Bruges e Lisboa, duas cidades bastante distintas entre si, mas que contam com algumas ligações no que diz respeito ao futebol de Club Brugge e Sporting. Bas Dost, Abdoulay Diaby, Robert Spehar, Vlado Bozinovski e Peter Houtman. Não temos a certeza se se lembra de todos os nomes mencionados. Uns tiveram mais sucesso do que outros. Uns deixaram a sua marca e outros... não corresponderam às expectativas.
Bas Dost, avançado elegante que marcou 93 golos em 127 aparições com a camisola leonina. Diaby, extremo rápido, técnicista e que esteve ligado ao Sporting entre 2018 e 2021. Spehar, um suplente «de luxo» em 2000/2001, altura em que marcou sete golos nessas condições. Bozinovski, médio elegante que deu nas vistas no Beira-Mar, mas que nunca conseguiu ganhar o seu lugar em Lisboa, regressando a Aveiro um ano findado.
Falta-nos um: Peter Houtman. O jogo entre Club Brugge e o Sporting é um ótimo pretexto para contarmos toda a história deste neerlandês que passou no campeonato belga e português, jogando com alguns dos maiores nomes do futebol mundial. Ainda continua ligado à modalidade, porém, num cargo completamente distinto. Consegue adivinhar qual?
Houtman, Koeman, Gullit e Cruyff
Antes de passarmos para o presente, temos de recuar vários anos, pois o antigo avançado começou o seu trajeto a nível sénior no Feyenoord, em 1976/1977. Por lá ficou durante uma temporada, tendo sido emprestado ao FC Groningen com 21 anos, de forma a ganhar experiência. O regresso ao Feyenoord aconteceu em 1978/1979, no entanto, terminou a temporada com a camisola do Club Brugge, na Bélgica.
A primeira aventura no estrangeiro. O medo de estar longe de casa, que acabou por traduzir-se no futebol jogado: 15 encontros realizados e apenas três golos. Altura de voltar aos Países Baixos, novamente pela porta do FC Groningen. Durante os três anos em que lá esteve, coincidiu com um jovem, na altura com 18 anos, chamado... Ronald Koeman, que viria a tornar-se num dos melhores defesas da história do país.A veia goleadora de Peter Houtman voltou a chamar a atenção do Feyenoord, um dos maiores clubes dos Países Baixos. O impacto foi imediato. 30 remates certeiros em 32 encontros realizados em 1982/1983, um cenário que lhe garantiu a distinção como melhor marcador da Dutch Holland Eredivisie. Uma adaptação rápida, de sonho, diríamos nós.
O ponta de lança foi um sortudo: porquê? Além de ter coincidido com Koeman, dividiu o balneário com Ruud Gullit, avançado que também aceitou o convite para ingressar no projeto do Feyenoord. Uma das maiores promessas do campeonato neerlandês e do futebol mundial da altura.
Após o segundo lugar na Dutch Holland, o clube de Roterdão decidiu reforçar o plantel e trazer um nome de peso, apesar dos 37 anos: Johan Cruyff. Alguém que dispensa qualquer tipo de apresentação. Um dos maiores jogadores de sempre. No espaço de pouco tempo, Peter Houtman esteve ao lado de Ronald Koeman, Ruud Gullit e Johan Cruyff. Um sortudo.
Os vários golos ajudaram a conquistar a Eredivisie e a KNVB-beker, em 1983/1984. O regresso ao seu país correu de feição. Ainda representou o FC Groningen antes da aventura no Sporting. Para trás ficaram várias temporadas recheadas de experiências, internacionalizações pelos Países Baixos (Marco van Basten era a concorrência) e golos. Próxima paragem: Lisboa.
Passagem fugaz por Alvalade
Rui Jordão tinha saído na temporada transata, Manuel Fernandes estava com 35 anos. A direção do Sporting decidiu recorrer ao mercado de transferências e trazer, numa primeira instância, Rob McDonald, que nunca convenceu a estrutura leonina. Em janeiro, a chegada de Peter Houtman, um avançado com inúmeros créditos e habituado a abanar as redes contrárias. Alto, possante e com uma forte presença na área.
A aventura no campeonato português foi curta e pouco proveitosa em todos os sentidos. Não conseguiu conquistar qualquer título, nunca se destacou e saiu sem qualquer impacto maior. Uma desilusão. Regressou aos Países Baixos em 1988/1989, representando o Feynoord, Sparta Rotterdam, FC Den Haag e Excelsior, onde terminou a carreira, em 1992/1993, já na segunda divisão neerlandesa.
Curiosamente, continuou a marcar golos, apesar de já estar numa fase descendente da carreira. Os números «não mentem»: sétimo melhor marcador da história do Feyenoord (88 golos em 141 jogos), atrás de Cor van der Gijp, Ove Kindvall, Dirk Kuyt, Wim van Hanegem, Henk Schouten e Jon Dahl Tomasson
Paixão pelos microfones
Agora sim, o presente. E a surpresa.
Depois de vários anos como jogador de futebol, Peter Houtman decidiu dar um novo rumo à sua carreira, passando a ser... o speaker oficial do estádio do Feyenoord desde 1998/1999. Sim, caro leitor. Não nos enganamos. O neerlandês, atualmente com 67 anos, continua ligado a um emblema que representou em quatro ocasiões distintas enquanto jogador.
Parece um cenário algo irrealista, mas no Feyenoord é uma realidade vivida diariamente. A atual temporada não está a correr de feição, é certo, no entanto, o clube neerlandês já conquistou um troféu: a supertaça dos Países Baixos. Peter Houtman já não ajuda dentro de campo, mas contribui para que o 12º jogador esteja sempre em altas.
Uma bonita história, pese embora a ausência de resposta para contar esta história na primeira pessoa ao zerozero. Apesar de todas as tentativas e solicitações diretas ao emblema de Roterdão, Peter Houtman não nos respondeu em tempo útil.