O sabor é de injustiça para o comum português que se recorda daquele 4 de julho de 2004. Se de um filme se tratasse, o seu final não faria qualquer sentido, porque Portugal estava destinado a ganhar o Europeu que tão bem organizou.
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Só que Charisteas tinha outros planos. O número 9 fez o que tinha a fazer e claro que não é vilão nesta história, mas, aos olhos portugueses, escolheu de forma errada a película para ser ator principal.
Quase como se Charisteas não tivesse visto aquela envolvência, aquelas bandeiras nas janelas de norte a sul, aquelas concentrações de milhares nas várias cidades junto a um ecrã gigante, aquele burburinho nas ruas, aquele cantarolar automático da «Força» de Nelly Furtado, aquele cordão humano de Alcochete à Luz.

Quase como se Charisteas não tivesse percebido o especial e inédito momento de junção da Geração de Ouro com Cristiano Ronaldo e com os portistas europeus de Mourinho, numa demonstração de que tudo se alinhava para que Portugal tivesse o seu momento mais alto de glória no futebol.
Claro que Charisteas percebeu isso tudo, ou pelo menos grande parte desses pontos. Mas não se encolheu. Esticou o pescoço, antecipou-se a Costinha e Carvalho, aproveitou a saída de Ricardo e alvejou a rede nacional. Aos 57 minutos, colocou a Grécia em vantagem na final da Luz. Depois, os de Scolari procuraram repor o sonho e os de Rehhagel trataram de consolidar o pesadelo.
No fim, Charisteas era o herói, intocável nos festejos, descontrolado nos sorrisos. Certamente deixou os gregos em êxtase, mas, por cá, era perfeitamente preferível que esse 9 a dar o título fosse Pauleta. Não foi, como não foram Figo, Rui Costa, Ronaldo, Deco e companhia. Por isso, olhar na máquina do tempo e ver o filme de há 13 anos continua a não fazer sentido. Estava mesmo mal escrito, perdoem-nos a opinião.