo em conta que esta é a última grande oportunidade para tentar algo nesta Liga dos Campeões - se calhar, já é muito tarde. Por isso, quero ver se aparece uma equipa a encarar este jogo como a última chance, ou se já perderam a esperança.»
Por fim, o jornalista aproveitou a quadra natalícia para presentear os encarnados com a receita para o sucesso: «É uma equipa que tenta sempre pressionar o adversário e jogar em todo o terreno. O Benfica trata bem a bola e, por isso, pode criar muitas dificuldades ao Bologna - basta conseguir saltar a pressão que depois há muito espaço e fica tudo mais fácil.»
Independentemente das facilidades, a bola começa a rolar às 20h.