Ronaldo marcou, Griezmann marcou, o australiano Jedinák marcou... Messi falhou. O remate até pode ter sido algo denunciado, é verdade, mas certo é que outro lado estava um guarda-redes com vontade de manter a pequenina Islândia na rota de mais um jogo histórico. E para ele, como para muitos outros da sua seleção, jogar futebol não é ofício único.
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Para começar a conhecer melhor Hannes Halldórsson, porque não espreitar no zerozero o percurso do guarda-redes? E porque não espreitar também na IMDb? Sim, essa mesmo, a base de dados dedicada às figuras do cinema e televisão, porque Halldórsson pertence a dois mundos distintos.
«Diria que o meu emprego a tempo inteiro é como realizador, e é aí que ganho a maior parte do meu dinheiro, mas tento equilibrar as coisas. Ser realizador é exigente, e depois treino às 5 da tarde», explicava Hannes Halldórsson à Sports Illustrated numa altura em que a Islândia tentava o apuramento para o Mundial2014, no Brasil. Já se passaram alguns anos, e o guardião tem estado sempre em equipas profissionais fora da Islândia, mas o trabalho em publicidade, música e cinema continua bem vivo.
Não foi dessa que os islandeses conseguiram um apuramento histórico - dois, até -, mas foi logo depois. O apuramento para o Europeu de 2016 chegou - Halldórsson destacou-se, por exemplo, no empate a uma bola com Portugal e na por todos imprevista eliminação de Inglaterra -, o apuramento para este Mundial chegou... e enquanto defendia com sucesso as redes da sua seleção, Halldórsson ia explorando a paixão da realização.

A nova vida atrás da lente
Tudo começou quando Halldórsson, então com 14 anos, deslocou um ombro a fazer snowboard. Ao longo de vários anos, tentou continuar no caminho para a profissionalização nas camadas jovens do KR Reykjavík, mas os problemas no ombro iam-se repetindo e o jovem guardião teve então de ser operado. No meio de tudo isto, o guarda-redes islandês tinha encontrado uma forma de ocupar o tempo sempre que jogar futebol não era possível: realizar pequenos filmes, anúncios publicitários, vídeo-clips, o que surgisse.
«Passei a minha juventude a fazer curtas. Dos 16 aos 20 anos, estive completamente dedicado a isso».
Hannes demonstrava talento atrás da câmara, mas o pai, que havia tentado ser guarda-redes profissional e desistido aos 19 anos, encorajou-o a não fazer o mesmo. Halldórsson, filho, encontrou espaço no Leiknir Reykjavík, uma equipa mais modesta da região em que cresceu, e retomou o caminho para a profissionalização, ou pelo menos a profissionalização possível num país com pouco mais de 300 mil habitantes e onde a esmagadora maioria dos futebolistas junta ao desporto um outro ofício.
No futebol, conseguiu relativo sucesso e acabou por encontrar espaço nos mais competitivos campeonatos norueguês e dinamarquês, contando ainda com uma passagem pelos holandeses do NEC. Atrás das câmaras, teve como primeiro ponto alto a realização do vídeo da canção candidata da Islândia à Eurovisão de 2012.
Poucos dias antes do arranque deste Campeonato do Mundo, e poucos dias antes deste duelo contra Lionel Messi e companhia, o gigante que é a Coca Cola divulgou um anúncio produzido na (e para a) Islândia, com as célebras palmas dos adeptos e jogadores islandeses a serem o ponto de partida para a criatividade. O autor? Hannes Halldórsson, precisamente.
Foi o melhor em campo neste jogo entre Argentina e Islândia, considerou a FIFA, e tem ainda todo um torneio pela frente na Rússia. A Islândia voltou a mostrar no primeiro jogo que pode bem fazer sensação, Halldórsson mostrou que aos 34 anos pode voltar a ser figura. O futuro? Passará sempre pelo cinema, parece inevitável.
Not all heroes wear capes. Some wear gloves.
— FIFA World Cup 🏆 (@FIFAWorldCup) 16 de junho de 2018
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