Aos 27 anos, Zhang Kangyang teve oportunidade de assumir os destinos de um dos maiores clubes do mundo. Tornou-se em 2018 o mais jovem presidente do Inter e neste cargo continua aos dias atuais.
Das dúvidas normais devido ao perfil desconhecido, a paixão e profissionalismo de Steven Zhang, como é tratado, foram conquistando os adeptos nerazzurri. Os desafios presentes e futuros são enormes para a gestão do clube, que, com uma mentalidade de underdog, tenta bater o pé a potências do futebol europeu alavancadas por maiores investimentos.
Desafio nos limites, não alcançável para os meros mortais.
Nem o sucesso dentro das quatro linhas da era Mourinho, coroado com a conquista da Liga dos Campeões em 2010, conseguiu escamotear as grandes dificuldades financeiras do Inter no término da presidência de Massimo Moratti. O investimento do próprio bolso do magnata transalpino adiou o cenário de venda, que, contudo, acabou por chegar em 2013.
O indonésio Erick Thohir assumiu as rédeas do clube e foi confrontado com um futebol italiano em crise, longe dos tempos áureos do final da década de 90 e início do novo século.
Se o trabalho financeiro foi meritório, fã que é fã gosta de ver a bola a entrar na baliza.
Os troféus não apareceram e o Inter pedia sangue novo e um regresso da ambição competitiva, contrastante com o perfil mais cerebral de Thorir. O grupo de investimento chinês Suning Holdings aumentou de forma sustentada a participação no clube e em 2016 tornou-se o principal acionista. No total, 270 milhões de euros investidos no processo.
Após um par de anos de transição, Steven Zhang, filho do bilionário Zhang Jindong, assumia a presidência depois de ter sido peça fulcral na entrada da sua família no clube.
Este estava longe, porém, de ser o primeiro contacto deste jovem com o Mundo Ocidental. O seu pai, em jeito de preparação, colocou-o sempre a estudar em escolas internacionais. Trabalhou também como analista na conceituada empresa Morgan Stanley, isto depois de ter concluído uma Licenciatura em Economia na Universidade da Pensilvânia, Estados Unidos.
Experiências com impacto na personalidade fervorosa de Steven, que tem nos carros e na velocidade outros grandes gostos. Basta, no entanto, fazer uma rápida busca pelas suas redes sociais e percebe-se a existência de uma paixão especial: o Inter, mais que um negócio. Curiosamente, até já adaptou a pintura de um dos seus carros - um super desportivo Pagani Huayra - às cores do clube.
Mesmo com limite na «torneira» - investimento longe de outros grandes emblemas europeus -, esta era tem sido a prova da importância de uma estrutura e liderança competentes. Neste período, iniciado em outubro de 2018, apenas dois técnicos foram contratados: Antonio Conte e Simone Inzaghi. O clube voltou também a conquistar o Scudetto e a estar constantemente na luta interna pelos lugares cimeiros, além de presença em finais - perdidas - de Liga Europa e Liga dos Campeões.
Além de carismático, Steven Zhang é uma figura presente na atualidade do Inter e envolve-se nas mais diferentes lutas, com destaque para uma pequena guerra com antigo presidente da Serie A, Paolo Dal Pino, durante o alastrar da Covid-19. Fez também parte, durante ano e meio, do comité da Associação Europeia de Clubes da UEFA. Mais que colocar dinheiro, existe a preocupação de conhecer e viver o dia-a-dia Nerazzurro.
A pandemia, contudo, deu um rombo grande nas ambições deste projeto. A China, além do trágico número de vítimas, sofreu bastante no capítulo financeiro e o Suning Holdings Group, bastante envolvido nos negócios a retalho e no mercado imobiliário, foi obrigado a reorganizar fileiras. O Jiangsu Suning, emblema que até tinha sido campeão no ano anterior do Chinesão e era propriedade da família, cessou atividade rapidamente.
Seria lógico pensar que uma venda do Inter estaria iminente, porém, apesar dos rumores, Steven Zhang tem resistido a esse cenário. As contas do Inter sofreram perdas grandes durante o período pandémico onde também, por exemplo, rompeu-se a longa ligação com a Pirelli - mantém uma pequena percentagem de ações -, eterno patrocinador.
Com grande ginástica orçamental e luta para atração de capital, com grande foco em acordos de financiamento, o clube manteve uma equipa competitiva para agrado dos seus adeptos. Ainda assim, não escapou à alçada do Fair-Play financeiro da UEFA e já foi multado, além de várias limitações de número de jogadores inscritos nas provas europeias. Em 2021/22 foram registadas perdas recordes nas contas.
O cerco aperta de época para época e o interesse numa compra é variado, desde investidores transalpinos e americanos até ao Médio Oriente. Em cada declaração pública, porém, Zhang reitera o compromisso com o Inter e a vontade de liderar o futuro do clube, com destaque para o antigo sonho de mudança para um novo estádio.
Para 2024, contudo, adivinha-se outro momento decisivo para atual administração do clube. Em maio, prazo final para ser pago o - gordo - financiamento ao Oaktree, fundo de investimento americano. Caso isto não aconteça, como penhora está a participação maioritária. A apreensão é natural para os Tiffosi, num clima de incerteza.
Possivelmente, esta presidência tem os dias contados. Um lugar na história do Inter, no entanto, está garantido por Steven Zhang e a sua família. Vão resistir?